Capítulo XXVII [+ Aviso]

3.2K 414 33
                                    


Syran ficou parado na porta da tumba fria, uma garrafa na mão. Era estranho ver o garoto daquele modo, silencioso e imóvel, com os braços cruzados sobre o peito. Ele repousava sobre o bloco de pedra como se estivesse apenas descansando ali pela noite, desfrutando de um longo sono. Se não fosse por seu rosto pálido e os lábios frios e roxos, nunca saberia que ele estava morto.

Então, havia chegado até ali depois de tudo. Manteve sua promessa, apesar de tudo, e o levara ao castelo do duque. Nunca imaginou chegar ali daquele jeito, no entanto. Eles o carregaram pela floresta até a fortaleza, entregando-o finalmente para o duque, e explicando o que havia acontecido. Ismalia o tomara deles. De alguma forma, ela passara por eles durante a noite. Entrou no acampamento onde dormiam e o matou. De alguma forma, eles não haviam notado a presença dela até que fosse tarde demais. Syran tomou outro gole da bebida, apreciando o ardor familiar na garganta.

Tinha visto a fila de enlutados no castelo do duque. Mães trouxeram seus filhos para vê-lo. Aquele que seria o futuro rei. O Príncipe, que acreditavam estar morto, havia sido tomado deles mais uma vez. Alguns adultos passaram por ele com lágrimas nos olhos. Ajoelharam-se diante do corpo e oraram. Ele representava algo para eles, e isso poderia ser afirmado por toda a tristeza que sentiam. Não conheceram o filho do rei, nunca haviam visto seu sorriso e não haviam apreciado o olhar feroz que ele tinha caso alguém ousasse desafiá-lo. Sua morte também era um fim para eles, e toda a pouca esperança que ainda restava no coração do povo.

O duque havia dito que não retaliaria. Não haveria guerra em honra do Princípe morto. Era um covarde , como Syran sempre havia pensado.

Quantas pessoas mais teriam de morrer pelas mãos da rainha antes que ele a atacasse? Qual era o objetivo de um exército, ainda que pequeno, se não lutar?

Syran deu um passo em direção ao garoto, bebendo até a última gota de álcool, desejando que aquilo anestesiasse sua dor.

— Aqui está você — disse, sua voz ecoando na câmara fria. — Onde isso termina. Tão belamente vestido. — Estava em cima dele, percebendo a rigidez de seus dedos. Era quase insuportável vê-lo daquela maneira, tal como Sophie havia estado. Tão drenado de toda a realidade. Alvo estava exatamente ao lado dele quando ele foi dormir. Viu que ele descansara contra a pedra, perdido em seus pensamentos, suas mãos penteando os cabelos emaranhados. Viu-o pouco antes de morrer.

Como ele não ouviu Ismalia? E por que ela não tinha vindo atrás dele em primeiro lugar, o homem que matou seu general, e grande parte de seus cavaleiros? Odiava a si mesmo por ter deixado aquilo acontecer. Havia acordado com a sensação de que algo estava errado. Retirou-se para a floresta. Voou pelo campo de bétulas prateadas, vendo a figura da Rainha pairando sobre ele. Ela mudou de forma assim que ele a golpeou com o machado.

— Você está dormindo. — Ele tentava compreender aquilo desesperadamente, tomando mais um gole do cantil. — Prestes a acordar e me dar mais dor de cabeça. Estou certo?

Estendeu a mão, deixando-a pairando logo acima dele, incerto se poderia fazê-lo. Lentamente, voltou sua palma para baixo, sentindo quão frio ele estava. Pegou a manga dele, atentando-se as vestes brancas e coberto de contas douradas que lhe haviam colocado. Era realmente as vestes de um membro da realeza, muito diferente dos trapos que vestia quando o encontrou na Floresta das Sombras.

Mas, de alguma forma, sabia que ele não se sentiria confortável se pudesse se ver, e teria odiado tudo aquilo. Engoliu em seco.

Alvo não gostaria que ele se transformasse em algum porco estabanado, não depois de tudo o que enfrentaram juntos. Não depois dele.

— Você merecia algo melhor — disse suavemente. Estudou seu rosto. Seu cabelo negro havia sido penteado para trás, deixando seu rosto ainda mais limpo.

— Ela era minha irmã — disse ele, falando como se ele estivesse vivo. As palavras vieram mais fáceis com a bebida. — Essa era sua pergunta que ficou sem resposta. O nome dela era Sophie. Quando voltava das batalhas, eu carregava comigo o cheiro da morte e a ira. Eu a amava mais do que qualquer coisa ou qualquer pessoa. Eu a deixei fora da minha vista e ela se foi.

Ele abaixou a cabeça.

— Voltei a pensar em mim mesmo novamente. E nunca mais me preocupei em cuidar de ninguém, nem mesmo de mim. Até conhecer você... Em certos momentos você me fez lembrar dela. Seu espírito, seu coração. E agora você também se foi. — Vacilou sobre as palavras, sentindo o nó aumentar no fundo da garganta. — Vocês mereciam algo melhor do que eu... E eu sinto muito por ter falhado com você também.

A luz das tochas projetavam um brilho especial no rosto dele. Estendeu a mão, penteando uma mecha de cabelo que estava sobre a testa.

— Você teria sido o melhor rei que qualquer um de nós poderíamos ter tido. — Inclinou-se e pressionou os lábios contra os dele, apenas por um momento, o gesto o acalmou. Então, jogou o cantil no chão. Sim, estava bebendo novamente. Estava certo de que ele teria odiado isso também.

Syran deixou a câmara de pedra, seus passos ecoando nas paredes. O caçador não olhou para trás. Tivesse ele virado e o estudado, poderia ter visto a cor tênue voltando ao rosto dele ou a forma como as pálpebras tremeram. Os lábios de Alvo se separaram, ainda que levemente. Então, ele puxou sua primeira respiração, o minúsculo arfar quase inaudível na tumba gigante.



____________________________________________

Oi gente!, passando aqui pra dar alguns recados, bem rapidinho...

Mas antes de qualquer coisa, quero dizer que, sim, eu sei que minhas postagens são bem irregulares rsrs, por isso quero começar agradecendo quem conseguiu chegar até aqui, e continua lendo a minha história, quer dizer a história do Alvo e do Syran. Obrigado pela confiança e pela paciência.. Só por isso já amo vcs D+, haha 😘😘😘

Pra não perder tempo, vamos lá!

1° recado - Como puderam perceber eu acabei de mudar o nome da obra e a capa. Sei que já fiz isso algumas vezes, mas dessa vez é oficial, JURO!!! Apenas dei uma limpada no título para deixá-lo mais fácil e original, e finalmente fiz uma capa que me agrada visualmente e que acho que condiz bastante com a história.

Pfvr me digam o que acharam dela, mas sejam bonzinhos rsrs.. (Inclusive, quem tiver interesse e quiser ver como fiz a capa, tem vídeo lá no meu canal do processo de construção da imagem).

2° recado - Chegamos ao capítulo 27, e estamos caminhando para o final dessa história. Estou ficando bem feliz com a conclusão desse "conto de fadas gay" (como gosto de chamar), e espero que vcs tbm fiquem. Enfim, pelas minhas contas o capítulo 30 será o último (e pelo meu pequeno TOC com números fechados, tbm 😒).

Essa obra estará finalizada ainda esse mês.

3° recado - Com o fim do processo de escrita e postagem chegando, decidi que agora vou trabalhar bastante na divulgação durante o processo de edição (que é o próximo), mas para isso vou precisar da ajuda dos leitores que realmente gostaram desse livro.

Como vcs podem me ajudar? Muito fácil, é só verificar se deram as estrelinhas em todos os capítulos até aqui, e comentar sempre que possível. Além disso, estou criando um BOOKTRAILER, para ampliar o alcance deste conto. Prometo caprichar bastante nele, e conto com vcs para assistí-lo, comentá-lo e compartilhá-lo com o resto do mundo, táh?!.

O BOOKTEASER sairá dia 28/06/19, e o BOOKTRAILER no dia 07/07/19, no meu canal no YouTube; "G. R. Ramoz".

Fiquem atentos!

Até lá!

A Caça ao Cervo Real [Romance Gay] - Livro IUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum