Capítulo XVII

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Viajaram cinco quilômetros cruzando outro bosque, no qual a terra se abria em um pântano. Alvo tirou as botas de couro improvisadas e deixou seus pés descalços afundarem na lama. Arrastava-se, um passo de cada vez. Syran seguia atrás dele.

Ele havia lhe dito que esse era o caminho para Carmathan. Disse a ele para continuar cruzando o pântano. Mas a cada quilômetro completado, ele ficava mais desconfiado. Não conseguia enxergar a fortaleza do duque. Não via sinais de seus homens. Pensava somente no mapa que ele tinha desenhado no chão e naquela aldeia para a qual Syran havia apontado, o lugar para onde queria levá-lo inicialmente.

A água subiu. Encharcando o que lhes restava de roupa seca sobre o corpo. Seus pés chapinhavam pela terra molhada, a lama fria entre os dedos. Observava os peixinhos nadando em volta de seus tornozelos. Grupos inteiros deles vinham em sua direção para então dispararem para longe, movendo-se conforme ele se movia. Quando finalmente olhou para cima, notou as figuras escuras à frente. Estavam na margem do pântano, delineados contra o pôr do Sol, com arco e flechas pendurados nas costas.

Era tarde demais para voltar. Alvo manteve a cabeça baixa, esperando que não o reconhecessem. Quando se aproximaram, uma das figuras tomou a frente, o rosto escondido por um capuz preto. A pessoa apontava uma flecha para o peito do príncipe.

— Dizem que apenas demônios ou espíritos podem sobreviver à Floresta das Sombras. Qual deles é você?

Syran puxou os machados da cintura e entrou na frente do garoto, colocando-se entre ele e a figura encapuzada.

— Talvez vocês sejam espiões da rainha? — a pessoa continuou.

— Somos fugitivos da rainha — Syran informou.

Alvo olhou para cima, deixando a figura encapuzada ver seu rosto.

— Queremos dizer que você não corre perigo — arriscou. Descansou a mão no braço de Syran, sinalizando para que abaixasse os machados. Ele o obedeceu.

Então, a figura deu um passo para trás, deixando o capuz cair. A pessoa era uma mulher. Seu cabelo castanho estava trançado. Tinha feições delicadas e pequenas, um nariz estreito e bochechas salientes. Mas sua característica mais marcante era a cicatriz. A linha grossa rosada percorria o alto da testa, sobre o olho, e ia para baixo pela bochecha direita, parando logo acima do queixo.

Os outros baixaram as armas e tiraram seus capuzes. Eram todas mulheres e todas bonitas. Mas tinham cicatrizes idênticas, no mesmo local, cortando o lado direito de seus rostos.

— Onde estão os homens? — Syran perguntou.

— Foram-se — a mulher de cabelos castanhos respondeu. Então sorriu, oferecendo a mão para que Alvo se apoiasse. — Eu sou Anna — disse. — Seja bem-vindo.

[...]

Algumas horas depois, Alvo se sentou ao fogo, com um cobertor de lã jogado sobre os ombros. Estava usando roupas limpas e secas pela primeira vez em anos. As calças estavam um pouco grandes e a camisa era áspera, mas nunca se sentira tão luxuoso.

Viu quando uma mulher mais velha da aldeia. Costurou a ferida de Syran. A mulher o enfaixou com tecido limpo, amarrando gaze no local antes de acabar. Syran parecia mais calmo. Seu rosto era limpo e belo à luz do fogo.

A aldeia consistia em uma série de cabanas de palha construídas sobre estacas, a água rasa passava por baixo. Anna os levara de barco para sua casa rodeada por uma plataforma de madeira, a poucos metros do pântano. Quando chegaram lá, ela se sentou cm canto do deque com sua filha. A menina não tinha mais que 7 anos. As duas trabalhavam lentamente, limpando peixes e, em seguida, os pendurando em um pedaço de barbante para secar.

A Caça ao Cervo Real [Romance Gay] - Livro IOnde as histórias ganham vida. Descobre agora