Na humildade

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Seungkwan dirigia tarde da noite contando com a sorte que já tinha provado não ter. Ficou até mais tarde do que devia estudando com uns veteranos na biblioteca da faculdade - porque pasmem, agora estava se enturmando - e agora fazia algumas corridas para pelo menos dizer que ganhou alguma coisa.

Esteve mandando currículos de novo ultimamente, porque não estava fácil, e já tinha uma entrevista marcada. Era comecinho de março e esperava pelo menos terminar o semestre trabalhando.

Esperava que a humilhação diária iria passar depois que tivesse um emprego fixo, onde provavelmente vão lhe explorar até a cueca que usa e ser mais um escravo na corporação.

É, Seungkwan concordou bastante com o discurso do vilão de Stranger Things quando assistiu. Não aguentava mais essa vida de adulto, e olhe que ainda podia ser pior.

Terminou de comer o salgadinho que abriu e uma mensagem no aplicativo brilhou na tela.

Na moral cara ta eu e meu
amg aq esperando, um monte
de uber ja cancelou não
cancela pfvr

Vc ta no seu corre nunca q
a gnt iria te atrasar nessa,
ja to bolado ja

To morrendo de fome, n
cancela pfvr

To de boné branco vem na
humildade, na moralzinha

Eu ja to indo kkkkk rlx,
não vou cancelar
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Seungkwan riu ao ler as mensagens, se sentiu melhor por não ser o único se humilhando, mas logo se sentiu mal por rir e entendia o desespero de querer ir para casa.

Quando checou o endereço não lembrou de nada exatamente, mas sabia que já havia ido para aqueles cantos. Não lhe era estranho as coordenadas e os pontos de referência. Rezou para os deuses da gasolina e dos protetores de motoristas de aplicativo e aceitou a corrida.

Foi até o shopping onde estavam lhe esperando e não passava nem sinal de wi-fi de tanto que trancou o furico quando um deles entrou do seu lado arrumando a camisa por cima da arma na cintura.

"Hoje eu morro e nem consegui brigar com Hansol por ele ter comido o último pedaço de pudim", pensou enquanto eles entravam no carro, um rapaz na faixa dos vinte anos usando uma camisa preta entrou atrás e outro que parecia mais velho, com uma camisa branca de time, ao seu lado.

ㅡ Boa noite ㅡ se fingiu de sonso e cego e os dois responderam o mesmo, educados.

Nem havia notado que o rádio estava ligado, dirigia tenso e seu estômago já fazia barulhos estranhos, tinha sérios problemas quando ficava nervoso. Segurava o volante firme, os dentes trincados, mas olhava para frente tentando fingir calmaria.

ㅡ Posso trocar a estação? ㅡ o rapaz ao seu lado perguntou, apontando para o rádio.

ㅡ Aham ㅡ a confirmação saiu numa voz mais fina que da sua sobrinha de seis anos e pigarreou para reforçar a voz mais grossa. ㅡ Pode sim.

ㅡ Você tá bem? ㅡ o homem do banco de trás perguntou, apoiando a mão em seu ombro e arqueou uma sobrancelha, lhe encarando pelo retrovisor. Seungkwan assentiu, sustentando um sorriso beirando desespero e diria algo, se não fosse a pequena fila de carros à sua frente lhe distraindo.

Havia uma blitz logo a seguir e os três homens sentiram suas vidas passarem na frente dos seus olhos.

Seungkwan fingiu naturalidade, ainda se fazendo de sonso, e percebeu que os outros dois que estavam tensos agora. Não fazia ideia do que eles fizeram ou irão fazer, mas ser pegos com uma arma na cintura no meio da madrugada não pegaria bem em nenhum contexto.

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