Capítulo 2

1.4K 66 4
                                    

Apenas  6 meses foram necessários para que tudo desmoronasse. Todos os anos de amor, carinho e compreensão desceram por um bueiro qualquer de rua. Como havíamos chegado a esse limite ? A essa rivalidade? Nós tínhamos compartilhado tanta coisas juntos. Construímos uma vida juntos. O casal perfeito. “Almas gêmeas“, era o que todos diziam ao nos ver. Eu só podia sorrir amarga diante daquela lembrança. A verdade era que eu e Alfonso não tínhamos nada em comum e só agora eu conseguia enxergar a realidade que o amor havia me cegado e me impedido de ver. Eu despertei dos meus pensamentos ao ouvir meu celular tocar. O cacei dentro de minha bolsa e após alguns segundos achei. 

- E então, conseguiu resolver dessa vez ? - escutei a voz doce do outro lado da linha que não me deixou, nem ao menos, responder um breve alô. 

- Você quer a verdade ou uma mentira doce para te deixar mais tranqüila ? 

- Não é possível, Anahí ! Já é a quarta vez que se encontram para essa maldita conciliação e é assim que acaba !

- Eu não tenho culpa, Maite ! Você diz como se eu realmente quisesse estar nessa posição! 

- E não quer ? Eu tenho minhas dúvidas. Como podem se odiarem tanto e brigarem dessa forma em apenas 6 meses? 

- Você sabe os meus motivos... - eu falei mais baixo. Ela sabia. Era minha melhor amiga, minha confidente e mais do que isso, era como uma irmã. A única que realmente entendia todos os motivos. Eu a ouvi suspirar. 

- Eu sei, amiga. Mas isso não ajuda em nada. Você e Poncho deveriam ao menos se tratar civilizadamente. Vocês são obrigados a conviver, se viverem em pé de guerra será um inferno a vida de vocês. E além do mais o casamento está chegando... - eu revirei os olhos

- Por favor, não me lembre isso. É demais depois de um dia tão estressante como esse. 

- Tudo bem, não vamos falar disso agora. A onde você está ? 

- Eu passei no parque para esfriar a cabeça um pouco, mas logo já estarei em casa. 

- O que acha de sairmos para jantar hoje? Assim, esquece um pouco os problemas. - eu suspirei

- Acho que é uma boa idéia. Te busco às oito, combinado ? 

- Fechado. Um beijo, querida. E tente não fumar! Lembre que “o cigarro não é sua válvula de escape” - eu revirei os olhos. Maite e suas frases de cartaz de metrô.

- ok, senhorita saúde. Beijos. - finalmente eu desliguei e joguei o telefone dentro da bolsa de novo. Esse maldito casamento, ela tinha que lembrar. Se  já não fosse demais ter que suportar aquele homem na minha vida com todos os problemas que ele me causava, eu ainda teria que ser madrinha de casamento ao seu lado no altar. Mais uma vez em um altar. O que eu não faria por minha melhor amiga? Eu acabei cedendo, afinal de contas quando ela e Christian nos chamaram para padrinhos nós ainda éramos casados e felizes, eles não tinham culpa afinal. Eu levei o cigarro a boca, sim, é óbvio que estava fumando. Eu tinha ido ali para me acalmar, certo ? Era só o que me faltava, como uma praga de Maite, ele tinha se apagado. Prontamente peguei outro na bolsa e o levei a boca, comecei a caçar o isqueiro que devia estar jogado em algum canto, como todas as minhas coisas perdidas dentro da minha bolsa bagunçada. 

- Merda... - resmunguei enquanto ainda procurava, foi então que vi uma pequena chama acender a minha frente. 

- Posso ? - eu levantei a minha cabeça e então revirei os olhos e tirei o cigarro da boca. 

- Eu prefiro não fumar... - sorri cinicamente - obrigada, cavalheiro. 

- Vamos lá, Anahí. Chegamos a um ponto em que nem mesmo posso me oferecer para acender seu cigarro ? - ele me encarava de pé, enquanto eu ainda permanecia sentada. Eu bufei levemente e coloquei o cigarro na boca de novo, ele então aproximou o isqueiro e o acendeu para mim. Eu puxei levemente para acende-lo e então, depois de alguns segundos a fumaça já saia de minha boca. Ele guardou o isqueiro no bolso e se sentou ao meu lado. 

- O que está fazendo aqui, Alfonso ? O show no escritório não foi suficiente para você ? Prefere um com um público maior ? - eu encarava minha frente, não queria e não poderia encarar seus olhos. 

- Vim atrás de você. Sabia que estaria aqui. Sempre que esta estressada você vem ao parque mais próximo para se acalmar e bem, hoje em dia...para fumar. - eu o olhei com raiva

- Tem algo contra , por um acaso ? - a raiva saia de minha voz naturalmente

- Isso te faz mal...

- O que você está falando seu hipócrita ? Você também fuma ! - ele me olhou de forma superior, eu odiava aquele olhar

- Sou mais forte. Agüento as conseqüências em relação a minha saúde  melhor que você. Você sabe o quanto é frágil... - eu abri minha boca em sinal de choque e indignação. 

- Você me seguiu até aqui para me falar essas besteiras, é isso mesmo ? Não é possível...- eu coloquei minha bolsa no ombro e me levantei, foi então que o senti segurar minha mão e me puxar. 

- Espera ! Eu vim aqui para falar com você. Você pode se sentar um pouco? Prometo que será rápido. - eu revirei os olhos.

- Prefiro ficar de pé. Pode falar... - ele bufou e então se levantou também. Ele era muito mais alto que eu, e eu tinha certeza que adorava isso. O fazia se sentir superior. 

- Anahí, nós não podemos continuar nisso. Vivendo esse inferno. Temos que ser mais racionais. Nós trabalhamos na mesma empresa. Seremos padrinhos de casamento dos nossos melhores amigos, por deus ! Mesmo que odiemos isso, nós somos obrigados a conviver.  - eu cruzei os braços 

- Você devia ter pensado nisso antes de me trair com uma vagabunda qualquer, Alfonso ! 

- De novo com essa história ! Eu não te trai sua louca, eu sinceramente não vou voltar nessa história. Acredite no que quiser. Ao contrário de você, eu tenho caráter. 

- Você é um estúpido ! Isso que você é! Como pode falar que eu não tenho caráter ? 

- Não fui eu que dei pro estagiário da empresa em que trabalho, Anahí. - eu não pensei duas vezes. Minha mão foi parar em seu lindo e esculpido rosto.

- Não fale coisas que você não sabe ! - ele passou a mão no próprio rosto e então me encarou. Ele pegou em meu pulso e me puxou.

- Eu já não te disse pra nunca mais encostar em mim ? - sua outra mão pegou em meu braço. Eu enruguei o nariz em sinal de dor.

- Você está me machucando, me solta... - ele então me puxou mais e seu corpo encostou no meu. Suas mãos me apertavam com uma força brutal enquanto meu corpo sofria o choque elétrico de se encontrar com o dele. 

- Você tem que parar com essa mania de me dar tapas, Anahí...estou te avisando. 

- E você com essa mania de me insultar! Eu não tenho medo de você, Alfonso ! - eu encarei seus olhos com firmeza, esquecendo qualquer coisa que meu corpo poderia estar sentindo. 

- Eu sei que não... - sua voz saiu rouca. Seu rosto estava muito próximo do meu. Nossas respirações se misturavam. - sabe o que eu acho uma pena, Anahí ? - ele falou após alguns segundos me encarando. Eu permaneci calada. - eu acho uma pena uma beleza tão grande ser desperdiçada em uma mulher tão mesquinha como você... 

- Me solta, seu babaca ! - eu então consegui o empurrar e me livrar de suas mãos - e sabe o que EU acho uma pena, Alfonso ? Você ter se tornado essa pessoa tão desprezível. E chega disso, entenda... Nós nunca mais vamos conseguir nos suportar, Alfonso ! Eu te odeio ! - eu gritei as ultimas palavras. Eu precisava por isso pra fora, mesmo que não fosse verdade. Eu precisava reafirmar pra mim que o que eu sentia por aquele homem era ódio. 

- Não, Anahí. EU te odeio ! E se é assim que quer viver, tudo bem. Bem vinda ao inferno... - eu o olhei com raiva

- Eu  já estou nele há pelo menos  seis meses, Alfonso. Nada é novidade pra mim, querido. E agora se me dá licença, eu tenho mais o que fazer - e eu virei de costas e caminhei com firmeza, mesmo que minhas pernas não quisessem exatamente obedecer a esse comando. Até quando eu passaria por isso? Por deus, ou melhor... Pro diabo, tudo ! 

Até logo...Where stories live. Discover now