XXI. Abra o inferno

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Música indicada: Never be Alone (Shawn Mendes)

— Você acha que estamos em um filme? — Arrogante, Eloísa chamou sua atenção para o presente. — Não posso sair daqui.

— Mas precisa — explicou. — Porque, apesar de termos os mesmos sentimentos, nunca escutei nada, o que a voz diz? Mas, na verdade nem preciso saber. Deve ser algo poderoso. Seja lá o que ela quer, dê — frio e sem rodeios, declarou.

Abra o inferno. O que aquilo realmente significava? Não podia ser literal, podia? Ela se perdeu em seus pensamentos.

— Está há dois dias sem dormir, pode estar alucinando também — pensativo e ela quis abraçá-lo por dizer aquilo. Era o que precisava. A voz podia não ser real.

Ficaram se encarando ainda por alguns minutos, em silêncio, perto o suficiente para sentirem o calor um do outro, mesmo sem se tocarem. Às vezes era como se nada de fato existisse de mais calmo no mundo do que o olhar um do outro.

— El! — Paulo gritou, dispersando-os e depois correu até eles. Estampava um sorriso grande e a garota limpou rápido o resto das lágrimas que molharam seu rosto. Eloísa suspirou ao passar seu olhar entre os dois rapazes diante de si.

Talvez tenha sido uma péssima ideia aceitar esse café, pensou. Mas Paulo é tão legal, não posso ser grossa com ele de jeito nenhum.

— Talvez tenha sido uma péssima ideia aceitar esse café — falou Lorenzo, fazendo-a arregalar seu olhar em sua direção. — Mas...

— Ainda bem que você me encontrou — interrompeu-o ansiosa e encarou o loiro à sua direita.

A boca dela não se fechou nem mesmo quando Paulo tocou seu ombro direito. Lorenzo tinha começado a dizer exatamente o que ela queria e com as exatas palavras que usaria se dissesse. O outro rapaz parecia perdido em meio a situação constrangedora.

— Ainda bem — em um tom até então desconhecido aos outros dois, mais áspero e direto. — Não lembro de ter feito o convite — tossiu e riu para Enzo, depois encarou Eloísa, que tinha definitivamente amado aquela resposta.

— Você tem razão — Enzo disse em seu tom de voz firme e superior, aquele que usava quando se sentia desafiado, mas nunca com Eloísa. A garota franziu as sobrancelhas, ainda sentindo o gosto rotineiro do choro na boca.

— Podemos ir? — Paulo perguntou, olhando-a, incomodado, mas a garota em questão não conseguia deixar de olhar Lorenzo, cujos braços estavam atrás das costas e o olhar era sério e preocupado.

— Ainda tem muita coisa para me contar — em tom baixo, ela disse sem se importar com a pergunta de Paulo em sua direção. — Onde te encontro?

— Você já foi no meu quarto — relembrou, ela ergueu as sobrancelhas em recordação. — Mas, Eloísa — suspirou. — Não temos muito tempo — declarou e ela concordou com um gesto, nunca havia perdido um prazo na vida.

O sol tocava levemente a avermelhada face de Eloísa enquanto a garota seguia o Paulo até a padaria. O rapaz havia tomado a liberdade de passar o braço direito pelos ombros dela e a abraçada em questão não se importou com seu toque. Estava cansada demais para qualquer coisa.

— Quem é esse cara? — Sussurrou alto quando já haviam se afastado o suficiente de Lorenzo. Paulo a olhava confuso.

— Lorenzo, você já sabe — falou ela, com a voz um pouco rouca depois do que passou e as pálpebras pesando cada vez mais.

— O nome dele eu sei, mas o que vocês dois tem a ver? — A entonação que o dono de olhos extremamente azuis usava não a agradava nem um pouco. Eloísa suspirou.

FUGITIVOS DO INFERNO 01 - Ciclo Da Era [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora