— N-Noah, você... nossa, o que... — disse, estranhando o fato de não conseguir dizer uma frase completa.
Mesmo que eu o detestasse por insistir em ser especialmente irritante comigo, eu senti pena ao ver como ele parecia se culpar e punir mentalmente. Como se surtasse internamente de desespero e arrependimento.
— Millie — eu o olhei. — Não fala nada, pelo amor de Deus. Eu sei que fiz merda — ele suspirou e coçou o braço em nervosismo, enquanto eu corria meu olhar pela quadra.
O time todo, até mesmo o adversário, berrava besteiras para o casal lá. E nossos amigos nos observavam como se fôssemos loucos. Estavam, literalmente, de queixo caído. E eu bem que tentei, mas não consegui simplesmente ignorá-los.
— Vocês quatro! — Munoz berrou esganiçado. — Di-re-to-ri-a!
. . .
Finn era o mais desconcertado. Íris, a mais indiferente. Noah, talvez o mais surtado. No entanto, eu acho que Munoz conseguia superá-lo. Nós estávamos todos cabisbaixos, nenhum ousando olhar nos olhos do professor e diretor. Nós éramos, sim, loucos, mas nem tanto.
— Podem me dizer o que diabos deu em vocês? — disse o diretor. Munoz esbugalhou os olhos, como se também esperasse por explicações. — É um absurdo. Um absurdo!
— Desculpa — Finn sussurrou.
— Nós sentimos muito mesmo, Senhor — falei, puxando, esticando e dobrando o tecido do meu uniforme escolar. Não sei se havia uma palavra certa para descrever como eu estava.
— Um pedido de desculpas não é suficiente, vocês sabem disso. Se eu simplesmente perdoar vocês e esquecer isso, outros alunos vão achar que não há problema em sair fazendo uma coisa dessas pelas escola e aí tudo vira a maior loucura!
Ele suspirou, parecendo fazer de tudo para se acalmar — Íris, Noah, soube que vocês foram os primeiros a... hmm... — o homem ergueu as sobrancelhas. — vocês sabem. Dar início ao caos. Portanto, vocês serão os punidos.
Noah estava bem mal. Muito, mesmo. E eu senti tanta, mas tanta pena ao olhá-lo, ao vê-lo apenas concordar e voltar a encarar os pés, nervoso, que uma merda maior que a que ele fizera na quadra saíra de minha boca sem nenhum consentimento: — Não foi Noah. Fui eu que tomei iniciativa. Ele é a vítima, não eu.
— O quê? — ele se espantou. — Mas Munoz diz que você é tão... tão aplicada e...
— Senhor — o homem ficou quieto. — É a verdade. Puna a mim, se quiser ser justo, e não a ele — Noah esbugalhou os olhos tanto quanto o professor, preparando-se para negar. Porém, agi antes que ele o fizesse: — Não precisa tentar assumir a culpa, Noah. Sério. Está tudo bem — suspirei, e, inconformado, ele sacudiu a cabeça fervorosamente.
— Mas...
— Noah, não. É errado. Você não fez nada.
. . .
Eu fui suspensa por dois dias. Passaram a sempre me olhar de soslaio quando eu passava pelos corredores da escola, como se o que eu e Noah fizera fosse um absurdo — o que, honestamente, eu achava ridículo. Burburinhos me seguiam, assim como risadas e piadas sem-graça. Aquilo era um saco.
A aula foi péssima. Caleb, Gaten e Sadie me perturbaram todo o tempo em que fiquei na escola. Quando tivemos o intervalo, eu me tranquei no banheiro. Lá eles não me encontrariam, e ninguém faria piadas.
E a hora da saída demorou a chegar. No momento em que bati as portas do meu armário, eu notei alguém atrás de mim. Então, me virando, deparei com Gaten. Ele não me parecia mais tão adorável, devido a feição mau-humorada que carregava já há um bom tempo.
— Eu ainda não acredito que você fez isso. Cara, você não odeia o Noah? — perguntou.
— É, é — disse, alternando meu olhar entre a porta e o garoto. — Olha, eu adoraria bater um papo, Gaten, mas realmente...
— Quem faz uma coisa dessas com um amigo? E, além do mais, por ciúmes! — ele cruzou os braços. — Se fosse o Finn, tudo bem. Mas o Noah? Você beijou o Noah!
— Eu sei. E não posso fazer mais nada sobre isso — suspirei. — Já foi feito, desculpa por ter te deixado desse jeito.
— Você podia simplesmente não ter feito! — falou estranhamente irritado.
E eu, já sem muita paciência, berrei de volta: — Mas que droga, Gaten! Eu não fiz porcaria nenhuma! — ele continuava de feição irritada, esperando por um bom argumento. — Noah me beijou, não fui eu que beijei ele! Entendeu? Mim não beijar Noah! Tenho que desenhar?
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ventured to say ˓ fillie
Fanfictionquando uma menina se mudou para o burgo dos wolfhard, levou consigo todas as suas inseguranças. eles se deram bem (certamente não de primeira, mas se compreendiam). no entanto, seu convívio podia ser melhor, pois haviam atingido um nível de estreite...