Capítulo 7

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Ouvi duas batidas em minha porta e nem assim consegui tirar os olhos da tela de computador. 

- Chefa suprema, posso entrar? - eu sorri com aquele apelido e revirei os olhos. 

- Mick, quantas vezes já te disse para não me chamar assim? E sim, pode entrar.

- Eu acho bem coerente e imponente. - eu ri e o vi sentar-se na cadeira em frente a minha mesa. - está muito ocupada? 

- Me diga quando não estou ocupada e te darei um aumento. - Ele riu e eu então parei de digitar e o encarei. - estou toda a ouvidos. Fale...

- Eu estou enlouquecendo com essa falta de proteína no meu organismo. Não ria, é sério ! - eu o encarava com um olhar divertido e realmente estava a ponto de rir com o seu drama diário - eu não sei a onde fui arrumar um louco vegetariano! 

- Não sei por que está reclamando, quem mentiu dizendo que era vegetariano também foi você, benzinho. Lide com isso. - eu pisquei pra ele

- O que eu poderia fazer? Ele era um gato e ficou falando 20 minutos sobre o Green Peace ou sei lá mais o que! Como poderia no final dizer : “hey, o que acha de ir comigo comer um super cheese bacon duplo no fast food ali da esquina?” - eu cai na gargalhada com aquele comentário. Não importava o quanto eu estava estressada, Mick sempre me fazia rir com suas histórias hilárias. - então, no final das contas, eu vim aqui, te suplicar, para ir almoçar comigo! Eu pago o seu steak,chefe! Um bem suculento no restaurante do Angus, o que acha? - eu então diminui meu sorriso um pouco.

- Você sabe o quanto adoraria isso, mas acho melhor não... - ele então revirou os olhos entediado.

- Anahí, se me disser que é por causa de Alfonso mais uma vez, juro que peço minha demissão agora. - eu dei de ombros meio envergonhada

- Então acho melhor ficar quieta, não quero perder meu melhor secretário e meu amigo também... - eu sorri tímida e ele bufou se jogando na cadeira. 

- Isso é inacreditável! Como ele ainda pode ser obcecado com a história de que transamos ou tivemos qualquer tipo de caso sórdido? Qual o problema desse homem? Ele é cego ou o quê?! Você tem que me deixar falar com ele, porque isso é...

- Não ! Mick, nenhuma palavra ! Se ele não me ouviu quando deveria não será agora que voltarei nessa história. Ele que pense o que quiser...- eu suspirei.

Sim, Mick era um dos motivos de nossa separação, pelo menos na cabeça de Alfonso. Assim que o contratei ele era um rapaz exemplar e estava sempre ao meu dispor mostrando serviço, mas durante um tempo tudo começou a sair do lugar e eu estranhei seu comportamento. Quando percebi, eu tinha me envolvido em sua história. Mick se descobrira gay ainda adolescente, mas nunca havia revelado ao seu pai. Um belo dia ele foi descoberto e na mesma hora expulso de casa. Sua mãe apanhava do próprio marido e por isso não o pode defender. Certo dia, quando insisti no assunto, ele me contou tudo e eu não me permiti deixar que ele sofresse ainda mais. O ajudei como pude e passei a me aproximar cada dia mais dele. Era um rapaz de ouro e extremamente encantador com seu senso de humor e seu jeito alegre de ver a vida, além, é claro, de um excelente secretário. 

Mas, meu marido, na época, não achou isso. Na verdade, ele nunca me perguntou sobre Mick. Ele tirou suas próprias conclusões. Certa vez, fui visitar com Mick um apartamento para ele morar ali perto do edifício em que trabalhávamos e Alfonso me viu saindo do prédio com ele. Foi a gota d’água. A cereja do nosso bolo solado feito durante esses seis meses da queda do nosso casamento. Eu tentei me explicar de todas as formas, mas Alfonso ignorou qualquer palavra que saíra da minha boca. Quando disse que Mick era gay, Alfonso pegou as chaves de seu carro e saiu em disparada sem olhar pra trás. Chegou na manhã seguinte, fedendo a bebida e perfume barato. Eu chorei em silêncio enquanto o via entrar no banheiro para tomar banho sem perceber que eu estava acordada. Na verdade, em nenhum momento eu havia dormido. Foi naquele dia que decidi que já não suportaria mais aquilo. A separação era o melhor caminho. Não tornei a tentar me explicar nem mais uma vez. De qualquer forma, ele já não merecia mais qualquer explicação vinda de mim.  

- Você quem sabe. Só acho uma pena tudo isso... Ainda acredito que a separação de vocês sempre beirou um grande mal entendido de ambas as partes - eu o encarei, saindo do meu transe e o escutando - mas quem sou eu para falar algo. Você sabe que sempre ficarei ao seu lado, independente das suas escolhas. Você é meu anjo da guarda - eu sorri tristemente, mas agradecida a ele pelas palavras. Ele sorriu docemente, como sempre fez e faz para acalmar meu coração - Vou deixar você trabalhar...- ele ia se levantar da cadeira quando tive uma ideia.

- Bom, eu disse que era melhor não sairmos pra comer, mas...o que nos impede de pedir para Angus vir entregar uns suculentos steaks aqui no escritório, hein? - seus olhos brilharam de imediato e eu sorri. 

- Chefa suprema, você é a melhor! Já te disse isso hoje? 

- Ainda não, mas realmente não me incomodaria de ouvir.. - ele riu

- A melhor das melhores ! Volto em alguns minutos ! Estou faminto ! - ele saiu em disparada, mas se virou ao lembrar - não nos prive do refrigerante, por favor... - ele fez um olhar pidão e eu revirei os olhos e assenti - a melhor das melhores ! - ele voltou a repetir e então saiu em disparada e eu continuei sorrindo. Um grande mal entendido...essa frase ficou em minha cabeça por alguns segundos, mas logo foi deixada de lado para que eu pudesse me concentrar mais uma vez em meu trabalho.

Até logo...Where stories live. Discover now