Ata, moço

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Hansol estava atrasado. Muito atrasado. Contando com o horário e a distância, já devia estar a caminho há uns quinze minutos.

No dia em que nada podia dar errado, o erro já começou ao acordar.

Passou os últimos três dias roendo as unhas de tanta ansiedade, falava sozinho de frente pro espelho ou no chuveiro, já tinha vestido a roupa escolhida por si umas oitenta vezes só para conferir se estava boa mesmo e antes de dormir checou se seu alarme estava ligado.

Estava, mas ele simplesmente não escutou.

Com um pé de um sapato preto e o outro marrom, a gravata enroscada na cabeça, a calça no meio das coxas e a escova de dentes na boca, ele pediu um uber pelo aplicativo, quase derrubando o celular umas três vezes enquanto o fazia e ainda pensando se o dinheiro daria.

Quando informado que o mais perto demoraria em torno de dez minutos, correu para se arrumar e parecer um ser humano, ao menos, e se amaldiçoando por ter escolhido um lugar tão longe da rodovia para morar.

Exatos dez minutos depois, visto que já estava na frente do seu prédio localizado no fim de uma rua sem saída e sem nenhum carro o esperando, mandou uma mensagem ao motorista.

Moço, onde vc ta?
[Visualizada 12:12]

Chegando, é numa
rua sem saída mesmo?

É sim.
[Visualizada 12:14]

Okay.

Vai demorar muito?
É q to com mt pressa
[Visualizada 12:15]

Não.

Com o pé inquieto e sem conseguir conter-se, após exatos dois minutos Hansol pegou o celular novamente.

Moço pq vc ta
demorando tanto?
[Visualizada 12:17]

Porque eu tenho q ficar td hr
parando e te respondendo ?

Ah sim, desculpa
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Como vc ta?

To ótimo, e vc?
[Visualizada 12:23]

A roupa kkkk

Ata, desculpa
roupa social, cabelo escuro
e com uma mochila kkkkkkk
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Hansol já queria desistir. Ria de si mesmo e mal conseguia pensar em como encararia o motorista depois da vergonha que estava passando no débito. Ao pensar nisso, notou que estava esquecendo algo: sua carteira. Já ia correndo de volta para o hall de entrada, se não fosse uma buzina soando alto na rua e o carro fazendo a manobra de retorno bem na sua frente.

ㅡ Moço, pelo amor de Deus, espera que eu vou pegar minha carteira! ㅡ avisou gritando e nem viu se o motorista ia responder, apenas subiu os quatro lances de escadas, torcendo para não ter que pedir outro carro e pegou a maldita carteira e desceu, também correndo e agradeceu pelo cara paciente ainda estar lá, parado, ouvindo música e mascando um chiclete. ㅡ Muito obrigado, moço, você tem um lugarzinho no céu e desculpa mais uma vez.

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