45. toodle-oo

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Meus pulmões aspiravam cada um dos aromas mais que apenas familiares unidos num só cômodo, feliz em poder divagar por estes sem pressa; a fragância de Finn invadia minhas narinas e desacelerava as batidas no meu peito, tendo atualmente o efeito oposto do que me causava há algum tempo; e, além do cheiro de batatas untosas, havia também o som reconfortante do óleo fervilhando na cozinha da lanchonete. Todas aquelas vozes, agitação e risadas... Não havia nada no mundo que pudesse fazer com que eu me sentisse tão bem. O Vagão Vermelho era um de muito lares que eu tinha, abrigando pequenas frações de partes minhas que, em soma, me mantinham viva.

— Nós jogamos aqueles trapos fora, mas por muito pouco. Noah fez uma espécie de birra...

— Eu não fiz, não!

— E ele estava falando exatamente nesse tom, quase gritando, como a Jacey faz de vez em quando — Sadie continuou, os olhos analisando o amigo como se fosse comum um garoto de treze anos agir como sua irmã mais nova. Ao meu lado, Finn mantinha-se extremamente focado na cena de ação em seu almanaque dos X-men — ao menos, era isso o que se esforçava para fazer parecer; mas eu estava ciente de seus olhares direcionados a mim, e de como ele sorria às vezes. Eu havia percebido há algum tempo como Finn sempre havia me visto daquela forma, como se eu fosse o ser mais brilhante e etéreo que já havia conhecido, desde o começo, e em como eu havia sido tola por notar depois de tanto tempo algo explícito como as estrelas que sarapintavam o céu do lado externo da lancheteria.

— É que eu me apeguei um pouquinho àquela boneca, tinha valor emocional... E agora ela virou sucata. Vocês são mesmo uns monstros — Noah soou intenso como sempre, embora um pouco choroso, como se tentasse esconder a mágoa que sentia. Eu afaguei seu ombro, o olhando com os olhos cheios de compaixão; era uma boneca, mas ele estava mesmo chateado com aquilo. E eu também estava de seu lado, de certa forma, porque eu era a boneca. — Mais um pouco e ela se desintegraria sozinha... Seria uma morte menos dolorosa, não seria? Vocês realmente precisavam moê-la daquele jeito? — meus olhos se arregalaram.

— Eles me moeram?

— No liquidificador — Gaten falou como se fosse algo realmente sério, como um acidente trágico ou um desastre natural, e eu agi de acordo. Eles haviam me moído em um liquidificador! — E Sadie comandou o homicídio todo, não teve nem mesmo a decência de tampar o treco! Voou algodão para todo lado, foi um horror!

— Fique sabendo que eu não tive parte nisso — Finn murmurou, os olhos ainda fixos em sua revista em quadrinhos. Ele me olhou de relance, inicialmente circunspecto e concentrado, então pareceu ceder aos próprios desejos da face e permitiu que um leve sorriso se abrisse em seus lábios. Senti seu aperto mais firme em minha mão, a aliança fria em suas mãos tocando minha pele como uma suave lembrança de que tudo estava finalmente bem, como era para ser. — Nem parece de verdade — a mão que segurava o almanaque abandonou este e se ergueu para tocar meu rosto, minha pele queimando sob seu toque, fazendo com que eu risse envergonhada.

— É tão real quanto o seu rosto cheio de estrelinhas. Você não tem moral para discutir comigo, Wolfhard — eu toquei sua mão com a minha, sentindo no fundo do peito que deveríamos ter vivido aquilo há muito tempo; que tudo pelo que passamos havia sido fruto de nossa — e principalmente minha — infantilidade, mas também do destino, porque precisamos daquilo para amadurecer e lidar com coisas no âmbito dos futuros relacionamentos que surgiriam em nossas vidas. Sua respiração se embolou com a minha, então Finn me beijou. Não pela segunda, terceira ou quarta vez; foi como uma gotinha num oceano, uma de milhares, porque desde aquela noite em Nova Orleans nós sentíamos a necessidade um do outro. Mas foi a primeira vez que Noah viu algo entre nós realmente acontecendo e não pôde fazer nada.

— Eca! Vai pegar sapinho, Millie! — Nada a não ser reclamar. Mas isso era algo a que já estávamos habituados, com toda a certeza.

— É, meu amigo, somos só nós dois agora... — murmurou Gaten, infeliz, referindo-se aos dois novos casais ao seu redor. Seus olhos se arregalaram de forma assustadora, e ele olhou Noah com uma expressão de esclarecimento. — A não ser que...

ventured to say ˓ fillieWhere stories live. Discover now