X. Vácuo no Espaço

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O vento soprou seus cabelos e ela sentiu um arrepio percorrer todo o seu corpo. Quando o cheiro da água do mar a invadiu, abriu os olhos. Era a praia de água mais azul que tinha visto em toda a sua vida. Eloísa, sentada, observava as pedras rochosas que contornavam as extremidades e seus pés descalços sentiam a fina areia entre seus dedos. O sol estava se pondo e demorou um tempo até notar o homem caído metros à sua esquerda. Tentou enxergá-lo melhor antes de levantar e dar passos até lá. Ajoelhou-se ao seu lado, sujando os joelhos descobertos, preocupada, mesmo que não o conhecesse.

Toda a camiseta dele estava coberta de sangue, mas ela não o via bem, sua visão estava borrada ao encará-lo e não a deixava distinguir as características do rosto. Ficou assustada, mas não se afastou. Algo, que ela não saberia explicar o que, a mantinha ali. Colocou os dedos quentes no pulso frio do homem que não tinha batimentos. Perguntava-se porque estava com medo e, ao mesmo tempo, seu coração batia sossegado, como se seu corpo não acompanhasse seus pensamentos.

— Não... — gritou ele quando abriu, repentinamente, os olhos e se sentou. Seu tom estava assustado e Eloísa caiu sentada no chão pela surpresa, levando a mão ao lado esquerdo do peito, no coração que finalmente parecia ter acordado. — De novo não.

O homem alto exalava pavor e se levantou rapidamente. Ela também se pôs de pé por puro reflexo e ansiedade, apertou uma mão na outra, nervosa, tinha certeza que aquele que girava em torno de si assustado estava sem batimentos segundos antes.

— De novo não — dizia, rodando em círculos, com as mãos sobre a cabeça. Ela apenas o observava com seus olhos castanhos arregalados. — Você... — apontou em direção a ela, que dava passos para trás à medida que o desconhecido de rosto borrado vinha em sua direção, mas não eram suficientes.

Alcançou-a e a pegou pelos braços, sacudindo-a. O toque dele a queimava e a garota gritou de dor. De repente, a areia se transformou em carvão e as rochas, antes cheias de musgos, ficaram pretas e vermelhas. Ela sentiu o calor aumentar em seus pés quando o belo mar se mostrou lava borbulhante, e as ilhas antes vistas distantes, eram corpos se afogando sucumbindo.

Mais pesadelos.

Olhou em direção ao homem sem rosto, que a soltou e cambaleou para trás como se tivesse levado um choque. Seus cabelos, antes castanhos e um pouco acima dos ombros, não existiam mais.

O pavor a consumia por dentro, mas não tanto quanto a ele. Eloísa sentia a energia do seu medo. Antes que dissesse algo, o homem foi atingido por uma lança de ouro que lhe atravessou o peito, puxando-o para trás rapidamente. Caiu com as costas sobre a lava borbulhante e se espremeu enquanto gritava de dor. Corpos começaram a surgir e afundaram suas mãos quentes no miserável, que gritava freneticamente enquanto o levavam ao desconhecido, no fundo do mar de lava.

Ela mal conseguia respirar. Não tinha mais ninguém ao redor e não sabia de onde tinha saído aquela lança. Caiu sentada no chão depois de torcer o pé andando para trás sem perceber. Encarava o antigo mar antes de sentir uma mão pousar no seu ombro. El não tinha coragem de olhar para trás.

— O que você é? — questionou a voz masculina distante, como um eco em uma caverna. Ela se virou em direção a ele, tentando convencer a si mesma de que não passava de um pesadelo que logo acabaria. Era o mesmo homem que viu afundar.

Arrastou-se rapidamente para o lado contrário. Ele não vestia nada e sua pele branca estava limpa. Eloísa olhou para a lava tentando entender como aquilo era possível, mas seus pensamentos pararam quando se virou ao desconhecido novamente e seu rosto estava exatamente diante do seu. Os narizes quase se encostavam e, em meio àquele borrão, ela conseguiu vê-los.

Tão negros e profundos, sentia-se olhando para o vácuo no espaço dentro dos seus olhos. A garota travou enquanto o admirava, alucinada. O coração acelerado e uma ardência no local em que ele a havia tocado.

— O que você é? — repetiu, agachado, enquanto olhava nos olhos dela com segurança. Parecia mais confuso do que ameaçador.

— Acorda — ordenou a si mesma, mas nada aconteceu.

— Não é um sonho — falou o rapaz. — São minhas memórias.

FUGITIVOS DO INFERNO 01 - Ciclo Da Era [COMPLETO]Where stories live. Discover now