24. hate you more

1.1K 106 110
                                    

Lidar com aquele tipo de pensamento era exatamente como um trabalho molesto sob o sol intenso carregando sacos de areia efervescentes. Eu não o desejava, mas tinha de deliberar acerca daquilo em algum momento. Deixá-los não era minha melhor escolha, mas era a mais conveniente, oportuna, embora não fosse a que mais me atraísse; retornar a Louisiana e viver com papai não seria nada mal. Continuar ali, sujeita a absurdos e desfazendo meu coração em tiras sempre fora péssimo. Me sentia deslocada, portanto, não havia muito o que pensar. Era óbvio. Tão óbvio quanto os passinhos de minha irmã conduzindo-se ao meu quarto, os pés pequeninos, porém barulhentos e estabanados, e a respiração alta; sabia que ela corria, ainda que fôssemos divididas por uma porta.

— Millie — ela a esbofetou. — Você está aí há um tempão! Aconteceu alguma coisa? — eu funguei e suspirei outra vez, tão alto que ela ouvira e me rebatera com um grunhido esquisito, e eu tentava não arrancar meus preciosos fios castanho-dourados. Nunca havia provado da inconformação numa proporção tão enorme. A vida que eu levava era insana demais para mim. — Mills, você está... Está... chorando?

Porque com eles eu não conseguia ter as certezas que me mantinham sã.

— Me deixe sozinha — falei, a voz abafada por uma almofada felpuda grudada ao rosto. Foi como se eu tivesse dito "vá em frente, bata mais, insista mais", porque o número de estapeios na minha porta com as mão pequenas de uma loura de seis anos de idade apenas triplicou. — Ava, já chega! — eu brandi, e os socos dela foram parando devagarinho. Me arrependi quase que instantaneamente; sempre fazia de tudo para evitar descontar meu estresse nela.

— Eu... Ahn, eu já vou indo — ela bateu uma última vez na porta, como que num postimeiro ato de decepcção, e logo ouvi-a se distanciar. Imaginei se meus amigos se sentiriam da mesma forma que me senti quando tive certeza de que ela havia ido embora, se ficariam vazios como eu fiquei.

Ava se foi, a despeito de ser a única irmã que ainda via com frequência. Mamãe tivera quatro filhos, e não apenas dois, mas eu não me sentia vazia sem eles. Talvez desejasse ver Paige outra vez, mas não sentia a falta dela como sentia a de Ava quando passava meus verões no acampamento de Norwood. A lembrança de que uma decisão era necessária logo me veio a mente, pois Charlie ainda vivia com nosso pai. Eu os veria, de qualquer forma; aquela nevasca próxima não vinha sem um fundamento. Ela trazia consigo o Natal, o desastre da ceia dos Brown aconteceria novamente, como todo ano. E não os passaria ao lado de meus melhores amigos.

・・・

— Millie Brown! — ele berrou. — Menina dos livros! Garota anti-palavrões! Alta juradora do Brooklyn! Ei, você! — dei um sorriso ladinho, ainda que de lábios fechados um contra o outro, não mais me espantando com a reverberação de sua voz em minha cabeça. Ele tinha um efeito estranho sobre mim, tanto que, mesmo não desejando ver sequer Oprah Winfrey naquele momento, eu me levantei e me encaminhei até a porta de entrada. Agradeci aos céus por mamãe e Ava terem ido ao parquinho na praça que podia-se ver logo entre as bifurcações da rua ao lado. Seria difícil explicar todos aqueles ferimentos. — Millster!

— Cachinhos dourados, que bom te... — parei por um segundo para analisá-lo. Finn tinha seus típicos cachos caindo sobre a testa, e, por vez, não me reprimi e os toquei com ternura, como se o fazê-lo não fosse soar estranho para ambos nós dois; deixei que meu olhar corresse por ele como água corre por uma rua em declínio, e neve quando derrete e escorre pela haste de uma árvore no inverno, notando mais que nunca as sardas salpicadas em seu nariz e bochechas, e os lábios avermelhadinhos. — Você está corando — eu ri, me forçando a mudar o foco de minha atenção para seus machucados depois de permitir que minhas mãos descessem de seus cachos para uma das maçãs de seu rosto. — Mas uau, isso está realmente feio.

ventured to say ˓ fillieWhere stories live. Discover now