Quando o relógio bate às 2

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Era a primeira vez de Seungkwan no turno da madrugada. Estava com medo de trabalhar tarde de noite e sempre evitou, até não ter opção depois de ajudar a organizar a festa de sua sobrinha e saiu logo para o serviço depois de deixar tudo da decoração na casa da irmã. Ou ao menos pensou ter deixado tudo.

Era estranho e sabia que era perigoso esse horário, justamente por não haver ninguém na rua, mas tentou se convencer de que não aconteceria nada e que nem teria muitos passageiros mesmo, logo poderia voltar para casa.

E, bem, teve poucos passageiros mesmo, mas os que teve foram o suficiente.

Moça, vc tá num cemitério?
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Sim, está muito longe?

Como assim moça
Oq tu tá fazendo aí esse horário?
Não vou não moça, eu hein
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Ue, e vai me deixar aqui?

Ele cogitou seriamente deixar ela lá. Mas novamente seu senso falou mais alto e ficou com medo de outra pessoa ir buscá-la com más intenções ou que ela ficasse moscando na rua àquela hora da noite. Mas isso não significa também que não estava com medo de ir no cemitério quase 2 horas da manhã. Sempre teve medo de fantasmas ou assombração desde que invadiu um cemitério aos dezesseis anos com os amigos e ouviram gritos sem ter ninguém por perto.

A cada minuto que ficava mais perto do local, mais estranho parecia. Como se estivesse ficando mais escuro, mais frio e Seungkwan sentia-se arrepiar. Abriu um chiclete e mascava freneticamente, como se isso contesse seu nervosismo e ansiedade, se distraiu pensando em como correria de um espírito ou do demônio se estava com dor nas coxas e na bunda de tanto ficar sentado.

Parou na porta do cemitério indicado no aplicativo e não viu ninguém. Estava completamente deserto e as poucas luzes iluminavam alguns trechos específicos da rua, deixando pontos cegos dos quais Seungkwan não notou a moça encostada na grade e nem ela o carro no final da rua. Ele olhou em volta e depois de achar ter visto uma sombra saindo do terreno cheio de defunto, se focou ali, achando ser a moça, mas a sombra estava parada, como se olhasse para si. Estava pronto para sair do carro e perguntar se ela era louca ou buzinar, mas a porta atrás de si fora aberta abruptamente e ele sentiu seu coração parar por um instante.

ㅡ PUTA QUE PARIU! ㅡ gritou e se virou com o celular na mão, pronto para usar como arma e quis enfiar a cabeça num buraco ao ver uma moça nova, de vestido preto, com os olhos inchados e vermelhos e, agora, assustada. — Ah, desculpa, você me assustou.

ㅡ O senhor está bem?! ㅡ ela estava tão assustada quanto ele e foi o momento mais estranho que teve com um motorista de aplicativo. 

ㅡ Eu achei que estivesse lá dentro. Ali ó, tem uma sombra ali ㅡ apontou e já estava pálido de novo ao apontar na direção onde havia visto o vulto e a sombra parecia estar mais perto agora, quase fora do cemitério ao lado do carro na calçada.

ㅡ Okay. Definitivamente eu não sou essa sombra, podemos ir embora antes que quem quer que seja venha até aqui, por favor? ㅡ agora sim ela estava com medo.

Seu lado racional tentava sobrepor o sentimento de desespero interno lembrando-a que pode ser qualquer coisa, mas quem disse que funcionaria?

Seungkwan nunca havia dirigido tão perigosamente antes, se sentia o próprio Dominic Toretto coreano enquanto corria pelas ruas desertas e a moça no banco de trás estava em choque, mas mais pelo o que quer que tenha sido o evento no cemitério do que com o possível acidente que a alta velocidade poderia causar.
Ambos com medo, ofegantes, pálidos e quase suando frio, chegaram no destino da cliente e ela o pagou, mas não se mexeu e ficaram parados por uns cinco minutos quietos.

ㅡ O-obrigada, eu acho ㅡ puxando o ar com força, como se estivesse puxando a coragem junto, saiu do carro de uma vez com as pernas bambas e assim que deu a volta quase quis enforcar o motorista quando notou a situação.

Bateu duas vezes na janela da frente do passageiro e assim que o vidro abaixou e o rapaz viu os dentes trincados da moça, quis se afundar no banco. ㅡ Moço, eu sei o que era a sombra.

ㅡ C-como? O que era? ㅡ Se tremia todo só de lembrar.

ㅡ Isso ㅡ puxou o fio entre os dedos com raiva e o balão grande da Barbie se fez presente na vista do Seungkwan. Ele não sabia se chorava ou ria. ㅡ Porra, toma essa merda, minha tia morreu e quase fui junto, puta merda.

Ela entregou o balão que seria da festa de sua sobrinha, que já até estava murchando, e saiu xingando até entrar no portão e Seungkwan não conseguir escutar mais. Ele encarou o objeto ao seu lado no banco e riu sozinho, aliviado, mas quis chorar pelo susto idiota que tomou e ainda por ter levado a pobre moça que estava triste junto.



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