Prólogo Parte I

573 26 99
                                    

Dedicado à Vânia com carinho.

(Escrito originalmente entre 1997 e 1999)



Em uma colina via-se um grande castelo, exuberante com suas paredes de pedra e suas altas torres. Qualquer pessoa que por lá passasse iria admirar.

Ladeando o castelo, altas árvores com grossos troncos e raízes faziam sombra para as rosas e margaridas que ficavam espalhadas pelo gramado.

Enquanto o sol nascia lentamente acima das colinas, lançando seus raios dourados em um céu tão azul quanto o lago do castelo, os pássaros cantavam saudando o amanhecer e as folhas, guiadas pelo vento, voavam lentamente, subindo e descendo.

Susana observava tudo em silêncio, sentada em um banquinho. A cena, simples e cotidiana, nunca tinha sido tão linda.

Fazia muito tempo que ela não sentia o ar fresco da manhã e depois de uma noite mal dormida sentiu a necessidade do ar frio e da paisagem bucólica que as paredes não forneciam.

Aos poucos, passos lentos e calmos foram ficando cada vez mais fáceis de ouvir e ela virou-se, levantou os olhos e sorriu. Carlos, seu marido, a olhava com ternura e ela deu espaço para ele no banco de madeira onde estava sentada.

-Levantou cedo, querida.

-Eu não estava me sentindo muito bem. Não conseguia dormir, então, como já estava amanhecendo, resolvi dar um passeio pelo jardim para me acalmar. Há muito tempo eu não via o nascer do sol.

- Que bom que melhorou. Júlia me contou que você passou mal ontem à tarde.

-Sim, mas não deve ser nada, não se preocupe. Você já tem problemas demais.

Carlos percebeu a ponta de tristeza com que ela falou a última frase. Sentiu-se péssimo por vê-la tão solitária logo nos primeiros anos de seu casamento. Os dois não se viam mais que uma ou duas vezes por dia, isso quando ele não estava viajando.

Não se lembrava de seu pai ter sido tão ausente quando era ele o rei de Morabe, mas essa era a sua realidade, ele era o rei agora, e além de todas as suas responsabilidades como governante do maior reino das redondezas, ainda precisava comparecer às aulas de cultura geral, liderança, história, línguas e todas as demais disciplinas que um jovem príncipe precisa ter. Ele ainda não estava totalmente formado, mas o acidente que levara a vida de seus pais obrigou-o a assumir o trono com apenas vinte e um anos e recém-casado.

- Querida, começou ele colocando seus braços ao redor dos dela, não diga isso. Nada é mais importante para mim do que saber que você está bem, então, por favor, não me esconda quando tiver problemas. Eu sei que se sente sozinha e preferiria que eu estivesse do seu lado ao invés de você ter que me mandar recados, mas este ano eu termino meus estudos e essa correria vai acabar. Já estou nomeando ministros e conselheiros para me ajudar e então vamos fazer aquela viagem de lua de mel adiada.

Ela sorriu e abaixou a cabeça levemente. Ele estava certo ao desconfiar da sua carência. Quando se casou estava totalmente apaixonada porque já o conhecia desde a infância. Ele era seu primo distante que passava os verões no chalé vizinho da propriedade de sua família e, sendo o príncipe, viajava sempre com seu séquito, tinha prioridade nas brincadeiras e nas caçadas e era recebido com honras pelo seu pai.

Ela se lembrava de como odiava a pompa com que sua família o recebia e de como o evitava sempre, até que ele a encontrou um dia sozinha e mostrou-se tão gentil, tão simples e humano que seu ódio  se transformou rapidamente e a partir de então ela aguardava os verões com ansiedade.

A Lei e o destinoWo Geschichten leben. Entdecke jetzt