Capítulo XXIII

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O mato alto estava molhado atrapalhando cada passo. Os espinhos escondidos machucavam e incomodavam, mas era necessário continuar. A chuva caía grossa e impiedosa e junto com os pingos pesados, as árvores imensas e próximas interrompiam a caminhada, obrigando a afastar os galhos ou se abaixar. Em alguns galhos havia frutas, mas apesar da fome, não era possível parar para comer. Depois de um último galho afastado em meio ao cansaço, um relâmpago clareou tudo mostrando um grande castelo em um vale à frente. "Chegamos. "

A chuva começou a afinar como se saudasse a chegada e lá no alto do castelo alguém apareceu à janela. "Rápido! "Apressaram o passo e quando se aproximavam do castelo apareceram ameaçadoramente à frente soldados da Guarda Real Um trovão soou e a chuva voltou a cair com força, era preciso dar meia volta e voltar para a mata. As gotas pesadas encharcavam, caíam nos olhos e impediam a visão. Na pressa agora os galhos não eram mais afastados e espinhos arranhavam as costas. Os passos dos soldados estavam cada vez mais próximos e ao pisar na lama, uma poça encharcada afundou seus pés fazendo tropeçar. "Levante-se", mas seu corpo não respondia, só conseguia ouvir os passos se aproximando e gritou em terror: "Não, não..."

─ Não! Alana ouviu seu próprio grito. Estava em seu quarto do palácio, sentada apavorada na cama. Seu corpo encharcado de suor ainda tremia. – Foi um pesadelo... tentou controlar a respiração enquanto olhava para o sol que nascia pela janela.

Enquanto levantava parecia ainda ouvir os passos dos soldados lá fora. Foi então que percebeu que os passos que ouvia eram reais e estavam à sua porta. Ela ainda estava no palácio; tinha combinado com a mãe de partirem pela manhã, mas pelo visto o dia reservava outras surpresas para ela.

─ Lady Durval, abra em nome do rei!

Alana encarou a porta apavorada. O que estava acontecendo? Vestiu-se o mais rápido possível e abriu a porta, deparando-se com dois guardas reais sérios.

─ Sim?

─ A senhorita deve nos acompanhar.

Ela obedeceu em silêncio, sentindo um formigamento nas mãos e um estremecimento na espinha. Alguma coisa estava errada, ela sabia. Escoltada pelos guardas, Alana foi conduzida até a sala de Gustavo.

A porta estava fechada. Depois de um movimento de um guarda, o outro a abriu com cuidado. Lá dentro, o capitão parecia tenso e, com o cenho franzido ele fez um movimento indicando que deviam fechar a porta. Alana foi deixada sozinha com o capitão, o que era extremamente inadequado, mas ela nada disse, aguardando em silêncio que ele iniciasse a conversa. Toda esta pompa para chegar até ali já era estranho o suficiente.

─ Primeiramente devo pedir perdão. – Começou ele, andando em círculos. - A raiva cegou meus sentidos e eu agi por impulso pela primeira vez na vida. Isto foi um erro injustificável.

─ Do que está falando?

─ Eu vi você e o príncipe ontem.

Ele cuspiu as palavras quase ao mesmo tempo que ela o indagava. "Eu vi tudo. Fui tomado pelo ciúme e pela ira."

Ela se calou, o rosto afogueado de embaraço.

Ele a encarou. Os olhos faiscando e os lábios apertados pareciam inquirir uma justificativa, mas Alana permaneceu em silêncio.

─ Não vai dizer nada?

─ Era uma despedida. Uma história antes de você. Sinto muito por ter te desrespeitado. Eu entendo se quiser desfazer o noivado.

Gustavo sentiu o peito queimar. Claro, simples assim. Ela falava como se tudo fosse simples. Mas ele sabia o que tinha visto e seu estômago revirava só de lembrar. E além do fato do seu orgulho ferido, ainda havia as consequências de sua atitude. De sua vingança desmedida.

A Lei e o destinoWhere stories live. Discover now