Capítulo 32

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Era uma mistura de luzes, corpos e sons que me envolviam, mas mesmo assim, consegui me locomover com certo sucesso. Eu já estava quase chegando ao banheiro quando me deparei com a cena: Alfonso conversando com uma mulher alta e loira.

Deixe-me reformular: Alfonso quase em cima de uma mulher alta e loira que usava um vestido que, para mim, era considerado roupa de praia.

Eu tive que semicerrar os olhos, ou eu estava muito bêbada e minha cabeça estava me traindo ou aquele cretino estava dando em cima de alguma mulher qualquer na boate.

Quanta prepotência! Ele poderia arrumar um sexo qualquer de uma noite, mas eu? Nem pensar, pois ele fizera questão de arruinar.

Levei menos de um minuto para pensar em tudo antes de agir. Respirei fundo e fui em direção a aquela cena. Ele estava de costas para mim, encostando sutilmente a loira com roupa de banho na parede. Eu, ao contrário, fiz questão de me aproximar nada sutilmente.

- Ai está você, querido! – abri o maior sorriso do mundo no mesmo instante em que ele parou de falar e me olhou espantado.

- Anahí – ele disse meu nome apenas uma vez

- Alfonso – eu retribuí com o meu sorriso mais cínico do mundo. Ele se afastou da mulher. Ela não me era estranha. Eu a conhecia de algum lugar.

- Essa é a Suzan. Ela trabalha lá no escritório. – Ele me explicou, enquanto a mulher abria um sorriso e estendia a mão para mim.

Eu olhei para a mão dela. Olhei para o semivestido. Olhei para Alfonso. E decidi simplesmente ignorar os dois.

- Suzan, não é? Eu sabia que não esqueceria um rosto como o seu. E muito menos Alfonso esqueceria. Não é mesmo, querido? – eu o encarei. Ele estava preocupado. Ele sabia que eu estava bêbada. E quando eu bebia...

- Isso é um elogio? – aquela voz meio estridente saiu dos lábios pintados de vermelho. Ela parecia realmente curiosa.

- Bem, vamos deixar no ar, não é mesmo? – eu sorri

Ela olhou pra mim estranhando um pouco, mas devo dizer que ou aquela mulher era muito perdida ou, então, desprovida de qualquer inteligência.

- Do que vocês estavam falando mesmo? Aposto que Alfonso estava contando como ele ainda é casado comigo. E como é fiel também! Ah... ele adora contar isso pra todo mundo, não é, benzinho? – Eu peguei no rosto dele e apertei, enquanto ele tentava se afastar.

- Na verdade, Poncho estava me oferecendo uma bebida e...

- É mesmo? Ele é um cavalheiro mesmo! Fico muito orgulhosa de ter um marido tão educado assim! – eu a cortei no meio da frase – Mas, bom, acho que você é capaz de pegar sua bebida sozinha, não é, Suzan? Sejamos sinceros: o quê o pessoal do escritório pensaria de uma funcionária que tem que pedir a um homem casado para pegar uma bebida pra ela porque nem isso ela tem a capacidade de fazer sozinha!

- Anahí! Acho que já acabou de falar – Foi a primeira vez que ouvi a voz de Alfonso em meio aquela conversa.

- Pois saiba que eu nem comecei!

- Eu vou indo... – ouvi Suzan começar uma frase

Eu sorri e, novamente, a interrompi antes mesmo que terminasse sua fala.

- Já devia ter ido, Suzan! Ou você quer que eu jogue um biscoitinho pra você ir buscar? Vai buscar sua bebida, vai! Boa menina, boa menina – eu bati em sua cabeça como alguém faz com um cachorro. Na mesma hora Alfonso pegou minha mão e tirou e imediantemente eu tive uma crise de riso, enquanto via uma Suzan, ainda sem entender nada, se afastar de onde estávamos.

- Está achando engraçado, não é?

Eu simplesmente não parava de rir.

- Engraçado? Eu estou achando hilário. Vamos lá, cadê o seu senso de humor? Aposto que você se divertiu muito quando enxotou o cara que eu estava conversando umas horas atrás.

- Então é isso. Vingança.

Eu o encarei e bufei diante do seu comentário.

- Por favor, Alfonso. Você acha mesmo que eu me daria ao trabalho de me vingar de você? Isso aqui foi só por diversão e para você aprender a não se intrometer onde não é chamado.

Foi então que ele abriu um sorriso. Um sorriso cheio de dentes e completamente prepotente e convencido.

- Já entendi. Então é ciúme mesmo.

- Não seja ridículo, Alfonso ! Eu? Com ciúme?

Cretino. Arrogante. Prepotente. E certo. Eu estava morrendo de ciúme dele. Eu estava bêbada e não conseguia controlar meus sentimentos.

- Você fica linda toda ciumenta.

O sorriso não saia de seu rosto e aquilo me irritava cada vez mais.

- Você quer saber? Quer saber mesmo? Vai pro inferno! – eu gritei em meio a musica alta daquele lugar e me virei para tentar sair daquela confusão de pessoas que se formavam em volta de nós dois.

- Eu não vou pro inferno, vou atrás da Suzan – No mesmo momento em que ouvi ele falar isso, me virei abrutamente para aquele cretino arrogante

- Tudo bem, e eu vou atrás do cara que você espantou! – O sorriso do rosto dele desapareceu no mesmo instante

- não vai!

- Eu vou!

- Então, combinado. Vamos os dois.

- Vamos!

E aí eu não me lembro como. Eu não me lembro em que momento. Eu não me lembro de mais nada. Só lembro que eu e Alfonso estávamos nos beijando como nunca havíamos nos beijado antes. Tínhamos fome um do outro. Estávamos bêbados, entregues e absolutamente conectados naquele instante em meio ao caos que nos rodeava.


Até logo...Where stories live. Discover now