Capítulo XXII

71 6 1
                                    

O barulho do salto de seu sapato estalando o mármore do piso do palácio deixava Samara ainda mais ansiosa do que já estava. Cada estalo ecoando nas paredes era um lembrete de que estava indo voluntariamente em direção ao inimigo. Cada palavra sua e cada atitude seria fatal. Mas ainda assim, depois de muito pensar e quase entrar em desespero, chegou à conclusão de que não poderia ficar parada esperando que a qualquer momento tropas reais viessem buscá-la.

Assim que soube que o prisioneiro havia sido transferido, procurou saber quais seriam as possíveis instalações em que estaria; fazendo perguntas aleatórias para militares bêbados nas festas do palácio, como quem apenas tem uma curiosidade mórbida pelos desafortunados. Mas sua busca discreta foi em vão. Após noites sem dormir, ela percebeu que não podia mais adiar o inevitável. Precisava arriscar, pois a qualquer momento o homem poderia falar seu nome e então ela estaria perdida.

A porta foi aberta e, adentrando devagar o aposento mal iluminado, ela avistou o capitão da guarda real sentado, perto da janela, com a luz da abertura invadindo o espaço onde ele se encontrava e iluminando exatamente o seu rosto. Ele a avistou e se levantou, fazendo uma discreta mesura. "Alteza, como vai? Fique à vontade."

─ Boa tarde, Sir Mach. Obrigada por me receber. Eu sei que foi um pedido bastante inusitado.

─ Não, de maneira nenhuma. Estou ciente de que a segurança do reino é do interesse da realeza. Em que posso ser útil?

─ Então, na verdade é apenas uma preocupação de tia. Meu irmão, o senhor sabe, está muito preocupado com a segurança do reino e principalmente do príncipe, e esteve falando comigo sobre isso nos últimos dias. Infelizmente, ele transmitiu para mim essa ansiedade, e eu não consigo ficar em paz enquanto não tiver certeza de que o senhor já teve avanços nas investigações sobre o atentado contra meu sobrinho. O prisioneiro ainda está inconsciente?

─ O prisioneiro? Bem, infelizmente sim. Ele piorou muito depois que chegamos a Salícea e entrou em febre delirante devido à gravidade dos ferimentos e entrou em coma. Mas não se preocupe, isso não interferirá nas investigações, porque o médico acredita que não demorará muito para ele recuperar a consciência. O ferimento foi mais grave do que pensamos, mas nós estamos cuidando para que ele se mantenha vivo. Fique tranquila. Logo tudo se esclarecerá.

Gustavo observou atentamente enquanto a fisionomia da princesa se anuviava de repente, o semblante inconscientemente alerta assim que ele anunciou que o prisioneiro se recuperaria, mas logo ela se controlou e abriu o semblante num forçado sorriso: "Que bom, fico feliz em saber, capitão."

Ele fez menção de se levantar, mas a princesa se manteve sentada, então o corpo do capitão, que já estava com a metade do quadril erguida, voltou a se acomodar na cadeira, em expectativa.

─ Mas, insistiu ela, jogando a cabeça para o lado, em uma pausa para que o capitão voltasse a se concentrar no assunto, eu queria ter certeza de que tudo está sendo feito com cautela, o senhor entende? – ela limpou devagar uma mancha imaginária no buço enquanto pensava na próxima frase - Quando Luiz mencionou que o prisioneiro havia sido transferido, eu me preocupei, porque não conheço prisão mais segura do que a do palácio. O senhor sabe me dizer para onde ele foi transferido? Tem certeza de que é melhor do que a nossa prisão?

Ela disse tudo isso como quem pergunta o cardápio do café da manhã, mas apesar do tom de voz meticulosamente despretensioso, uma gota de suor despontando em sua testa delatava seu desconforto. Gustavo, que possuía o dom da observação, não deixou esses detalhes passarem despercebidos, e se as pequenas atitudes e a visita intrigante com uma justificativa tão incoerente não fossem suficientes para fazê-lo desconfiar, infelizmente para ela, o rei não estava a par da transferência do prisioneiro. Essa era uma informação sigilosa!

A Lei e o destinoWhere stories live. Discover now