Capítulo 11

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- Você foi fabricar as cervejas? - Dulce perguntou enquanto eu a entregava sua garrafa

- Que engraçadinha! Queria ter visto você lá! No meio daquela confusão toda... - eu terminei de entregar as garrafas para as duas e então, finalmente consegui beber um pouco da minha. 

- Você nem está com uma cara tão ruim assim...diz logo, o que aconteceu nesses vinte minutos do seu desaparecimento? - eu abri um sorriso maior ao ouvir a pergunta de Maite. Elas me conheciam perfeitamente bem e era sempre impossível esconder algo, ainda mais de Maite, a senhora “sabe tudo”.

- Bem, eu acho que conheci um cara... 

- O que? Você não pode ficar um minuto sozinha e então já arruma alguém, Anahí ?! Você é uma vadia, mesmo... - eu ri e empurrei Maite com o ombro

- E aí? Como ele é? Conta logo tudo e para de suspense! 

- Não foi nada demais. Ele puxou assunto e eu continuei, porque sinceramente, ele era lindo. Espera ! Olha ele ali... O de camisa social preta...- eu apontei com a cabeça para dentro do pub que era completamente envidraçado e portanto dava para ver todo seu interior. Ele estava em uma mesa cercado de amigos, em um canto, bebendo e rindo. 

- Uau! Ele não é lindo, é um semi deus ! Como você arruma esses homens, posso saber? - eu revirei os olhos com o comentário de Dulce

- Dul, eu não arrumei ninguém. Conversamos por 5 minutos e mais nada...

- Só não entendi uma coisa... - eu então encarei Maite - loiro ? É uma grande mudança... - Maite caiu na gargalhada com seu próprio comentário

- Vocês podem parar, por favor? Estão falando como se eu fosse casar com o cara! - eu bebi mais um gole

- Bom, na verdade... Achamos melhor você ficar fora de casamentos por um tempo, não é? - Maite disse e então as duas se olharam e riram. Eu bufei

- Vocês são insuportáveis ! - foi então que o meu olhar se cruzou com o de Ryan que estava do lado de dentro. Ele sorriu abertamente e então levantou a cerveja como se fizesse um brinde, eu sorri também, um pouco sem graça por o estar encarando e fiz o mesmo e então tratei de desviar o olhar rapidamente. Maite e Dulce já estavam conversando animadamente quando voltei minha atenção pra elas. 

- Ei, vocês nem me contaram como foi a prova de bolos... - Dulce comentou

- Foi ótima, tirando a parte que Anahí quase faliu a confeitaria e... - e então Maite parou de falar e encarou Dulce. As duas arregalaram os olhos e eu estranhei.

- Tudo bem, o que há de errado? Para Maite parar de falar sobre minha obsessão por açúcar deve ter acontecido algo de muito sério... - eu revirei os olhos e bebi. As duas piscaram mais rápido e voltaram a atenção pra mim.

- Sabe o que eu acho? Eu acho que esse lugar está muito caído... - Dulce falou me olhando

- E além do mais, eu estou morrendo de fome...por que não vamos comer alguma coisa? - Maite completou e na mesma hora eu estranhei aquela situação. Elas se entreolharam

- Nós acabamos de chegar ! Vocês só podem estar de brincadeira...o que foi? O que vocês... - e então eu acompanhei o olhar delas e me virei. Talvez fosse melhor eu não ter me virado e visto o que estava deixando minhas amigas tão estranhas de uma hora para outra.  

E então meu olhar se prendeu naquele homem alto, moreno, com a camisa impecavelmente branca e sua gravata verde escura que combinava perfeitamente com seus olhos oliva, sorrindo distraidamente em uma roda de amigos e tirando a minha sanidade no mesmo momento em que os meus olhos o viram. 

- Eu não acredito que Alfonso está aqui... - eu falei de forma baixa e me lembrei de piscar. 

- Amiga, vamos embora... A gente saiu pra se divertir hoje e tenho certeza que se vocês dois se esbarrarem não vamos ter absolutamente nada de diversão. - Maite falou encostando em meu braço. Eu não conseguia parar de encará-lo.

Ele estava tão tranqüilo e relaxado que mal pude reconhecê-lo. Há muito tempo não via Alfonso assim. Pelo menos não perto de mim e essa percepção doeu em meu coração no mesmo instante. 

- Tudo bem. Vocês estão certas...- eu me virei de costas para onde ele estava e encarei as duas -eu vou só ao banheiro e nós vamos pra outro pub. - elas assentiram e eu parti pra dentro do local lotado.

Em milhares de pubs existentes em Londres, Alfonso escolhera o mesmo que eu. O que era isso? Algum tipo de punição divina? Eu revirei os olhos e entrei na fila do banheiro que já se estendia pelo corredor do lado de fora do local.

Dali eu conseguia ver perfeitamente a vidraça lisa e transparente que dividia a parte de fora da de dentro. Eu tentava tirar meus olhos de Alfonso, mas era impossível. Ele era um homem ridiculamente lindo e isso eu nunca poderia negar. Alfonso também não era de Londres assim como eu. Ele nascera na Espanha, país de sua família, e veio para Inglaterra para cursar a faculdade. Seus traços latinos sempre o destacaram por completo e apesar do seu idioma perfeito, ainda dava para notar o leve sotaque em suas palavras e isso sempre deixou as mulheres ao seu redor completamente enlouquecidas por aquele homem moreno com ar perigoso e sangue quente.  

Ele estava cercado por algumas pessoas do escritório que eu reconhecia. Jorge, Fred, Suzanne e a aquela cobra venenosa: Megan. Seus cabelos loiramente falsos iam quase até sua cintura. Ela era alta, magra, com pernas longas, uma pele que parecia nunca ter visto o sol e mesmo que seus olhos fossem verdes eles pareciam tão escuros como de uma vilã de filmes da Disney. Infelizmente, ela era realmente bonita e para o meu azar, secretária de Alfonso. Um dos motivos de minha separação, talvez. Eu nunca engoli aquela mulher. Desde quando foi contratada para trabalhar com ele, ela nunca negou seu interesse por Alfonso.

E parecia que cada vez que se deparava comigo, ela fazia questão de atenuar sua performance teatral para ele. Alfonso nunca enxergou nela o que eu enxergava. A maldade e a falsidade trasbordam dessa mulher e eu sempre tive certeza que se eu piscasse os olhos ela deixaria seu veneno escorrer e Alfonso mergulharia nele. O que aconteceu foi que eu pisquei. E era disso que ela precisava.

Agora tudo se resumia a Alfonso em um pub com sua secretária que não parava de tocar seu braço e flertar com ele, enquanto sua ex mulher se amargurava vendo a cena enquanto esperava na fila de um banheiro lotado. Eu ri amargamente sozinha. Do que adiantava toda a produção para essa noite, tudo o que tinha decidido fazer se no final, Alfonso, apenas com sua presença, conseguia me fazer sentir a pior dar mulheres? Eu meneei a cabeça e então soltei o ar dos meus pulmões. Eu precisava sair dali. Eu estava enganada afinal de contas.

Eu não conseguia ainda dar a volta por cima. Ainda era cedo demais pra isso. 

Até logo...Where stories live. Discover now