Capítulo XIII

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  O cascalho abaixo das rodas da carruagem fazia o assento de Samara dar pequenos solavancos enquanto ela se aproximava do Castelo de Boragna, novo lar de sua enteada.

O sol implacável lançava seus raios pelas frestas da janela e o ar quente misturado à poeira invadia o ambiente fechado. Ao seu lado, Lady Sales limpava discretamente o suor do buço com um lenço branco bordado com suas iniciais. Ela olhava pela janela enquanto as primeiras paredes do castelo apareciam no horizonte. À frente um imenso gramado de um quilômetro ladeado por imponentes árvores dispostas bem alinhadas. Ao fim, duas grandes esculturas de cervos guardavam a entrada.

O castelo se elevava em sua imensidão, com um arco recebendo a carruagem num túnel que as levou até o pátio interno onde Brenda as esperava. Elas desceram e foram recebidas com efusivas expressões de boas-vindas.

Após se instalarem, Samara não perdeu tempo e deu início ao assunto que a tinha levado a gastar energia e tempo numa viagem cansativa e desconfortável até lá.

─ Tenho assuntos importantes, Brenda. Onde está seu marido?

─ Está cavalgando como faz todas as tardes.

─ Ótimo. O que temos para tratar não pode ser ouvido por nenhuma alma. Certifique-se disso.

Brenda se sobressaltou, mas fez um sinal silencioso para a governanta e ela fechou a porta da saleta onde se encontravam e se retirou.

─ Fiquei muito feliz ao receber sua mensagem de que viria, disse Brenda, mas não achei que seria por uma urgência.

─ Pois sinto dizer que é. Lady Sales me trouxe uma informação que não pode ser ignorada e precisamos usar isso para tomar uma atitude.

─ Atitude quanto a quê?

─ Quanto ao príncipe, Brenda. Aquele homem irritante que tomou o lugar de seu marido e que você insistia em correr atrás como um cachorrinho!

─ Ah, de novo isso? Já não me fez sofrer o suficiente? E eu não estava certa? Agora que finalmente saí do palácio, me resignei com meu destino, você vem aqui desenterrar esse assunto?

─ Sim, eu sei que disse que não adiantava chorar o leite derramado, apesar de que Deus sabe que é bem isso o que só tenho feito, mas Brenda, podemos tirar o título dele. Podemos humilhá-lo e colocar Otávio em seu lugar.

─ Do que você está falando? Por que eu faria uma coisa dessas?

─ Para garantir ser a próxima rainha, Brenda. Para ser esposa do rei, mãe do príncipe herdeiro, para voltar para a corte e sair deste castelo agourento. Preste atenção. Ana, conte para ela.

Lady Sales respirou fundo e se ajeitou mais na beirada da poltrona onde estava sentada, empolgadíssima por ser a portadora de tão grande fofoca.

─ Duquesa, foi pura sorte. De repente a Viscondessa Muniz apareceu na corte pedindo para falar com ninguém menos que a Senhorita Durval, a empregada que veio de Rollinston com o príncipe para trabalhar na decoração do palácio e nas reformas da rainha. Fiquei desconfiada quando ela disse que eram amigas. Onde já se viu uma lady ser amiga de uma empregada? Depois que mostrei onde encontrar a empregada, fiquei vigiando e segui as duas. Ouvi a conversa toda. Estavam trocando confidências, imagina! Como boas amigas mesmo! Fiquei indignada! Mas o pior foi o assunto! Lady Muniz estava aconselhando a empregada sobre o príncipe! São amantes, duquesa. Ou melhor, eram, porque pelo que entendi o romance aparentemente acabou.

─ Espere, quem é amante de quem?

─ A empregada. Amante do príncipe.

─ De Henrique? Henrique com uma empregada? Mas não é possível!

A Lei e o destinoWhere stories live. Discover now