Capítulo XII

5.2K 637 63
                                    


Ele não podia argumentar, mas puxou o braço e caminhou penosamente ao seu lado. Eles andaram por muito tempo. Alvo se atentava aos passos regulares dele conforme a luz diminuía na floresta. A escuridão entre as árvores estava ainda mais ameaçadora. As sombras se moviam entre os arbustos ao lado deles, mas Alvo tentava ignorar isso, apesar de ouvir os animais selvagens respirando por entre elas.

Enquanto caminhavam, o Caçador falou um pouco. Disse a ele seu nome e que havia sido convocado pela rainha para liderar um pequeno grupo pela Floresta das Sombras, um lugar em que estivera quando rastreava animais. Quando Alvo perguntou sobre a recompensa, ele disse apenas que a rainha havia mentido.

Seguiram o riacho por mais uma hora e, depois, começaram a subir um morro onde a floresta se abria em uma pequena clareira. O solo quase não tinha folhas nem plantas, o que fez com que o lugar parecesse seguro para repousar. Alvo se sentou em um tronco podre. Syran se abaixou ao lado dele. Desprendeu o cinto e tirou o colete e a camisa, expondo o ferimento. Alvo se encolheu só de olhar para aquilo. Ele andou lentamente, para pegar a garrafa de bebida.

— Aqui! — disse finalmente. — Deixe eu ajudar — Desrosqueou o cantil pesado e o segurou.

— Você pode derramar um pouco de bebida aqui? — ele perguntou. Tocou no corte de cinco centímetros por onde a espada havia entrado. — Não acho que tenha atingido algo vital. Se não, eu não teria chegado tão longe.

Alvo ensinou a ferida de bebida e se encolhia conforme ele se contorcia de dor. Então, rasgou um pedaço de pano limpo, da manga de sua camisa, e o pressionou contra a ferida.

— De nada — Ele sussurrou quando Syran permaneceu em silêncio por um longo tempo.

— Ficaremos aqui está noite — anunciou finalmente.

Alvo limpou um espaço no chão e se sentou. Olhou para ele, que ainda estava segurando o pano sobre a ferida, e examinando as árvores sobre os ombros dele.

— Você não me respondeu — disse o Príncipe.

— O quê? — Syran tirou o cabelo suado da testa.

Alvo se curvou, segurando os joelhos para blindar o frio.

— Para onde estamos indo? — repetiu a pergunta. Syran se inclinou para a frente. As raízes das árvores ao redor deles brilharam com uma luz fosforescente misteriosa, lhes dando claridade o suficiente para verem um ao outro. Syran pegou um graveto do solo e desenhou uma caixa, alguns triângulos e um círculo gigante. Apontou para a caixa.

— Aqui está o Castelo da Rainha — ele disse. Então, o graveto apontando os triângulos e o círculo ao lado dela, as Montanhas do Norte e a Floresta das Sombras. Aqui, depois delas, há uma aldeia.

Alvo balançou a cabeça. Tomou o graveto dele, escrevendo as palavras no solo: "DUQUE ARCHIBALD". Sublinhou o nome duas vezes.

— Eu preciso ir para o Castelo do Duque.

Syran pegou o graveto da mão dele.

— Você irá onde eu o levar.

— Eu não escapei da Rainha para me tornar seu prisioneiro, caçador. — Alvo o confrontou, mas sabia que ainda precisaria da ajuda de Syran para sair daquele lugar.

O Príncipe estudou as roupas do Caçador, notando as botas desgastadas e as calças com buracos. Se ele não estava fazendo aquilo por Honra, lealdade ou bondade, haveria outras razões para fazê-lo.

— Há uma recompensa o aguardando — ele sugeriu. — Há nobres, e um exército, que lutam em nome do meu pai. E que lutarão por mim.

Syran abaixou sua camisa, aparentemente ignorando a mancha de sangue seco nela. Syran riu.

— O Duque luta? — questionou. — Ele se esconde atrás das muralhas. Eu conheço ovelhas que têm lutado mais que ele.

— Eles lhe darão duzentas peças de ouro — Alvo continuou, implacável. — Nós temos um acordo?

O caçador tomou um gole gigante de sua garrafa. Secou a boca com o dorso da mão e, então, sorriu. Ele já estava no meio da Floresta das Sombras. Chegara até ali por fazer um acordo com a realeza, e agora, um outro acordo era o melhor que poderia conseguir. Pensou. Mais uma vez não tinha nada a perder.

— Ótimo. Acaba de contratar o melhor Guarda-costas do reino.

Alvo chegou mais perto, investigando os olhos dele. Podia sentir o cheiro do álcool em sua respiração.

— Jure.

— Eu juro — Syran disse. — Constantemente. Essa é uma das minhas maiores qualidades — sorriu afetadamente, uma covinha aparecendo em sua bochecha.

Alvo o olhou de relance e ignorou seu sarcasmo. Não havia tempo para joguinhos. Finalmente, ele assentiu e seu sorriso sumia à medida que se mostrava sincero.

— Isso é um acordo, então — disse ele.

Alvo foi até a clareira e pegou uma braçada de folhas secas. Colocou-as no chão e foi pegar mais folhas, quero gerar alguma forma de conforto. Depois se deitou sobre o travesseiro provisório. Olhou para a floresta negra acima. Pássaros gigantes cruzavam o céu. Conseguia ouvir o som de um rosnado ao longe. Encolheu-se mais para tentar se aquecer. No dia seguinte eles retomariam o caminho para o Castelo de Duque Archibald. Com um pouco de sorte, chegariam à fortaleza dentro de uma semana.

Voltou-se para Syran, que havia se deitado ao lado do tronco, com sua mão comprimindo o pano ensanguentado.

— Você acha que... — disse ele, a preocupação voltando à medida que a noite caíra sobre eles — ...eles nos seguirão?

Syran virou para ele, seus olhos cinzas, iluminados pelo brilho das raízes das árvores.

— Eu não sei. Eles são tolos. Poucos sobreviverão — coçou a cabeça e tomou outro gole de bebida.

— Essa é uma boa ou má notícia? — Alvo riu desconfortávelmente. Syran não respondeu; apenas chacoalhou a garrafa para tentar saber quanto ainda tinha de bebida lá dentro. Alvo se sentou e estudou o rosto do caçador, se perguntando sobre aquele guia que havia arrumado. — Quão profundo você já entrou na Floresta das Sombras?

— Nós passamos por essa marca há alguns quilômetros — murmurou.

Alvo ficou olhando para os bosques, estava ouvindo barulhos estranhos, enquanto ele continuou bebendo aquela bebida horrorosa sem perceber nada. Tomou um gole, depois outro e continuou bebendo até que seus movimentos ficassem mais lentos. Dentro de minutos, roncava feliz, deixando o príncipe completamente sozinho.

Os barulhos terríveis da floresta o cercavam. Cada galho estalando ou pássaro gritando causava arrepios em todo o seu corpo. Fechou os olhos, desejando que o resto do mundo sumisse, mas sentia insetos se arrastando por suas pernas. Alguma coisa zumbia em sua orelha. Demorou um longo tempo até que dormisse.

A Caça ao Cervo Real [Romance Gay] - Livro IWhere stories live. Discover now