Capítulo XVI

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Ismalia permaneceu no Jardim do claustro, esfregando o dorso da mão, onde a pele estava envelhecida e enrugada. Fechou os olhos por um momento e viu o que Baltazar vira. As visões vieram em flashes rápidos, um vislumbre de um cavalo, uma ferida aberta. Os mercenários estavam atrás dele, abrindo caminho através do grosso mato com suas espadas. Em algum lugar da Floresta das Sombras um homem gritou, o som tão estridente que fez o cabelo do pescoço dela se eriçar.

Ela tentou tirar Baltazar do terreno perigoso, apesar das atuais limitações de seus poderes. Agora que ele estava no interior da floresta, ela não podia sentir tão claramente onde estava ou com quem estava. Os rostos dos homens não tinham traços. Porém, com o passar das horas, vira a silhueta dele atravessar um pântano e percorrer um campo denso de capim alto e flexível. Estava vivo, a camisa cobrindo a boca e o nariz quando saiu do estupor causado pelo pólen.

Os vislumbres do garoto foram o que a assustou. Alvo estava com ele, o caçador, movendo-se em direção aos arredores da floresta. Ele não estava ferido ou mesmo prejudicado pela floresta perigosa. Em apenas algumas horas, eles emergiram da vegetação rasteira. E se Baltazar não conseguisse? E se a Floresta das Sombras o devorasse como fizera com tantos outros?

Ismalia voltou pelo jardim, com passos lentos e deliberados. A grama estava murcha e marrom. Havia apenas uma única flor na macieira, como se todo o castelo fora enfraquecido como ela e agora estava vulnerável ao tempo e a morte. Olhou para a flor rosa-claro, suas pétalas murchando nas bordas. Ela também cairia. A flor murcharia e cairia. A árvore apodreceria de dentro para fora.

Apertou-a entre os dedos, torcendo a flor pelo ramo seco. Ela era tão macia e suave. Então, fechou os olhos, tentando aproveitar os poderes dela, levando seu capacho para perto do garoto.

— Encontre-o — sussurrava enquanto as pétalas se desfaziam em sua mão.

[...]

Syran caminhou até a orla da floresta, onde as árvores grossas desciam por uma ladeira íngreme. Sinalizou para que Alvo o seguisse. Então, colocou ambos os machados em um lado do quadril e se sentou, escorregando pelo morro lamacento. Tropeçou no final e a dor começou a latejar em seu ferimento. Agora que a bebida havia acabado, sua ferida doía mais do que antes. A cada torção era como se outra espada rasgasse sua carne.

O nevoeiro estava menos denso, porém mal conseguia decifrar a estrutura trinta metros acima, um pouco além de uma pilha de pedras grandes. Moveu-se em direção a ela, subindo em uma pedra para obter uma visão melhor. Um riacho serpenteava entre os bosques. Uma ponte de pedra ligava ambas as margens. Lá, além dela, a Floresta das Sombras finalmente terminava. Havia quilômetros de campo aberto em todas as direções.

— Não pode ser tão fácil — murmurou para si mesmo.

Ouviu os passos de Alvo se aproximando por trás.

— Este é o fim da Floresta? — perguntou ele.

Syran virou para olhar a mata. As árvores enormes se erguiam acima deles.

— Aparentemente — disse ele, olhando para a ponte. Aquele era o caminho certo, ele sabia disso. Rastreou o cervo para o mesmo local. Mas, agora que chegaram, vendo o fim da floresta tão próximo, era difícil de acreditar que tinham conseguido, que o pesadelo havia terminado. Alcançaram o outro lado. Ele olhou para Alvo, o rosto se iluminando com um sorriso.

Ele passou pelo caçador em direção a ponte. Estava praticamente correndo.

— Quão longe fica o castelo do duque? — gritou por cima do ombro com a voz altiva e alegre.

A Caça ao Cervo Real [Romance Gay] - Livro IWhere stories live. Discover now