30. tentation

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— Estamos. Faz algum tempo, na verdade. Ela queria fazer uma surpresa para você — Caleb coçou a nuca, sem graça. Eu sempre achei que havia algo um pouco suspeito na forma com que evitavam se falar quando estávamos todos reunidos, de qualquer forma. Não era uma descoberta exatamente chocante, pois se fosse eu não teria sorrido, teria procurado pela ruiva e a arrastaria pelas orelhas até onde estávamos para tirar satisfações com ela. Era muita ousadia de sua parte manter em segredo a única notícia boa que eu poderia receber com todo o caos de nossos dias.

— Sadie vai matá-lo por ter me contado isso, você sabe — apesar de não estar brincando, não pude conter um sorriso. Toda a situação parecida ainda mais séria quando eu ouvi a mim mesma dizendo aquilo. Ela mataria a nós dois.

— Essa é a parte difícil em gostar dela — o moreno riu um pouco de uma forma que derreteu o que quer que eu carregasse no peito, que acelerou as batidas ainda mais ao tempo que meu olhar repousou sobre a mesa de bebidas com o cacheado a rondando.

— Ah, meu querido, qual parte não é difícil? — ficamos juntamente em silêncio, os peitos triunfantes e aliviados, leves como deveriam ser. Apesar do orgulho que sentia de ter torcido pelas pessoas certas, a pessoa que imaginava ao meu lado sequer se importava com algo que ia além de transbordar a própria taça.

— Eu poderia dizer, mas...

— Ah, meu Deus, não, não! Guarde tudo para você, eu estou satisfeita com o que já sei, obrigada! — eu berrei nervosamente, sentindo um zumbido na mente. Talvez fossem muitas emoções por um dia só, coisas que eu não havia sentido por tempo demais. Felicidade e culpa em excesso podia ser o motivo de sua exaustão. Decidi que não continuaria mais ali, Caleb parecia são o suficiente para se cuidar sozinho. Ele me olhou como se dissesse "pode ir", a cabeça apontando para o cacheado que caçava álcool, então me afastei dele. Cheguei mais perto de Finn, dei um passo para trás, firmei os pés no chão e perdi o equilíbrio, tentei me aproximar mas todo o meu corpo me impedia ao mesmo tempo que implorava por ele. Eu respirei fundo decididamente, e com um passo tenso de cada vez fui capaz de observar de perto as garrafas coloridas e brilhantes de bebidas alcoólicas e lícitas. O Wolfhard tentou esconder o susto que tomara ao me ver ali à sua frente, ainda que eu evitasse encará-lo, e quase derrubou uma das taças de Natalia.

— Ah, meu Deus, Finnie, eu sinto muito! Sabia que não deveria ter vindo — sussurrei a última frase para mim como se me repreendesse, como mamãe sempre fazia. Ele parecia desesperado, abanando para o nada e me mantendo no lugar sem saber o que fazer.

— Não, não precisa ir! Eu estava... estava lendo o rótulo dessa Bud ligh, concentrado, não foi nada demais — ele sorriu sem jeito e se endireitou enquanto eu pegava a garrafa de Clock Tower para encher minha taça o olhando, contendo o riso e o disfarçando ao pigarrear, o que mal pôde ser ouvido devido à música alta. — Isso é bom?

— Não vai fazer de você a personificação da insanidade; tem gosto de mirtilos, um pouco de limão e papoula, mas é bom, sim. Eu imagino que esse aqui tenha uísque, aquele Bourbon famoso, porque o que eu bebo não queima a garganta.

— Interessante... — o cacheado manteve o olhar sobre mim durante todo o tempo que havia falado, um sorriso sacana nos lábios. Finn desceu o olhar pelo meu vestido e estacionou na cintura à mostra por conta do tamanho da jaqueta que vestia, e aparentemente ficou por ali mesmo. Ele carregava em si todo um ar de fracasso e infelicidade, desistindo antes que fosse tarde demais, afinal não teria nada daquilo. Não queria, não quando havia algo muito melhor a se encaminhar até ele, os fios dourados alisados acompanhando seus movimentos. Íris apoiou uma mão no ombro do Wolfhard e se aproximou perigosamente de seu rosto para que fosse ouvida com mais eficiência.

ventured to say ˓ fillieWhere stories live. Discover now