Capítulo IV

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Alvo pressionou o rosto contra as barras. Uma hora tinha passado desde que levaram Rose. Ele viu quando Baltazar desceu até lá, e puxou a moça de sua cela. Rose tinha gritado e debatido, mas o brutamontes segurou seus braços com força, e ela não teve a menor chance. Ele a levou para cima, ignorando Alvo, que também implorava para que parasse.

Ele queria que a garota estivesse bem. Queria acreditar que tudo era um mal-entendido e que ela seria liberta sem ser machucada. Mas a preocupação o consumia. Conhecia Ismalia muito bem. E o que quer que Rose tivesse feito (Ela havia feito alguma a coisa?), Alvo nã conseguia afastar a sensação de que a conversa de hoje havia sido a sua última.

Ele entregava as mãos e andava de um lado e para o outro da cela. Não conseguia entender o que estava acontecendo. Duque Archibald estava vivo, e liderava uma rebelião em nome de seu pai. Parte da nobreza escapara das garras de Ismalia. Lordes e cavaleiros não desistiram de lutar. O povo não desistiu de lutar... A lembrança dele lhe trouxe esperança. A cela parecia muito menor agora. Não suportava mais o cheiro de mofo, ou as baratas correndo pelos cantos à noite. Não aceitava não poder aproveitar o Sol. O que estava adormecido dentro dele começava a se agitar novamente, depois de tantos anos. Precisa sair dalí, ir para longe daquela prisão úmida e encontrar Duque Archibald. Precisava de sua vida novamente.

Tão logo o pensamento cruzou sua mente, ouviu um som sibilante. Virou e viu um pássaro empoleirado no parapeito da sua cela. Lembrou-se das aves distintivas da sua infância. Suas penas pretas elegantes as faziam se destacar no céu cinza-claro. Sua cauda tinha mais do que a metade do comprimento de seu corpo, e suas asas eram de um azul deslumbrante. Ficou ali, a cabeça inclinada em sua direção, como se o houvesse chamado até ele por alguma estranha magia.

Foi até o parapeito e o observou. Ele bateu as asas uma vez, as penas azuis capturando a luz.

— Você quer me dizer alguma coisa? — murmurou, questionando-se se estava imaginando aquilo. — O que você está fazendo aqui? — a ave saltou para dentro da cela, passando por entre as grades enferrujadas. Vôou por todo aquele pequeno espaço, apoiando-se nas pedras, nas grades, e pairando no ar. Alvo a observava quieto, com medo de espantar o pequeno visitante de alguma forma. Isso nunca havia acontecido antes.

Sem demorar muito ele encontrou seu caminho de volta para fora da cela, passando novamente pelas grades do parapeito. Antes de alçar vôo para voltar ao mundo lá fora, ele pousou sobre uma das grades, com as patinhas inquietas e sacudindo suas penas. Virou a cabeça olhando diretamente para o príncipe aprisionado, como se aquele fosse um recado trazido para ele, em seguida saiu para o céu.

— Espere! — Alvo gritou, mas o pássaro misterioso já estava bem longe no céu.

Ele levou um tempo para perceber que uma das grades enferrujadas do parapeito estava bambeando, já quase solta. Justamente a que o pássaro, a pouco, estava pousado.

Ela estava ao seu alcance com boa parte para fora. Alvo esticou o braço e agarrou a grade de metal. Ela devia ter uns quinze centímetros de comprimento, a parte inferior ainda estava alojada na pedra. Ele a moveu para frente, depois para trás, repetindo o movimento até que a soltou.

Ouviu passos no corredor de pedra. Ouviu o choro abafado de Rose e depois a abertura da porta da cela dela. Ela ainda estava viva. A perceção o motivou.

— Vamos! — Alvo murmurou para si mesmo. — Tenha coragem.

Após fecharem a porta da outra cela com violência, ele ouviu passos se aproximando da sua cela. Não podia deixar que o vissem com uma arma na mão. Correu para deitar-se em sua cama-esteira e se cobriu, ainda apertando o pedaço de grade com as mãos embaixo do cobertor.

Alvo fingiu dormir. Podia ouvir passos do lado de fora da cela. Sapatos estalavam contra o chão de pedra enquanto andava rapidamente para frente e para trás em frente à porta. Ele finalmente abriu os olhos, como se tivesse acabado de acordar. Era Baltazar.

— Acordei você? — perguntou ele. Depois virou a chave na fechadura e entrou.

Alvo assentiu. Segurou o pedaço de ferro ainda mais apertado, perguntando-se o que o braço-direito da Rainha poderia querer com ele.

— Você nunca entrou antes — afirmou calmamente. Posicionou a grade de ferro inclinando-a entre o polegar e o indicador, deixando a ponta enferrujada para fora.

Baltazar inclinou a cabeça, estudando-o. Alvo ofereceu-lhe um sorriso, tentando atraí-lo para mais perto com os olhos.

— Minha rainha nunca permitiu que ninguém entrasse aqui — disse ele. — Ela quer você só para ela — Ele parecia encantado com a beleza do príncipe. Não conseguia desviar a atenção de sua pele branca e seus olhos extremamente azuis.

— Eu tenho medo dela — Alvo arriscou. Estudou o rosto dele. Ele não mudara nada desde a noite do casamento de seu pai. Embora seu rosto tivesse marcas e pequenas cicatrizes, ele não aparentava ter envelhecido em nada desde que o príncipe o vira pela última vez há dez anos atrás, exceto pelo cabelo, que estava um pouco mais cinzento. Seu nariz era empinado na ponta, e sua franja estava perfeitamente cortada para baixo na frente, para falhamente cobrir seus pontos de calvície e a testa ampla.

Ele andou em direção ao príncipe cativo e se sentou à Beira da cama. Alvo contou cada uma de suas respirações, tentando manter a calma. Endireitou-se e se sentou ao lado dele. Seu punho ainda estava fechado, com a arma improvisada entre os dedos.

— Está tudo bem, príncipe — Baltazar o acalmou. Estendeu a mão e tocou o braço dele. — Você nunca mais ficará preso em uma cela.

Estava vestindo a mesma roupa de couro preto que sempre usava, o colarinho se estendendo para cima para esconder o pescoço. Estava tão perto dele agora que podia ver seu reflexo na roupa brilhante. Alvo apertou o punho por baixo do cobertor.

— O que ela quer de mim? — perguntou, levantando os olhos para ele. Baltazar afastou o longo cabelo do rosto dele, os dedos grossos parando sobre as bochechas. Alvo se esforçou muito para não se encolher ao toque dele.

Então, ele pegou algo em sua cintura.

— Seu coração batendo — disse ele, agarrando firmemente sua adaga e a apontando para o peito do príncipe.

A Caça ao Cervo Real [Romance Gay] - Livro IWhere stories live. Discover now