Se meu desânimo pudesse ser medido, numa escala de um a dez, podia-se dizer que estaria bem abaixo de zero. Bati a porta de casa e, cruzando o pequeno espaço entre ela e as banquetas, me esborrachei em uma delas, os olhos fixos numa mulher extremamente empolgada picando frutas, e apoiei meus cotovelos sobre a mesa, assim como a cabeça em mãos, suspirando pesadamente e a encarando.
— Ah, você chegou! — exclamou mamãe, interrompendo sua receita e virando-se por completo para mim, entortando os lábios após me analisar. — Foi tão ruim assim?
— Eles até que se divertiram — encarei minhas própria unhas como se não me importasse, embora cenas fossem a todo momento repassadas em minha cabeça. — Mas isso é bobagem. Como foi com Ava?
— Ótimo, na verdade — ela esboçou um sorriso, enxugando as mãos em um pano e o jogando sobre o balcão. — Agora, sobre o parque... bem, não foi o que eu perguntei. Mas já que mudou de assunto tão desesperadamente, apenas me diga: e quanto aos sustos, valeram a pena? — ajeitei-me no banco, rindo por um instante ao me recordar de quando ainda estávamos dentro da casa mal-assombrada.
— A única coisa que realmente valeu a pena foi ouvir os gritos aflitos de Noah. Ah, nada nunca vai superá-los — e ela riu junto a mim, enquanto eu imaginava que ponto nossa "malvadeza" poderia alcançar. — Mas não me diverti tanto quanto o esperado.
Eu sabia que meu problema em si não era verdadeiramente o passeio, e sim seus últimos acontecimentos. As coisas teriam sido muito melhores se algo não houvesse feito com que tudo me parecesse desinteressante. Inclusive a própria casa mal-assombrada.
Mas eu finalmente decidi espantar memórias ruins que ameaçavam me tomar, o que aconteceu em todo o trajeto que fizera sozinha até onde agora me encontrava, e me levantei, observando através de um arco a sala de estar. — Ela está ali?
— Uhum, acomodada até demais em frente a televisão — e eu a ouvi rir quando me virei, o que me mostrou ainda mais o quanto estava contente. De qualquer forma, eu fui até a loura, analisando-a deitada tranquilamente sobre onde mamãe dissera que estava, o que deveria supostamente ocupar apenas um terço do assento, mas naquele momento o ocupava completamente.
— Ei, Ava — cantarolei, enfiando-me em meio aos bichinhos de pelúcia ao seu lado e a vendo sentar-se reta, os olhos fixos nos meus. — Está feliz por ter convencido mamãe a cumprir sua promessa?
— Muito! — ela cruzou as pernas e focou completamente em mim. — Vimos Moana, e adorei cada trechinho daquilo! — seus olhos brilharam outra vez. — Mas não vai me contar sobre o parque?
— Não acho que valha a pena. Mas garanto que vocês duas se divertiram infinitamente mais — sacudi os ombros ao esboçar um sorriso. — Deveria fazer isso mais vezes.
— Eu sinto muito, Mi — sussurrou, em seguida organizando seus fios louros de forma que ficassem distribuídos igualmente em cada um de seus ombros. — Você merece dias melhores — mas ela de repente abriu um sorriso de orelha a orelha, se ajeitando no sofá de maneira que ficasse mais próxima a mim. — Mas como... como não se divertir com a Sasa? Quer dizer, é total é absolutamente impossível.
E nós brincamos por algum tempo, até eu decidir subir as escadas e seguir para o meu quarto. Acho que nunca havia estado tão bagunçado, mas não era por minha culpa, e sim de uma adorável peste loura que às vezes me fazia tais vistas.
— Boo! — ela exclamou do andar de baixo. — Esqueci de te avisar, mas organizei suas gavetas! — e logo me vi revirando os olhos. Isso significava que havia muito mais desordem do que se podia ver.
. . .
— Estou aguardando minhas devidas explicações — a ruiva suspirou alto no celular. — Sabe que eu a conheço muito bem, Millie, então nem ouse me vir com mentiras. Cansada, sério?
— Eu estou — fechei os olhos por um momento. — Disse a verdade. E acho que nem mesma você sabe por que não acredita em mim. Eu vou te dizer o que realmente está acontecendo: ele, ele é o que há de errado. Finn...
— Ah, não diga o nome dele melosa desse jeito. Ele sempre me será esquisito — franzi as sobrancelhas enquanto meus olhos baixavam.
— Sadie...
— Desculpa! Você sabe que eu sempre me desvio do assunto principal. Coisa dos Sink. Mas, sério, está tão mal assim?
— Eu não estou mal, mas já estive melhor. Muito complicado? — ela se manteve quieta, e soube que sim. Sadie quieta na maioria das vezes significava uma resposta afirmativa. — Não faça isso. Seu silêncio é apavorante.
— Só me esclareça uma coisa... — eu suspirei, murmurando um "aham" e esperando que prosseguisse: — Gosta dele? Gosta mesmo?
— Isso também é complicado, e eu estou cansada demais para explicações, Sasa — ela exclamou em inconformação, embora eu quase não a ouvisse mais por ter afastado o celular da orelha. Eu me preparava para desligá-lo, e o teria feito se ela não tivesse prosseguido.
— Íris! — ela berrou, como se soubesse que aquilo me faria parar e escutá-la. E eu me mantive em um silêncio terrivelmente melancólico. — Era Íris Apatow — suspirou. — Aquela loura... ah, a morte tem lindos olhos azuis, não acha, Millie?
![](https://img.wattpad.com/cover/131946903-288-k982344.jpg)
YOU ARE READING
ventured to say ˓ fillie
Fanfictionquando uma menina se mudou para o burgo dos wolfhard, levou consigo todas as suas inseguranças. eles se deram bem (certamente não de primeira, mas se compreendiam). no entanto, seu convívio podia ser melhor, pois haviam atingido um nível de estreite...