37. i love you, eilish

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Meus pensamentos sobre aquilo eram extremamente suspicazes. Sabia que não passava de um alúvio de canções peculiares, mas eu tinha o direito de desconfiar quando já conhecia a Sadie. Dentre tantos títulos, eu identifiquei i love you, eilish. De chofre me vi sem um rumo pelo qual prosseguir, pois, apesar de esta ser uma das minhas músicas preferidas de todos os tempos, era deprimente e tocava minha alma de forma dolorosa. À outrance, havia tardes em que tudo que eu queria era apenas ouvi-la, eu a adorava. Não pude evitar me  perguntar o que diabos Sadie pretendia daquela vez, nem imaginar como ela planejava me despedaçar.

Eu a escolhi, incerta. Mal tive tempo para respirar e o violão já era dedilhado por Finneas. Era a música perfeita e eu me deleitava em cada acorde, até que o que deveria ser o começo da voz doce de uma mulher se tornara um poço eterno de escuridão e dor. Não era quem deveria estar cantando. Não era ela, era ele. E o pior ele que existia para mim.

Meu coração começou a bater feito um carro de corrida ao dar partida. De início desembestado, como um leviano, e então logo pensei que pararia. As batidas eram lépidas, fortes, literalmente doíam e me tomavam todo o fôlego. Finn a cantava, e eu me odiei por achar i love you ainda mais perfeito. Sadie sabia que eu a ouviria antes de todas as outras, sabia como me atingir, e havia o feito com muita crueldade daquela vez.

A cada palavra os dias retrocediam e eu me lembrava claramente de cenas antes arquivadas na minha memória. Ele disse que o que mais queria era ter a mim, éramos parecidos, que eu era o que pensava que nunca possuiria. Eu percebi que nunca sequer havia o abraçado; nunca havia respirado fundo o perfume dele; nunca sequer tocara seus cachos como tanto quis por tanto tempo. A Sink estaria morta, enterrada, a seis pés do solo, já em decomposição se estivéssemos próximas. Eu afundava em reminiscências e não sabia como evitar, sentimentos movediços me engoliam impiedosamente.

Assim, sentindo como se fosse pó sumindo num sopro, eu removi os fones e fechei os olhos. Uma gota deixou meus olhos, então duas e três. O livro aberto na escrivaninha abaixo de mim mal podia ser lido, a dor pingava de meus olhos. Eu apenas me permiti deitar e descansar ali em cima, me recordar de todas as coisas boas que Finn e eu havíamos vividos juntos. Tudo se tornava instantaneamente bom quando ele estava por perto. Eu sorri com a lembrança do dia em que descobriram que iria deixá-los, de quando Finn envolveu minhas mãos e me apoiou, aquele foi um de nossos melhores momentos. A sensação de tocá-lo era incrível. Ele era mesmo tão idiota?

sadie diz
você ouviu?

sim.

sadie diz
e você está bem?

nunca senti tanta dor, sadie.

sadie diz
quer saber como consegui tamanha beldade?

claro. ele não pode ter gravado uma coisa tão preciosa pra mim.

sadie diz
bem, o gaten perguntou a ele que coisas o lembravam de você. ele simplesmente pegou o violão e começou a cantar, não precisou falar mais nada. e aí noah chorou alto como um bebê. ele ainda está chorando um pouco, na verdade.

ele está chorando?

sadie diz
só está chorando um pouco agora porque o estoque de lágrimas já está no fim, coitado. mas você precisa saber que todos nós a amamos demais, bobby brown. finn, especialmente. você é importante. e eu sinto muito mesmo, do fundo do meu coração, por te machucar assim, mas você precisa repensar.

ventured to say ˓ fillieWhere stories live. Discover now