XXXIV. ELAS

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Na imagem tem mais um trechinho com atores 👀

Música indicada: Stone Cold (Demi Lovato)

Ele estava confuso. Sentia-se impotente. Diante dele estava Teodora... mas ela pedia por algo impossível. Sentia que seu mundo havia perdido o chão e desabado de tudo que acreditava estar fixo em sua cabeça. Tudo sobre proteger El e sobre tudo que faria para não a machucar. Sua promessa não fazia mais sentido com Teodora em jogo. Bem ali na sua frente. Ele a amava há tantos anos que já nem sabia mais como era não a amar. Ele a protegia há tanto tempo que já não sabia o que fazer diante daquilo.

Enzo estava sentado de pernas cruzadas no chão do asfalto, a rodovia não estava movimentada e o sol do meio-dia queimava sua face, seus olhos estavam fechados.

Ele não queria olhá-la. Não podia olhar Eloísa e saber que aquela era, na verdade, Teodora. Lupita estava ao seu lado, ele sabia porque ela tocou uma de suas pernas.

— Por que ainda não fizemos nada? — perguntou. Ele não a respondeu. Como explicaria? — Enzo... sabe que apenas demônios podem tomar o corpo de outra pessoa dessa forma — lembrou-o, receosa.

— Eu sei sobre isso...— abriu os olhos e a encarou. — Vai matar ela? — sussurrou.

Sem rodeios, Lupita se pôs de pé.

— Vou mandá-la de volta para o inferno — munida de certeza e coragem, ele a segurou pelos braços, seus neurônios voltaram a queimar como dá primeira vez que a encontrou.

— Ela está no corpo da Eloísa — lembrou. — Você não pode matar esse corpo.

— Eu não vou deixar a garota morrer — disse pausadamente, odiando-o com intensidade. — Você deveria pensar do mesmo jeito. Por que não pensa? — Ele não disse nada. — Eloísa vai morrer, Enzo...— o anjo tentou mais uma vez trazê-lo de volta à realidade. — Por que está querendo me impedir de fazer o certo?

Ele também sabia daquilo. Enzo encarou a mulher à sua frente e depois olhou o corpo de El amarrado ao carro com cordas de zinco que Lupita sempre carregava consigo, contra demônios. Ela não parecia querer se soltar. O homem soltou o anjo e caminhou até lá, determinado ao que ia fazer, Lupita o acompanhou, confusa. Sua face era indecifrável, sua mente impenetrável.

— O que faz aqui? — Gritou antes mesmo de chegar até a garota — Por que aceitou essa merda? — Ergueu-a pelos cabelos. — Eu estava arrumando tudo — gritou, cheio de uma raiva que Lupita nunca presenciou.

— Enzo... o que vai fazer? — A prisioneira o olhava sem expressar medo.

Ele olhou Lupita, que engoliu seco e logo entendeu o que ele queria, lhe jogando a lança de diamante que foi pega no ar. Teodora deixou escapar um suspiro surpreso.

— Eu vou perguntar de novo, Teodora. Por que aceitou isso? — Seu sussurro era pesado. Uma saliva espessa não parava de ser produzida.

— Enzo... o que deu e você? — quis saber. — Somos uma dupla. Um pelo outro, sempre. O que mudou? — seus olhos, agora em seu castanho claro, estavam assustados — Tudo um pelo outro — relembrou.

Mesmo que quisesse responder, não pode. Embarca em uma de suas memórias, aquela que sabe ser real. Teodora tocando piano em 1875, em um estabelecimento de teor duvidoso, a mulher de cabelos vermelhos escondidos abaixo de um denso véu preto, que havia caído levemente enquanto ela se entretinha no som. A mulher passava seus dedos sobre as teclas do piano tal qual se pega um recém-nascido no colo pela primeira vez. Foi como se estivesse fazendo carinho em sua cabeça, ela adorava, mas sem ao menos tocá-lo. Lorenzo a encarava, seus olhos estavam fechados e o semblante triste demais para a amiga que havia deixado no México cinquenta e dois anos antes. Parecia em um eterno luto, mas, quando o viu, tudo mudou. Toda a morbidez que rodeava aquela vestida completamente de preto partiu, deixando nela um sorriso enorme e genuíno no rosto, ele quase pode enxergar sua alma naquele momento.

FUGITIVOS DO INFERNO 01 - Ciclo Da Era [COMPLETO]Where stories live. Discover now