09. bad idea

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— Tem certeza de que é uma boa ideia, Sadie? — perguntei, encarando janela afora por alguns segundos.

Claro, por que não seria? — questionou a ruiva, e a ouvi bufar em seguida. — Mitchell sempre nos leva ao Jamie Hayes Gallery nos finais de semana, ele dirige bem, não é louco igual o Nick para quase nos matar no carro, eu prometo. E ele está livre hoje à noite — fiquei em silêncio, pensando se deveria concordar ou não. — Millie, vamos...

A verdade é que eu não estava nem um pouco afim de ver Noah, Caleb, Gaten ou Finn. Quero dizer, eu sabia que, depois de uma longa semana os evitando, agora mamãe permitiria. Mas eu realmente precisava de um tempo, queria ficar sozinha para processar algumas coisas. Como, por exemplo, meu quase beijo com Finn Wolfhard. Foi um erro, eu pensava. Mas por quê? Eu não fazia ideia. Talvez fosse pelo fato de que nos conhecíamos há dias, ou que ele agora era um dos meus melhores amigos. Isso seria estranho. De fato, um erro. E eu sabia que ir à um parque de diversões com adolescentes desacompanhados, à noite, e ficar completamente sozinha com todos eles a procura da saída de uma casa escura resultaria em coisas de que provavelmente me arrependeria.

Ei, está me ouvindo? — pisquei várias vezes, sabendo que em algum momento teria de respondê-la.

— Ah... sim — suspirei uma última vez. — Você não vai mesmo me deixar ficar de fora dessa, certo?

— Passamos aí às oito. Até, Millie Bobby Brown.

— Até, Sadie Sink.

. . .

Por que não seria uma boa ideia?

— Calado, Finn Wolfhard! — berrou ninguém mais que Sadie Sink, a garota mentalmente bem equilibrada. — Me solta! — ordenou ela, embora soubesse que, ao menos naquela vez, eu não a obedeceria. Finn não havia sido atacado por mim, pois me esforçava para mantê-la longe dele. — Millie!

— Parem de brigar, estamos em um parque! — e então a ruiva, notando que era observada por quase todos do Endless Roller Coaster, finalmente se acalmou. O Wolfhard também só podia ser mentalmente insano; havia falado dos Sink. Da família de Sadie. E, por Deus, não existia nada mais complicado. — Ele não deveria ter dito nada, mas ignore, está bem? Guardar isso por hoje não vai te fazer mal, vocês podem discutir outro dia. Apenas por hoje, Sadie.

— Por hoje — ela repetiu, e após um suspiro foi quando me senti segura para soltá-la. — Isso ainda não terminou, Wolfhard.

E, apesar de saber que precisava cuidar de Sadie, observá-la para saber se havia realmente dito a verdade, não pude evitar encarar o grupo de adolescentes que estava dentro da casa há longos minutos que saíam; alguns estavam esquálidos como papel, de olhos tão esbugalhados que ameaçavam saltar para fora, e a minoria aparentava apenas alívio, ofegantes como se houvessem corrido em uma maratona. Aquilo me deixou hesitante, porque, convenhamos, não é algo tão comum uma casa mal assombrada de fato assustadora. Ou, pelo menos, não tanto quanto a daquele parque. Até mesmo Sadie, a que costumava ser sempre a mais indiferente, descomovida e insensível de todos nós parecia estar amedrontada. Mas, tentando de todas as formas possíveis espantar meus insistentes pensamentos negativos, fui a primeira a entregar o ingresso para minha entrada na casa ser possível. E então permitiram que a adentrássemos. Sadie teimou em entrelaçar seu braço ao meu, assim como fazia o trio de garotos; Finn, Gaten e Caleb. Já Noah, sendo o mais indiferente dos meninos, provavelmente desejava demonstrar falsa bravura ao caminhar sozinho. Era um completo breu, e tudo o que víamos era apenas um extenso corredor enfeitado por luzinhas brilhantes pelo qual deveríamos seguir. Haviam portas também. E, contra minha vontade, todos nós nos separamos, e cada um atravessou uma delas. Estávamos apenas seguindo as placas.

Assim que fechei a porta atrás de mim, ainda sem poder ver nada, me assustei ao acender de uma luz. Via uma mulher sentada à mesa, acompanhada de uma bola de cristal na cor violeta. Parecia-me uma daquelas videntes fajutas, do tipo que lê seu nome no ingresso e pesquisa sobre você na internet. Um sorriso seu bastou para que eu congelasse onde estava, sentindo cada pelo de meu corpo arrepiar.

— Oi— ela riu baixinho, dando um suspiro como quem deseja se recompor. — Venha, me dê suas mãos — e a mulher, de cabelos quase tão alaranjados quanto os de Sadie, apontou para a cadeira à sua frente, me convidando a sentar lá.

— É mesmo necessário? —  questionei, dando um de meus piores sorrisos forçados e fazendo como ela havia pedido. — Quero dizer, talvez eu possa apenas cruzar aquele corredor escuro, medonho e nada convidativo e... — e parei ao sentir o incômodo toque frio da vidente em minhas mãos. — Sair logo daqui.

— Me chame de Bailee — sorri, me recordando de Grace Russell. Ela sempre foi minha favorita, e se Bailee fosse como ela, talvez também se tornasse minha bruxa favorita. — Por que tão inquieta, Millie?

— Estou desconfortável, é diferente — a respondi, suspirando e me ajeitando na cadeira. — Vocês não têm aquecedores aqui?

— Está com medo? — ela perguntou outra vez, como se não fosse óbvio. Quem em plena consciência não temeria a uma casa cujos vistantes saem de lá pálidos? — Não, falo sobre seus amigos.

— Por que eu teria? — me confundi com sua inusitada menção. — Nós somos amigos há pouco menos de um mês, não nos conhecemos tão bem. 

— Você não quer perdê-los, logo agora que os têm.

— Já atingimos um nível estranhamente alto de intimidade e dizemos coisas idiotas uns aos outros o tempo todo, mas isso não significa que somos tão amigos para que a perca da nossa amizade me preocupe — bufei, achando todas suas perguntas irrelevantes. — Posso ir agora, Bailee?

— Talvez imaginar todos eles indo embora, te deixando, não te incomode, certo? — aquiesci, com um pequeno sorriso ao rosto, pensando que estaria livre da tal vidente muito em breve. — Mas pense em um deles. Apenas um. Um que te doeria ver partir.

— Não, eu não me importo — aumentei meu sorriso, e não demorou para que toda a minha falsidade transparecesse. — Eu já disse, não somos melhores amigos. Eles não fariam falta.

— Finn. — e ela abriu um sorriso também, como se debochasse de mim. — Ele te assusta, Millie. Pensar nele indo embora te incomoda. Ele faria falta. 

— Está falando sério? — Bailee aquiesceu, e de repente quedei-me ali balbuciando frases incompletas e que nem sequer eram coerentes. — Finn Wolfhard não me assusta!

 — Claro que sim. Foi assim no The Red Wagon, não se lembra? — e eu apenas ri de sua tentativa totalmente fracassada de acertar algo sobre mim. Eu não tinha dúvidas de que havia tirado aquilo tudo do ingresso de Finn, o qual provavelmente leu por precaução.

— Ah, como não me lembro? Eu estava lá! — exclamei. Deveria ser proibido que pessoas desconhecidas acessassem suas memórias e as usassem contra você, pensava eu, inconformada. — Por que ele me assustaria? Digo, o Finn... ele é tão... — comecei a pensar, à caça de defeitos. Okay, aquilo havia sido mais difícil que minha prova de física da semana passada, mas também não podia ser tão impossível. Podia?

— Vamos, Millie. Apenas uma falhazinha, é simples — Bailee zombou de mim. Ela definitivamente estava fazendo uma daquelas pegadinhas de mau gosto do The Great Wall que eu assistia na tevê com mamãe nos finais de semana. — Muito complexo? Talvez você devesse...

— Finn é egocêntrico, não se importa de ninguém! — falei por vez, franzindo as sobrancelhas em seguida, assim como ela. — Certo, essa foi péssima. Sabe como é, não gosto de perder.

— É, foi péssima — suspirou a ruiva, repetindo com desgosto. De um momento para o outro, sua expressão mudou assustadoramente, ao mesmo tempo em que ela soltava minhas mãos. Aparentava incômodo. — Ele... ele se importa tanto — sussurrou Bailee, como quem lamentava. — Se importa muito mais do que qualquer um deveria. 

ventured to say ˓ fillieTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon