Capítulo X

5K 690 49
                                    


— Por favor, você tem que acreditar em mim — disse, lutando. — Ela quer arrancar o meu coração.

O garoto estava tremendo. Seus olhos lacrimejavam. Olhava para o seu raptor com aqueles olhos azuis enormes. Ele nunca havia visto alguém tão aterrorizado em toda a sua vida.

— Eu juro! — disse ele.

Syran olhou para trás. Queria um momento para pensar. Queria um lugar para sentar, tomar um gole de bebida e pensar sobre a situação. Mas Baltazar e seus homens vinham em sua direção, as camisas finas ainda cobrindo seus rostos.

— Trabalho rápido! — Baltazar gritou. Puxava o colarinho para baixo e limpava o pólen de seus olhos.

Syran o estudou. Nunca gostou da sua cara e de seu nariz empinado. O garoto se levantou tentando se esconder atrás dele, tentando ficar tão longe de Baltazar quanto fosse possível.

— Ele... — o garoto sussurrou. — Foi ele quem veio até mim com uma faca.

— O que você pretende fazer com ele? — Syran perguntava dando um passo à frente para retardar Baltazar.

O lábio superior de Baltazar curvou-se em desagrado.

— Com o que se importa, caçador? — Voltou-se para os três guardas restantes, sinalizando para se moverem.

Syran segurou o garoto com mais força. Sua cabeça latejava de tantas horas sem beber. Com gotas de suor na testa, ainda queria lutar.

— Eu vou manter minha palavra quando a rainha mantiver a dela — disse ele. Afrouxou o aperto no braço do garoto, caminhando agora para trás, o empurrando para as profundezas da floresta e para longe dos homens de Baltazar.

Baltazar limpou o suor de seus olhos. — Você é um bêbado e um idiota — riu. — Minha rainha tem muitos poderes. Ela pode tirar vidas, ou conservá-las. Mas não pode trazer sua maldita família de volta dos mortos.

Syran estremeceu, as palavras queimando de uma maneira inimaginável.

— Mas ela me disse... — falou e percebeu que havia sido tolo o suficiente para permitir que um minúsculo fragmento de esperança rastejasse de volta para o seu coração.

Quando fechou os olhos, viu Sophie como ele a havia encontrado naquele dia. Ela usava seu vestido favorito, com os minúsculos lírios bordados na gola. A faca havia entrado logo abaixo da caixa torácica, rasgando o tecido. Havia outro corte em seu pescoço. Os aldeões disseram que alguém viera furtar materiais: as duas moedas de ouro que Syran tinha e as frutas e os legumes machucados, escondidos embaixo do lavatório. Sophie tentou detê-los. No momento em que Syran chegara, as mãos dela já estavam duras e frias.

O caçador, de repente, sabia o que precisava fazer.

Empurrou o garoto mais para trás, tentando mantê-lo longe dos guardas. Assim que ele se viu fora do alcance, correu para as árvores, não se preocupando em olhar para trás. Syran puxou o punhal de sua cintura. Atirou-o no peito de um guarda, bem ao lado do coração. O homem caiu para o lado, agarrando uma árvore para se apoiar. Em seguida, Syran pegou duas machadinhas que carregava em seu cinto. Manejou-as no ar, uma em cada mão.

Baltazar seguiu em frente, segurava sua espada e esperava chegar perto o suficiente do pescoço de Syran. Os outros dois guardas correram para cima dele primeiro. Syran bateu na cabeça de um com o machado. O guarda tropeçou para trás, momentaneamente atordoado e colocou a mão em seus cabelos louros, onde havia uma ferida aberta. Syran golpeou o outro, mas o guarda pulou para o lado. Syran continuou a lutar contra o homem, bloqueando cada um de seus golpes. Mas depois, com o canto do olho, viu Baltazar levantando sua espada. Baltazar estava se aproximando, pronto para atacar.

Syran atirou o machado no peito de Baltazar. Baltazar cambaleou para o lado. Os outros dois guardas se afastaram, de olho no outro machado na mão de Syran. Por um momento, ninguém se moveu. Todos eles observaram Baltazar recuperar o equilíbrio. Como por magia, não havia sangue em torno da ferida. Seu rosto voltava ao normal, um sorriso era o único sinal de que ele havia sido atingido. Puxou o machado do peito e riu, sentindo a pele lisa onde aquilo tinha entrado. Sua camisa estava rasgada, mas ele estava bem.

— A rainha me deu proteção — disse ele sombriamente. — Seu toque transferiu-me poder, e eu não posso ser ferido. Não aqui, dentro da Floresta das Sombras — ele riu quando jogou o machado em Syran. Errou e a lâmina se alojou em um tronco de árvore próximo.

A garganta de Syran secou. Nunca havia visto nada assim antes, um homem que não poderia ser ferido. Se havia algo de diferente, era que Baltazar parecia fortalecido pelo golpe. Baltazar o encarava furiosamente, as veias em seu pescoço se tornaram visíveis conforme ele levantava a espada.

Syran tentou pará-lo, mas seu braço não se ergueu a tempo. A espada de Baltazar o furou. O metal queimava à medida que rasgava a carne. Contorceu-se e correu para longe, esperando que não tivesse entrado muito na floresta. Quando Baltazar arrancou a espada, o sangue se derramou da ferida e escorreu pelas calças cinza esfarrapadas de Syran.

Os guardas recuaram, para deixar que Baltazar terminasse com a vida dele. Baltazar pulou, mas Syran se esquivou do golpe final, derrubando-o pelos tornozelos com o pé direito. Baltazar bateu no chão duro. Ficou ali por um segundo, momentaneamente atordoado.

Syran se abaixou, agarrou Baltazar pelas costas e o levantou, estremecendo com a dor que sentia do corte. Em seguida, o jogou em um trecho isolado de cogumelos, observando uma nuvem amarela que havia se expandido acima dele. Syran cobriu o nariz para não aspirar nada do pólen.

Os outros dois guardas levaram suas camisas até a boca. Baltazar tentava se levantar, mas o pólen já havia tomado conta dele. Seus olhos estavam vidrados. Tropeçou, as mãos estendidas, vendo algo que os outros não podiam ver. Estava sorrindo, a poeira amarela cobrindo suas mãos. Um amontoado daquilo estava preso ao seu queixo.

Syran tocou sua ferida e olhou para o sangue em seus dedos. Viu que dois guardas estavam a poucos metros de distância, de pé entre as árvores. Tinham suas espadas desembainhadas, as lâminas de prata destinadas a sua garganta. Não poderia lidar com os dois, não agora. Não ferido como estava.

Syran olhou para a Floresta das Sombras que estava para trás. A névoa havia se diluído. As vozes estranhas lhe sussurravam palavras que, pela primeira vez, ele jurava que entendia. Elas estavam o chamando da escuridão, insistindo para que ele fosse para lá. Puxou seu machado da árvore e correu o mais rápido que conseguia em direção ao mato denso, atrás do garoto.

A Caça ao Cervo Real [Romance Gay] - Livro IDär berättelser lever. Upptäck nu