4. lake charles

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Com a paisagem se tornando cada vez menos visível, o céu escurecendo e as estrelas se tornando pontos brilhantes e intensos sobre nós, eu sentia minhas pernas pesarem, doíam como se fossem esmagadas pelo peso de mil Dudleys. Do meu lado, Finn tinha o rosto inchado e tranquilo como quando mamãe acalentava Ava nas madrugadas, e ele também pesava em mim, sustentado pelo meu braço.

— Finn? — eu o chacoalhei com raiva. — Finn!

— O que foi? — ciciou, a voz sonolenta. — Já chegamos?

— Não — eu fiz o máximo de esforço que pude para levantar Noah de meu colo, mas ele voltou a cair e roncar ainda mais alto. — Mas... — comecei, então o Wolfhard empurrou meu rosto, ainda sem me encarar, como se pedisse rudemente que eu calasse a boca.

— Ah, quer que eu fique quieta? — me irritei, segurando-o para ganhar sua atenção, enquanto a cabeça de Noah ficava cada vez mais pesada. — Então tire esse anão de cima de mim! 

— Não sei por que ainda não o jogou da janela — disse ele, suspirando enquanto se ajeitava em seu canto. Eu olhei o vazio como quem desistia e precisava reformular os planos que tinha, para então transferir minha atenção ao menino em meu colo.

— Noah — o cutuquei, ele não se moveu. — Noah, Noah, Noah — disse em um tom mais alto, chacoalhando-o pelos seus ombros. — Noah Snipper! — e ele enfim saltou, batendo a cabeça na cobertura do carro e esfregando o local enquanto recobrava a consciência.

— Mas que diabos! — berrou, me encarando com raiva. — Você podia ter me chamado com mais delicadeza!

— Não pense que eu não tentei.  Se quiser dormir, Gaten está ali, tão desacordado quanto você estava. Ele não vai se importar — sorri com desdém, me ajeitando em meu lugar.

O trajeto havia sido como uma sessão de jogos num asilo, ou uma manhã na casa de alguém podremente rico. Tudo passava devagar, e meu único consolo era poder ver as árvores e suas folhas refulgirem com as luzes da cidade brilhando ao seu redor, com ocasionais flores dando-nos boa noite. Mas nem tudo foi paisagens e céus bonitos por muito tempo, e eu notava que as luzes desapareciam com cada vez mais frequência. Os celulares de quase todos nós estavam esgotados, salvando apenas eu, Sadie e Gaten, mas eu já não sabia se aquilo faria alguma diferença quando nem podíamos saber se haveria sinal para que pudéssemos usar um GPS de verdade, e não o mapa que a ruiva se esforçava para analisar em vão. Com uma bruca freada do carro, eu me sobressaltei e os olhei para saber o que acontecera.

— Estamos perdidos, Sadie, e a culpa é toda sua! — berrou, apertando o volante, enquanto ela ficava transtornada, seus olhos azuis sombrios e raivosos.

— A culpa é minha? — ela riu, descrente.

— Espera, estamos perdidos? No escuro, no meio do nada, sem sinal? — Gaten começou a entrar em pânico.

Todo o estardalhaço acabou por despertar Caleb, que logo se inteirou de tudo, e uma confusão se iniciou. Ninguém se entendia, e tinha medo do que teriam a entender. Que é que faríamos como sete adolescentes numa estrada isolada? Passaríamos a noite toda ali, espremidos, assustados, sujeitos a qualquer lunático que quisesse agir como tal? fazer agora?

— Só me digam para que direção fica o Portchartrain que eu mesmo me jogo nele — Finn disse, a voz exasperada.

— Parem com isso, fiquem quietos! — Nick gritou de seu banco, alto o bastante para que tudo se aquietasse e enfim pudéssemos ouvir sons horrendos. Eram grilos. Grilhos, árvores farfalhando, algo que seguia a rítmica de ondas que iam e vinham. — Estamos sozinhos, perdidos, isolados quase na madrugada. São mais de onze horas da noite e, ao invés de nos ajudarem a encontrar uma solução, vocês só estão criando mais problemas! Só fiquem quietos e pensem, usem essas suas cabeças ocas para alguma coisa de útil!

ventured to say ˓ fillieOnde histórias criam vida. Descubra agora