Capítulo XXIII

3.4K 422 36
                                    


Alvo sorriu e descansou a cabeça no pescoço do animal. Quando foi acariciar aquele magnífico pêlo branco, viu algo pelo canto do olho. Uma flecha zuniu pelo ar. Ela veio do alto, perfurando o flanco macio da criatura. O animal gentil empinou de dor e, em seguida, fugiu floresta afora. Todos os outros animais se dispersaram. Os anões viraram, com suas armas em punho. Na colina acima deles, estavam os homens de Baltazar com as espadas em mão.

Um vento feroz chicoteou por entre as árvores, espalhando sombras escuras onde antes havia um pouco de luz. Os anões vestiram suas máscaras de batalha e pegaram suas armas. Syran sacou os machados de seu cinto, empunhando um em cada mão. Alvo avaliou cuidadosamente os homens de Baltazar, analisando o rosto de cada um.

Não havia tempo para processar aquilo. O bruto que tinha ferido o cervo branco levantou seu arco, engatando outra flecha. Apontou-a para ele e sorriu. Antes que o Príncipe pudesse se mover, uma adaga cortou o ar numa velocidade impressionante, pousando cravada no peito do cavaleiro, fazendo-o cair e enviando a flecha na direção da copa das árvores. A adaga havia saído das mãos de Nion. Gully agarrou Alvo pelo braço e os dois avançaram para dentro da floresta, para longe dos homens.

— Vamos! — gritou enquanto o exército de Baltazar descia a colina.

O zumbido da floresta encantada foi substituído pelos gritos de guerra. Espadas retiniam. Os cavalos relinchavam. Alvo continuou correndo, com Gully ao seu lado. Olhou para trás. O choque dos metais faíscavam na escuridão. As armaduras brilhavam ao luar. Gully passou à sua frente.

— Mais rápido! — gritou, saltando sobre galhos caídos e rochas. Mas Alvo mantinha os olhos às costas. Observando as sombras por entre as árvores, e escutando o barulho das espadas e machados. Esperava para que Syran e os outros anões conseguissem escapar o mais rápido possível e se juntassem a ele logo. Libertou-se das garras de Gully e disparou para o mato, esperando lá até que Syran estivesse de volta ao seu alcance.

Ele esperou por alguns segundos, abaixando-se o máximo que conseguia atrás do arbusto. Escondido ali, ainda conseguiu ver dois cavaleiros da Rainha passarem correndo em seus cavalos sem o notarem, até que... Algo surgiu atrás dele, pegando-o de surpresa, pulou e agarrou seu braço. Então, o puxou para trás com força, o derrubando no chão.

Gully surgiu detrás das árvores secas e correu em direção a ele. Sacando o machado que carregava nas costas, pronto para derrubá-lo. Com uma velocidade incrível, atirou-o no ar, acertando o peito do homem que arrastava o Príncipe pelo chão.

— Vamos Alteza! — disse o anão. —Precisamos que fique em segurança.

Ele o levantou e Alvo saiu correndo. Mas havia uma moita densa, que bloqueava seu caminho. Eles viraram e viram o guerreiro gigante, o mesmo que havia tentado matá-lo durante o início da emboscada. Dessa vez, a flecha já estava em seu arco. Dessa vez, ele não o perderia.

Ele deixou a flecha voar. Em um instante, Gully se lançou na frente dele e recebeu a flecha no peito. Caiu no chão aos pés de Alvo se encolhendo de dor.

[...]

Os homens desceram a colina. Um deles galopou em direção aos anões com sua espada desembainhada. Beith se abaixou e a lâmina afiada cortou um tufo de seu cabelo. Outro atirou uma flecha em direção ao pescoço de Syran. Não o acertou, mas passou zunindo ao lado de sua cabeça. Syran olhou para as árvores, procurando apenas um rosto. Então ele o viu. Baltazar estava a cavalo, correndo pelos bosques à procura de Alvo. Seu cabelo oleoso caía sobre os olhos. Um hematoma havia se formado no rosto dele onde Syran o ferira.

Syran correu atrás dele, seus machados sacados. Terminaria o que havia começado na Floresta das Sombras. Enquanto Baltazar estivesse vivo, Alvo nunca estaria seguro. Baltazar iria segui-lo até Carmathan. Travaria uma guerra no Castelo do Duque e queimaria suas terras, não satisfeito até que tivesse o coração do Príncipe.

Correu pelo mato. Sombras se espalhavam ao seu redor, secando as folhas e a grama, murchando as flores e dispersando as fadas pelo céu. As criaturas da floresta desapareceram. As raposas foram para suas tocas, os jabutis se esconderam sob o musgo. Quando ele finalmente parou de correr, a floresta estava em silêncio. Não via Baltazar.

Examinou o espaço entre os troncos das árvores, mas era difícil ver alguma coisa na escuridão crescente. Sua respiração se espalhava em uma nuvem diante de si, o ar de repente estava muito mais frio do que antes. Em algum lugar atrás dele, um galho se partiu. Virou e viu o cavalo de Baltazar sair da floresta. Ergueu o machado, mas o cavalo passou sem o cavaleiro.

Syran o observou desaparecer por trás das árvores, percebendo, tarde demais, que era um truque. Baltazar avançou para fora da floresta atrás dele e desceu a espada, mas Syran se esquivou, e a lâmina arranhou seu braço. Seu bíceps deu uma fisgada. Olhou para a ferida, o sangue caindo sobre a grama murcha...

A Caça ao Cervo Real [Romance Gay] - Livro IWhere stories live. Discover now