08. bad liar

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— Millie, acorda! — exclamou alguém, batendo à porta fervorosamente. — Millie!

— Ah, me deixe em paz, Ava — murmurei, a voz sonolenta, enquanto eu tirava o travesseiro debaixo da minha cabeça e o colocava sobre o rosto. Como se adiantasse alguma coisa.

— Tudo bem, são sete horas, não me culpe se chegar atrasada... — e o silêncio tomou meu quarto novamente. O sol estava sobre mim, havia esquecido a janela aberta. Bufando como quem odeia o mundo todo naquele momento, me ergui, fechando a janela. Era na lateral de minha cama, eu adorava me apoiar lá à noite para observar as estrelas.

Encarei o relógio acima do criado-mudo, arregalando os olhos ao finalmente entender o que Ava dizia. Eu não ouvia ninguém durante as manhãs, parecia estar em outro mundo.

"São sete horas"

Eu estava mais do que atrasada. Estava ferrada. Mamãe provavelmente ainda estava uma fera, e não gostaria nada daquilo. Correndo como se o fim do mundo estivesse prestes a acontecer, troquei de roupa. Calça, botas e um casaco. Estava frio, e, apesar de gostar daquele clima, não suportava senti-lo.

— Merda, merda, merda, merda... nem para me acordarem de verdade, poxa... — bufei, sabendo que aquilo era culpa minha, não de Ava. Coloquei meu gorro cor-de-canela de qualquer jeito, apressada, vestindo a mochila e pegando alguns pertences importantes.

. . .

Parando no meio da rua ao sentir meu celular vibrara no bolso do casaco bege, vi uma notificação de Sadie. Merda, eu me esqueci de mamãe. Uma semana. Não sabia se aquilo era para me magoar ou me fazer suspirar de alívio. Às vezes meus supostos amigos eram cansativos. Bem, assim como insistentes. Eles não deixariam isso por si só.

Sadie: quer saber?

vou arrastá-la até o jogo de sexta.

você vai!

eu vou fazê-la ir, quer queira ou não.

só porque não quero ficar sozinha com aquele loucos.

hasta, Brownie.

Pela terceira vez no dia, bufei. Insistente? Nem um pouco. Aquilo só poderia ser carma. Dos bem ruins. Mas, bem, se fosse, seria ao menos justo, não uma tortura sem fim de cabelos ruivos. Mas, ignorando meus problemas comuns de adolescente, continuei com o trajeto. Atravessei uma cafeteria, um lugar extremamente aconchegante, uma loja repleta de roupas de marcas caríssimas, e uma floricultura, a de uma estranha garota de cabelos louros. Não sabia o nome dela. Não queria saber. Ela nunca havia me chamado atenção. Apenas os girassóis que vendia; eu era apaixonada por girassóis.

— Ah, olá — falou uma mulher de cabelos ruivos. Era bonita. Eu não costumava passear por aquela cidade, então acabava por não conhecer muitas pessoas. Não fazia questão de conhecê-las. Todos eram irritantemente alegres. — Tome, pegue. Um presente de Íris.

— Obrigada... eu acho — sorri, aceitando a flor amarela que me era estendida. — Quem é Íris?

— Bem, Íris gosta de surpresas — ela retribuiu o sorriso, enquanto o meu se tornava confuso. Inspirei, sentindo o aroma da flor invadir minhas narinas. Eu ainda amo essa sensação. — Vão se conhecer.

— Como sabe? — perguntei, e a mulher apenas sacudiu os ombros, ajeitando alguns lírios próximos à ela, dentro de um vasinho pendurado na floricultura. — Preciso ir. Millie. Foi um prazer te conhecer.

— O prazer foi todo meu, Brown.

. . .

— Aí está você! — exclamou um pessoa totalmente inconveniente naquele momento. Minha mente ainda estava naquela floricultura. O girassol ainda estava em minhas mãos. — Ah, sério que se atrasou por isso?

ventured to say ˓ fillieOnde histórias criam vida. Descubra agora