IV. Mil Faces do Inferno

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Música indicada: Silhouette


Viu uma luz longe demais, avermelhada, e que parecia ser uma saída, engoliu a agonia que sentia e correu mais rápido, como se realmente fosse capaz de escapar. Tudo ficou mais alaranjado quando ela ultrapassou o buraco que tinha um pouco mais do que sua altura. O chão que pisava era instável e grande parte das pedras rochosas dançavam sobre a lava fervente, todo o ambiente a fazia associá-lo ao interior de um vulcão. Eloísa correu entre as pedras quebradas, confiando na própria sorte, mas seu corpo parecia mais pesado, como se a gravidade tivesse repentinamente aumentado e seus pés queimavam. Suava e sentia sua pele quente demais, mas não parava. O cheiro forte de queimado e enxofre fez seus olhos lacrimejarem quando ela alcançou as pedras mais firmes no chão e se encostou em uma parede rochosa. Começou a escalá-la enquanto suas mãos queimavam pelo contato direto. Enxergava ainda menos que antes e apalpava algo para segurar e conseguir subir mais um pouco, não sabendo onde iria parar. Com dificuldade, mas muito mais desespero, não olhava para trás. Chegou ao limite da parede e ousou olhar em direção ao local onde esteve, limpou as lágrimas com o antebraço direito e tentou focar na porta que parecia ser de uma caverna, aquilo explicaria bem a escuridão. A lava laranja parecia viva e batia por todos os lados como se estivesse furiosa abaixo dela. El se apoiou na região plana cinquenta centímetros acima e conseguiu subir lá depois de muito esforço. De quatro, tentou respirar, mas o ar parecia cortar sua garganta. Quando olhou para frente, seus olhos se arregalaram e ela sentiu seus membros fraquejarem. Todos a encararam quando se pôs completamente de pé. Eram pessoas que El não conseguia distinguir os gêneros, todos nus e carecas. Seus olhos eram pretos e algo escorria deles. O líquido vermelho pingava pelo queixo daquelas desgraçadas. Alguns estavam presos às paredes avermelhadas, nas quais lava escorria sem parar e arrancava a pele de suas costas. As bocas estavam sempre abertas, mas nenhum som saía de lá. Eram seres humanos sofrendo como ela nunca tinha visto antes, gritavam algo que não conseguia ouvir. Outros andavam, mas com uma lança enfiada em suas barrigas os conectando em um mórbido trem do desespero guiado para dentro do fogo ardente que ela tinha atravessado. Eloísa mal conseguia se mexer porque não podia acreditar em toda barbaridade que via. Em pânico, teve vontade de olhar para si mesma, não tivera tempo antes. Notou que também estava nua, então cometeu o erro de passar suas mãos sujas de terra em seu rosto. O vermelho escuro manchava seus dedos quando os olhou novamente. Ela era como eles.

Gritou. Gritou o mais alto que pode. Estava com medo, mas não se escutava. Não entendia o que era aquilo, mas tinha certeza de que estava morta e seu corpo também alcançaria aquele fogo.

Então a mulher apareceu. Não era careca, seus cabelos eram muito bonitos na verdade. Vermelhos como sangue, ondulados como o mar. Sua pele era branca e sua boca pintada de vermelho se abriu diante de Eloísa, mas a garota não a escutava. Sentiu sua pele queimar ainda mais quando a mulher a tocou, mas por um segundo não sentiu mais medo. Ela tentou manter os olhos que lacrimejavam abertos e conseguiu entender uma das palavras pelo movimento da boca da outra: Não abra.

Eloísa foi puxada com velocidade para trás e uma vibração percorreu todo seu corpo, partindo várias de suas costelas direitas. Não conseguia respirar e viu a peça brilhante demais atravessando seu peito. Arregalou os olhos e sentiu o gosto férrico na boca antes de começar a cair. Era rápido, estava de costas, mas sabia ser em direção ao mar laranja. Nunca sentiu tanto pavor como o de parar de cair e encontrar o que havia lá embaixo. Lava.

FUGITIVOS DO INFERNO 01 - Ciclo Da Era [COMPLETO]Where stories live. Discover now