Cimento pra rebocar sua cara de pau

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É por causa do Hansol, não é?

A simples pergunta resumiu um bom tempo de fofoca, mas Seungkwan não queria ter resumido daquela forma. Parecia ainda mais infantil colocar assim do que de fato o que sua mãe vinha fazendo.

 — Ela nunca fez isso com você ou com a Haneul, porque esse drama todo quando eu arrumo uma casa, um emprego, um namorado e começo um curso novo? É incrível como ela só arruma problemas pra resolver quando eu consigo alguma coisa pra mim — se sentia um pouco mal por falar isso, inclusive por falar da irmã do meio sem nem mesmo ela estar ali, mas não era mentira. 

— Não é assim também...

— Jura? — Seungkwan perguntou retoricamente, cruzando os braços. — Você esqueceu o drama que ela fez quando eu saí de casa? Ou quando eu tranquei o curso em 2019? E quando não fui no chá de cozinha de uma prima que a gente nem gosta porque estava com Hansol?

Jinseul pensou em teimar e tentar justificar com uma resposta racional todas essas coisas, mas não adiantaria nada e só arrumaria outra briga com o irmão. Decidiu continuar ouvindo, calada e assentindo.

"Eu entendo que eu seja o mais novo, que talvez tenha sido bem mais difícil me ver indo embora porque não tinha mais ninguém pra ficar em casa e ela ainda estava brigada com o papai, na época, mas não era minha culpa. Eu conversei tanto com ela sobre isso, mas ela quis continuar brigando comigo até eu ficar meses sem vir visitar ninguém. Só que já aconteceu tanta coisa e já faz tanto tempo que não entendo porque ela está assim agora. O que muda eu estar com Hansol ou não?"

Deixou o questionamento no ar, buscando qualquer resquício de resposta no silêncio e olhar cheio de empatia da mulher. Ela suspirou outra vez, bebeu o último gole da xícara de café, como se estivesse procurando algo para dizer também, e colocou as duas mãos sobre a mesa de madeira.

— Vou ser sincera com você: Ela está sozinha outra vez. Haneul foi embora com o papai quando eles se separaram e os dois saíram de casa de uma vez. Depois eu casei, mas ela me viu meses arrumando documentos, licenças da casa antiga e tudo mais, então ela já estava mais conformada. Depois que o papai morreu, a gente não largou dela por um bom tempo, mas todo mundo seguiu em frente e cada um está vivendo a vida, inclusive ela, mas você sempre aparecia sem ninguém, sabe? Acho que a cada vez que você vinha e contava como se sentia sozinho na cidade, era um pingo de esperança que ela tinha de você querer voltar.

— Eu quis voltar... Muitas vezes — era tão fácil admitir para a irmã mais velha que mal sentiu a primeira lágrima escorrer pela bochecha, mas logo a limpou e segurou o choro. — É óbvio que eu quis largar tudo no começo e vir embora, mas ninguém sai de casa pensando na volta.

— Ela sabia disso. Ela sabe. Mas, sei lá, é como se o Hansol fosse a última confirmação de que você vai se afastar ainda mais, sabe? Parece bem mais "oficial" — fez aspas com os dedos ao dizer, mas ainda não fazia sentido para Seungkwan. 

— Porra, mas faz quatro anos que moro sozinho. Por que ela tem que ser tão difícil? Orgulhosa, ela nunca conta nada e quando resolve pedir ajuda, age como se fosse uma obrigação nossa de estar sempre disponível e feliz — murmurou, brincando com a faca, rodando ela pelo cabo enquanto absorvia as palavras de Jinseul e a ouviu rir.

— Você também não é o mais fácil de lidar, sabia, Senhor Cabeça Quente? De onde acha que herdou a teimosia? — acusou com falso julgamento, ainda que falasse sério de forma brincalhona e dessa vez arrancou um sorriso do irmão. — Ela vai superar isso logo, talvez se ela conhecesse o Hansol melhor ajudaria... Mas, falando nisso, como estão? Sabe, você e ele?

Mudou o tópico da conversa com o típico tom de voz das tias mais velhas que perguntam "e os namoradinhos?" acompanhado de um sorrisinho ladino que fez Seungkwan resmungar e rir. — Não falamos dele ainda. Há quanto tempo estão juntos mesmo? Seis meses?

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