Capítulo XXVIII

56 4 1
                                    



O palácio real de Morabe abrigava moradores diferentes de vinte e poucos anos atrás. As paredes ainda estavam cheias de quadros com pinturas dos membros da família e os antigos reis e rainhas ainda estavam lá, retratados para a posteridade. Nos corredores era possível ver obras de arte misturadas a membros da família há muito falecidos. Entre esses, estava um quadro que retratava os atuais monarcas, que estavam vivos e habitavam aqueles cômodos. Bem no alto da escadaria principal que levava ao andar com os apartamentos e dormitórios, estava um retrato da família real. O rei, retratado na metade de seus trinta anos, era alto e belo, de ombros largos, grandes olhos azuis e maxilar forte. Apesar dos traços bonitos, a boca estava reta e os olhos frios e sem emoção. Ao seu lado, uma mulher sorridente, nariz pequeno e discreto, olhos negros e profundos e cabelos também escuros e longos, estruturados num elaborado penteado. Ela dava a mão a um menino de cabelos também escuros, olhos pretos e firmes, que parecia contrariado por ter que ficar ali parado por horas na mesma posição.

Esse mesmo rei, agora grisalho e com ar cansado, estava a poucos metros dali, sentado na sala do trono, recebendo seus súditos que chagavam com algum pedido ou presente. Ele parecia estar ali há horas, porque estava sentado com uma perna arqueada e o cotovelo apoiado na coxa, com a mão na cabeça.

─ Muito bem, este é o último?

─ Sim, majestade.

Ele suspirou. O dia finalmente estava terminando e ele ansiava por um banho e um descanso antes do jantar. Mas então um barulho do seu lado esquerdo chamou sua atenção. Ele olhou para onde vinha o barulho e assistiu, boquiaberto, uma das paredes emolduradas de gesso se abrir e de lá sair uma mulher.

─ Guardas! – gritou o conselheiro do rei, que ao seu lado, também se surpreendeu com a cena. – Uma invasora. Prendam-na!

A sala foi imediatamente ocupada por guardas uniformizados e apressados em obedecer. Eles entraram e procuraram o invasor. Quando encontraram, foram correndo e agarraram a mulher imediatamente antes de ela dar dois passos.

─ Parem! – gritou o rei.

Os soldados, que já estavam arrastando a intrusa para fora do salão, pararam na mesma hora. Ele virou a cabeça para o lado, com os olhos apertados e semblante intrigado e confuso. "Quem é você? Por que está aqui e como sabia desta passagem secreta?"

A mulher, que estava curvada, ergueu a cabeça e olhou bem nos olhos do rei, o que era uma afronta, mas ele pareceu não perceber isso. Apenas a encarou de volta, vidrado e assustado. Ele arregalou os olhos, abriu a boca, assombrado. Balançou a cabeça e piscou várias vezes, tentando mudar a imagem à sua frente.

─ Che-chegue mais perto.

Ela olhou para os guardas, que a essa altura estavam tão confusos que a soltaram. Ela deu alguns passos em direção ao rei, sem tirar os olhos dele.

O rei não resistiu. Sob o olhar de todos, desceu do trono e ficou de frente para ela. Tocou em seu rosto devagar, comovido. Lágrimas brotaram de seus olhos. "Susana!"

Os guardas se entreolharam. O conselheiro do rei se adiantou, nervoso:

─ Majestade, talvez o senhor devesse descansar. O dia foi cheio e isso pode ter afetado sua razão.

O rei o ignorou, continuou encarando a mulher à sua frente, agora já sorrindo em meio às lágrimas e, para espanto geral, depois de repetir o nome duas vezes e afagar seu rosto e seus cabelos, ele a abraçou com força. "Mas como? Eu fiz o seu funeral. Você é um fantasma?"

A mulher estava sorrindo e chorando também, quando ele a soltou e ainda bem que no salão só estavam o conselheiro real e os guardas, porque a cena era absurda demais para quem assistia. O conselheiro pensava rápido no que fazer, pois não queria que ninguém pensasse que o rei tinha enlouquecido, então ordenou que os guardas se retirassem e enquanto eles o faziam, avisou que se aquela notícia vazasse, ele mandaria decapitar todos que estavam naquela sala. Os guardas assentiram assustados.

A Lei e o destinoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora