14. ocean eyes

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Se meu desânimo pudesse ser medido, numa escala de um a dez, podia-se dizer que estaria bem abaixo de zero. Bati a porta de casa e, cruzando o pequeno espaço entre ela e as banquetas, me esborrachei em uma delas, os olhos fixos numa mulher extremamente empolgada picando frutas, e apoiei meus cotovelos sobre a mesa, assim como a cabeça em mãos, suspirando pesadamente e a encarando.

— Ah, você chegou! — exclamou mamãe, interrompendo sua receita e virando-se por completo para mim, entortando os lábios após me analisar. — Foi tão ruim assim?

— Eles até que se divertiram — encarei minhas própria unhas como se não me importasse, embora cenas fossem a todo momento repassadas em minha cabeça. — Mas isso é bobagem. Como foi com Ava?

— Ótimo, na verdade — ela esboçou um sorriso, enxugando as mãos em um pano e o jogando sobre o balcão. — Agora, sobre o parque... bem, não foi o que eu perguntei. Mas já que mudou de assunto tão desesperadamente, apenas me diga: e quanto aos sustos, valeram a pena? — ajeitei-me no banco, rindo por um instante ao me recordar de quando ainda estávamos dentro da casa mal-assombrada.

— A única coisa que realmente valeu a pena foi ouvir os gritos aflitos de Noah. Ah, nada nunca vai superá-los — e ela riu junto a mim, enquanto eu imaginava que ponto nossa "malvadeza" poderia alcançar. — Mas não me diverti tanto quanto o esperado.

Eu sabia que meu problema em si não era verdadeiramente o passeio, e sim seus últimos acontecimentos. As coisas teriam sido muito melhores se algo não houvesse feito com que tudo me parecesse desinteressante. Inclusive a própria casa mal-assombrada.

Mas eu finalmente decidi espantar memórias ruins que ameaçavam me tomar, o que aconteceu em todo o trajeto que fizera sozinha até onde agora me encontrava, e me levantei, observando através de um arco a sala de estar. — Ela está ali?

— Uhum, acomodada até demais em frente a televisão — e eu a ouvi rir quando me virei, o que me mostrou ainda mais o quanto estava contente. De qualquer forma, eu fui até a loura, analisando-a deitada tranquilamente sobre onde mamãe dissera que estava, o que deveria supostamente ocupar apenas um terço do assento, mas naquele momento o ocupava completamente.

— Ei, Ava — cantarolei, enfiando-me em meio aos bichinhos de pelúcia ao seu lado e a vendo sentar-se reta, os olhos fixos nos meus. — Está feliz por ter convencido mamãe a cumprir sua promessa?

— Muito! — ela cruzou as pernas e focou completamente em mim. — Vimos Moana, e adorei cada trechinho daquilo! — seus olhos brilharam outra vez. — Mas não vai me contar sobre o parque?

— Não acho que valha a pena. Mas garanto que vocês duas se divertiram infinitamente mais — sacudi os ombros ao esboçar um sorriso. — Deveria fazer isso mais vezes.

— Eu sinto muito, Mi — sussurrou, em seguida organizando seus fios louros de forma que ficassem distribuídos igualmente em cada um de seus ombros. — Você merece dias melhores — mas ela de repente abriu um sorriso de orelha a orelha, se ajeitando no sofá de maneira que ficasse mais próxima a mim. — Mas como... como não se divertir com a Sasa? Quer dizer, é total é absolutamente impossível.

E nós brincamos por algum tempo, até eu decidir subir as escadas e seguir para o meu quarto. Acho que nunca havia estado tão bagunçado, mas não era por minha culpa, e sim de uma adorável peste loura que às vezes me fazia tais vistas.

— Boo! — ela exclamou do andar de baixo. — Esqueci de te avisar, mas organizei suas gavetas! — e logo me vi revirando os olhos. Isso significava que havia muito mais desordem do que se podia ver.

. . .

Estou aguardando minhas devidas explicações —  a   ruiva suspirou alto no celular. — Sabe que eu a conheço muito bem, Millie, então nem ouse me vir com mentiras. Cansada, sério?

— Eu estou — fechei os olhos por um momento. — Disse a verdade. E acho que nem mesma você sabe por que não acredita em mim. Eu vou te dizer o que realmente está acontecendo: ele, ele é o que há de errado. Finn...

Ah, não diga o nome dele melosa desse jeito. Ele sempre me será esquisito — franzi as sobrancelhas enquanto meus olhos baixavam.

— Sadie...

Desculpa! Você sabe que eu sempre me desvio do assunto principal. Coisa dos Sink. Mas, sério, está tão mal assim?

— Eu não estou mal, mas já estive melhor. Muito complicado? — ela se manteve quieta, e soube que sim. Sadie quieta  na maioria das vezes significava uma resposta afirmativa. — Não faça isso. Seu silêncio é apavorante.

Só me esclareça uma coisa... — eu suspirei, murmurando um "aham" e esperando que prosseguisse: — Gosta dele? Gosta mesmo?

— Isso também é complicado, e eu estou cansada demais para explicações, Sasa — ela exclamou em inconformação, embora eu quase não a ouvisse mais por ter afastado o celular da orelha. Eu me preparava para desligá-lo, e o teria feito se ela não tivesse prosseguido.

Íris! — ela berrou, como se soubesse que aquilo me faria parar e escutá-la. E eu me mantive em um silêncio terrivelmente melancólico. — Era Íris Apatow — suspirou. — Aquela loura... ah, a morte tem lindos olhos azuis, não acha, Millie?

ventured to say ˓ fillieWhere stories live. Discover now