Capítulo XXVI

60 4 0
                                    



O som gostoso do canto das cigarras e o piar dos pássaros acompanhavam o som da charrete onde estavam mãe e filha. Três dias se passaram após Carine e Alana terem saído da cidade. Alana estava suada e seus cabelos embaraçados grudavam na nuca enquanto ela mantinha os olhos na janela. Estava cansada e seu corpo doía, mas elas quase não pararam desde que partiram. Tinham medo de serem surpreendidas a todo momento e precisavam chegar a Morabe o mais rápido possível para se sentirem seguras.

Então ouviram o barulho de água. Alana abriu um sorriso. "Podemos parar, senhor Tadeu? Por favor? É água!"

O cocheiro gritou "Eia!" e puxou as rédeas para si.

─ Acho que podemos parar um pouco para tomar um banho, o senhor não acha? Estamos quase chegando em Morabe, mas se temos a chance de nos refrescar e estamos num ritmo bom, não faz mal, não é verdade? Basta não demorarmos muito.

─ Tem razão, o sol está me matando aqui na frente. Os cavalos também vão se esbaldar com água corrente e fresca para matar a sede. Podemos parar.

─ O senhor gostaria de ir primeiro?

Ele assentiu e garantiu que seria rápido. Realmente, pouco depois ele voltava, com os cabelos pingando e um sorriso no rosto. "Está ótima, aproveitem!"

Alana correu em direção ao som, desesperada para se refrescar e sorriu ao se deparar com um riacho de águas cristalinas que corria na encosta abaixo. Ela chamou pela mãe e apressou-se em direção à água, sem esperar por ela. Carine demorou um pouco mais, buscando roupas secas para trocarem. O calor maltratava e suas roupas pesadas não ajudavam. A essa altura já confiavam em Tadeu o suficiente para saber que ele se manteria fielmente vigiando junto ao veículo até que elas voltassem.

Refrescaram-se, tomando o cuidado de observar se não havia algum animal por perto. Apenas com a anágua fina, mãe e filha sentiram as alegrias de se banhar ao ar livre, sentindo a água fria revigorá-las. Elas começaram a dar risadas e mergulhar o corpo todo na água. Depois de um tempo, Carine, observou:

─ Daqui a pouco vai escurecer e ainda temos muito caminho pela frente! Devemos continuar.

Elas saíram da água, colocaram as roupas secas e partiram, com a energia renovada. A floresta extensa com suas imensas árvores, folhas pelo chão e cheiro de umidade e de verde, abria-se para elas.

─ Estamos chegando, avisou Tadeu, empolgado, se montarmos acampamento mais adiante e partirmos assim que amanhecer, devemos estar na capital antes do meio-dia.

Elas sorriram. Quando escureceu, deitada, sob a luz das estrelas após uma refeição leve, Alana ouvia o crepitar da fogueira improvisada e olhava para o céu. "Mais uma noite sob as estrelas." Olhou para o cocheiro, que provou ser um homem honrado e discreto, um pouco afastado e tocando uma gaita, melancolicamente. Ele parecia confortável com sua missão e depois de terminar sua canção, guardou a gaita e se deitou, pegando no sono logo em seguida.

A mãe ao seu lado, de olhos fechados, já dormia placidamente. Sabia que apesar do apoio e aceitação, ela sofria. Lágrimas quentes de culpa rolaram pela sua face. Sua mãe não merecia isso! Sofreu tanto para chegar aonde chegou e agora provavelmente teria que começar tudo de novo. É claro que havia a esperança de poderem voltar, mas o medo de serem traídas novamente estava lá, insistente em seus pensamentos, junto com todas as possibilidades do que poderia ter sido se ela tivesse agido diferente em alguma situação. A frase "E se..." era sua companheira constante nesses dias desde que saíram de Salícea. "E se ela tivesse aceitado o pedido do capitão antes de ir para o chalé? E se tivesse refutado o príncipe e fugido? E se tivesse recusado o pedido e saído do campo antes de se encontrar com o príncipe?" Esse último sendo a possibilidade que mais lhe agradava e com a qual sonhava. Tudo teria sido diferente e hoje elas estariam felizes aproveitando seus dias no chalé junto com Lia e a família e vivendo o sonho...

A Lei e o destinoWhere stories live. Discover now