II. Somos Uma Dupla

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Música indicada: Hold On (Chord Overstreet)


Enzo sentia tanta confiança e paixão por ela, que se tornava ainda mais terrível quando se separavam, sempre. Nada dentro do peito dele era tão intenso quanto o amor fraternal que sentia, como se realmente fossem dois lados de uma mesma moeda, mas achava a mulher a parte mais bonita.

— Nossa energia fica mais forte a cada segundo e com essa farpa em você... — sussurrava — é como se gritássemos para que nos peguem. Você tem que ir agora — ordenou, triste em precisar ser direto.

A mulher respirou fundo e se afastou. Lorenzo tinha razão, ela deveria ir embora. Mas, foram décadas sem se ver para apenas dez minutos de conversa, ambos se sentiam destruídos em ter que dizer adeus de novo. Tudo bem, Teo, vamos dar um jeito. Um dia nós vamos. Pensava enquanto permanecia calado.

— Estou tão cansada disso — confessou ela, se afastando e pegando a garrafa de vinho. — Eu quero poder te ver quando quiser. Não aguento mais despedidas, Lorenzo. — Sua voz afinou e uma lágrima desceu pela lateral direita de seu rosto. — Todos sempre morrem ao nosso redor, os anos passam e ficamos. É destruidor, eu só quero a chance de não voltar para aquele lugar e ter meu amigo ao meu lado porque é solitário não morrer! — Sua voz saiu um pouco mais descontrolada e Teodora se controlou. — Era para ser nós dois, sempre — finalizou.

— Teo... — sussurrou, com um nó preso em sua garganta por entendê-la. — Eu vou encontrá-la, prometo — tentava acreditar nas próprias palavras. Uma promessa era o máximo que podia oferecer naquele instante.

— Eu pensei que quando saíssemos... — começou e ele a observou colocar sua taça lado da dele e retirar algo de dentro do sutiã. — Esquece. — Frustrada, a mulher lhe estendeu um colar de prata que brilhou quando balançou no ar. O objeto simulava um coração real em três dimensões prateado e com vasos sanguíneos marcados com pequenos e finos riscos azuis. — Azazel me entregou isso — informou.

— O que é, exatamente? — Perguntou ele, estendendo seu braço e o aceitando em sua mão esquerda.

— Eu não sei, mas ele disse que você precisa usar — falou.

— Eu? Então Azazel não disse nada sobre você mesma tentar fazer? — Perguntou, desconfiado. Abaixou a mão sem o colar, ela manteve a posição. — Não acha estranho?

— Enzo, sinto que ele falou a verdade — sussurrou, insistindo em entregar o objeto. — Há anos ele me fala sobre esse ciclo. Por que mais iria querer que o inferno...

— Espera — interrompeu-a e ela abaixou o braço graças à súbita energia que sentiu.

— Enzo... — deixou transparecer sua voz trêmula — eles estão aqui — sussurrou com medo transcendendo cada palavra. Ele sabia disso, podia senti-los.

— Saia — gritou, olhando em seus olhos atordoados. — Teodora — Mais alto, virando-se de costas para ela. Seu corpo vibrava de medo por si e pela amiga. — Você precisa sair.

A mulher atirou a garrafa de vinho em direção à parede bege do quarto, mas ela não se quebrou. A velocidade foi reduzida e eles a observaram darduas voltas no ar em câmera lenta e, calmamente, ir parar centímetros antes do choque.

Sentia uma pressão sobre sua cabeça, a falta de ar o atingiu. É tarde demais, pensou.

— Está na hora de voltar — disse o homem de pele branca que surgiu no local. Com a garrafa de vinho parada em sua mão esquerda, ele encarava os dois fugitivos. — Senti falta de vocês.

Os cabelos eram de um preto brilhante e liso. As unhas estavam pintadas de preto e ele sorria com seus lábios finos. Os glóbulos oculares vermelhos eram paralisantes e o cheiro de enxofre, quase insuportável. Sobre seu tronco, um sobretudo preto que chegava até seus pés e na mão direita, uma lança de ouro maciço com quase dois metros e feita sob medida para fugitivos do inferno.

Lorenzo não conseguia se mover, era como se seus pés estivessem grudados no chão. O homem atirou a lança e ele sabia ser o fim, se encaixaria perfeitamente em seu coração. Fechou os olhos, esperando o impacto e a dor que sentiria. Não havia como fugir de um demônio quando ele já estava diante dos seus olhos, pelo menos não sem outras intervenções, como em 1823 e 1979. Como deixei você se aproximar tanto? Perguntou-se enquanto esperava pela a lança que o levaria para seu pior pesadelo, mas ela não chegou.

Uma luz brilhou diante de seus olhos fechados e ele os abriu. Não vinha de si e uma confusão o invadiuao ver a melhor amiga à sua frente. A lança de ouro atravessava seu peito e suas costas arquearam para trás quando o corpo foi erguido do chão. Com a cabeça caída para trás, ela olhava para aquele de olhos espantados e sorria, como se nada estivesse acontecendo. Seus dentes estavam sujos de um sangue preto e Teodora disse:

— Somos uma dupla, para sempre — engasgando-se no próprio líquido férrico, ainda com os olhos nos dele quando sua cabeça foi jogada ainda mais para trás e ela foi puxada para os confins do inferno.

Lorenzo sentia a vibração dela e quis se ajoelhar, faltava ar em seus pulmões, mas seus pés ainda estavam grudados no chão. Eles eram uma dupla. Sempre foram. Sempre seriam. Junto com ela, se foi o demônio por um tempo, mas Enzo sabia que voltaria.

Sua visão estava embaçada pelas lágrimas quando suas pernas puderam se mover e ele caiu sobre os joelhos. A única coisa que Enzo conseguiu pensar naquele momento, além do pânico de ter visto a pessoa que ele mais amava partir, era no medo de ir junto. Precisava sair dali o mais rápido possível. Com velocidade, se levantou e fez um amontoado com os papéis da gaveta da escrivaninha, colocando-os em uma maleta. Demorou só dois segundos. Puxou a pequena mala já pronta debaixo da cama e começou a sair pela porta de madeira marrom. Quando colocou seu primeiro pé para fora, o som da garrafa se quebrando ao atingir a parede ecoou no quarto e Enzo olhou para trás, vendo no chão o resto do vinho se espalhando sobre o carpete marrom. Seus olhos também encontraram o colar de prata caído bem ao lado do líquido vermelho. O colar, lembrou. Lorenzo andou rápido até ele e abaixou-se, pegando-o e colocando-o no bolso da calça.

— Eu vou te tirar daí — sussurrou em promessa, mesmo sabendo que ela não o escutaria. — Sinto muito, Teo.

Enzo desceu pelas escadas, apressado, com medo. O coração acelerado que por muitas vezes ele esquecia que tinha. Acenou para o táxi, que logo parou. Estava um frio desconcertante em Londres, mas ele não se importava. Um gelo ainda maior o assombrava, aquele de dentro do seu peito que parecia um buraco interminável, um local escuro e pavoroso sem Teodora. Ela havia voltado ao inferno e era como se tivessem arrancado seu coração do peito, mas ele não podia desistir. Aquela mulher não desistiria dele, então prometeu que encontraria a garota e a tiraria de lá, não importava o que teria que fazer para isso.

— Para o aeroporto — pediu eo taxista partiu.

FUGITIVOS DO INFERNO 01 - Ciclo Da Era [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora