Capítulo 35

886 52 16
                                    


Passei pela sala de estar e reparei no apartamento brevemente. Era um flat simples, caro, sóbrio e sem muitos móveis ou algo que dissesse que Alfonso morava ali. Aquele lugar não se parecia com ele. Ele adorava tanto quanto eu nossas fotos espalhadas pela casa. Adorava sua coleção de discos antigos que eu não via em lugar algum daquele lugar. O flat parecia apenas um lugar de passagem.

Eu precisava de um café urgente. Minha cabeça estava girando e a ressaca me atingindo. Junto com todos os pensamentos e as constatações que estava tendo naquele momento. Deixei minhas coisas no banco que ficava perto da bancada da cozinha americana e comecei a preparar um café. Não foi difícil achar tudo o que precisava.

Eu tomaria uma boa xícara de café e então iria embora. Nos finais de semana Alfonso não acordava antes das 9h se ele ainda mantivesse esse hábito. Olhei no relógio e eram 8 horas da manhã.

Talvez eu devesse deixar um bilhete. Encostei-me à bancada com minha caneca fumegante de café, prendi mais uma vez meu coque frouxo e comecei a pensar no que escreveria para ele.

"Tive uma emergência e precisei ir embora. Anahí"

Ele não precisava saber que minha emergência era não encontrar com ele porque não saberia o que dizer. Eu era uma covarde, isso sim. Mas se...

- Bom dia

Eu desencostei na bancada e parei de beber meu café imediatamente ao ouvir aquela voz.

Olhei para frente e vi Alfonso, com seus quase 1,90, encostado na parede me olhando. Com seu rosto de sono, seu peito completamente nu e sua calça de moletom caindo em seus quadris, ele me encarava deliberadamente.

Eu quase gaguejei ao responder

- Bom dia

E o silêncio pairou. Eu não sabia como agir. Aquilo era constrangedor demais. Eu meenei a cabeça para espantar os pensamentos. Eu fui casada com esse homem por 5 anos e meio. Tínhamos um relacionamento de quase 8 anos somando tudo. Não podíamos agir como estranhos assim. Era ridículo isso.

- Você ia embora sem se despedir?

Ele olhou para o banco com minhas coisas e depois olhou para mim

- Eu ia deixar um bilhete.

- Entendo.

Seu olhar pareceu triste, mas poderia ser só impressão minha. De qualquer forma, me senti um pouco culpada por conta do meu planejamento de fuga

- Eu fiz café. Tudo bem?

- Posso beber um pouco?

Ele me respondeu com outra pergunta e eu prontamente peguei outra xícara para servir o café para ele. Sem açúcar, com um pouco de leite, eu me lembrei. Eu o vi se aproximar da bancada e se sentar no pequeno banco. Assim que terminei de preparar entreguei pra ele a caneca.

- Então...- eu comecei a falar e parei para tomar mais um gole do meu café

- Então... – nós ficamos nos encarando com a bancada nos separando. – vamos falar sobre o que aconteceu ou não?

- Eu acho que não temos muito o que falar. Você se arrependeu?

Eu não queria saber a resposta, mas ao mesmo tempo queria. Porque eu não havia me arrependido, mas e se ele tivesse?

Ele se levantou de onde estava e deu a volta na bancada parando em minha frente. Antes de responder me olhou dos pés a cabeça e reparou na roupa que eu estava usando. Ele sorriu. E eu sorri.

- Me deixa te dar um beijo – ele se aproximou de mim e falou bem baixo, eu mal poderia escutar se não estivéssemos só nos dois em meio aquele flat quase vazio.

Eu então levantei a cabeça para facilitar o seu acesso e para lhe dar permissão. Eu era muito mais baixa que Alfonso e ele precisava se curvar para tocar meus lábios. E foi o que ele fez sem hesitar. Tocou meus lábios com o dele. Suas mãos tocaram minha cintura e as minhas foram parar em sua nuca. Um beijo lento iniciou-se e com aquele gesto ele respondeu a minha pergunta. Não, nós não havíamos nos arrependido em nenhum momento.


Até logo...Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt