Capítulo IX

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Syran estava na entrada da Floresta, observando as sombras à espreita entre as árvores. Havia estado lá antes, mas nunca havia ultrapassado 300 metros. Sua última visita fora depois de a rainha ter chegado ao poder. O alimento era escasso. Ele perseguia um jovem antílope pela clareira quando o animal disparou na neblina. Todos na aldeia sabiam que a Floresta das Sombras engolia homens inteiros. Todo mundo sabia das cobras gigantes que se enrolavam em torno das pernas, lentamente esmagando a vida de qualquer corpo, e as flores venenosas que poderiam matar com apenas um toque. Mas seu estômago estava vazio, e era difícil resistir ao apelo de uma semana de carne.

Poucos minutos depois de entrar na névoa, foi mordido por uma aranha. Era uma coisa gigante, vermelha e cinza, que desceu de uma das árvores. Ele só a notara quando ela já estava sobre ele. Levou três semanas para se recuperar. A carne apodreceu em torno da picada. Teve febre por quase uma semana e convulsões violentas o acordavam durante a noite. Havia jurado que nunca voltaria.

Mas agora, depois de sofrer com seu próprio inferno, a Floresta das Sombras não parecia tão ameaçadora. Ele estava sozinho. Não tinha ninguém esperando por ele. Tudo o que a Floresta poderia tornar dele já o tinha feito.

— Façam exatamente o que eu fizer — disse a Baltazar, que estava atrás dele com quatro de seus soldados a reboque. Estavam todos suando em bicas, os rostos pálidos de medo.

Syran começou a entrar na névoa. Suas mãos tremiam de tantas horas sem beber. Estendeu a mão para pegar a garrafa de bebida que trazia na sela do cavalo, mas depois parou, pensando em algo melhor para ela. Poderia comemorar uma vez que encontrasse o prisioneiro.

Caminharam até que o solo se transformou em terras pantanosas. Entrou no pântano, pressionando a bota em uma das pedras cobertas de musgo à frente dele. Afundou alguns centímetros no brejo, mas a pedra era firme o suficiente para sustentar seu peso. Pisou em outra pedra, depois em outra, ouvindo o chapinhar suave de lama embaixo dele. O lodo trazia veneno em si. Poderia dizer isso por causa, dos ossos de pequenos animais que emergiam das profundezas. Baltazar o seguia e seus homens vinham logo depois.

Continuaram o caminho em silêncio, ganhando o pântano gigante com uma pedra de cada vez. Syran o cruzou primeiro e ajudou os outros a ganharem o terreno mais firme. Pássaros gigantes circulavam acima. Um deles pousou e quase acertou a cabeça de um dos soldados. Syran tentava ouvir ramos estalando ou folhas crepitando pelos bosques, mas ouvia apenas os sussurros estranhos da floresta. As pessoas diziam que aqueles bosques caçavam as fraquezas das pessoas e as forças da escuridão poderiam atrair quem quer que fosse, pois conheciam seus desejos mais profundos. Enquanto seguia em frente, as palavras eram inaudíveis, mas ele ouvia as vozes fracas que vinham da direção das árvores.

Baltazar passou por ele, entrando em um campo de cogumelos, mas Syran agarrou seu braço:

— Exatamente como eu fizer — disse. Então, puxou a camisa suada para fora do colete de couro para cobrir o nariz e a boca.

Baltazar e seus homens fizeram o mesmo.

Enquanto caminhavam pelo campo de cogumelos, o pólen voava em torno deles, com algumas partículas amarelas aderindo aos cabelos e aos rostos deles. Syran se ajoelhou, estudando os cogumelos esmagados aos seus pés. Havia uma fileira deles que os levava para fora do campo, para um trecho de árvores delgadas. Moveu alguns cogumelos para o lado, o que lhe revelou uma pegada no chão.

Manteve os olhos nas árvores diante dele. Algo se moveu por trás delas. Estava tão concentrado que não percebeu que um dos homens de Baltazar havia andado para o outro lado do campo, onde uma poça se espraiava, sua superfície refletia o céu cinzento. Syran virou quando uma criatura sombria emergiu das profundezas, espetando seu peito com uma cauda. Dentro de segundos, o homem foi arrastado para baixo, suas costas desaparecendo sob a superfície vítrea.

Os outros homens queriam correr de lá, mas Syran ergueu a mão para detê-los. Apontou para as finas árvores cinzas. Tinha certeza de que o prisioneiro que escapara estava lá, podia ouvi-lo lutando contra o emaranhado da vegetação rasteira. Syran estava prestes a pegar seu machado quando um galho se partiu. A figura emergiu das árvores e correu na direção oposta, penetrando ainda mais na floresta sombria.

Syran o perseguiu, deixando a camisa cair de seu rosto. Moveu-se rapidamente pela névoa espessa, tentando não apoiar seus pés em qualquer lugar por muito tempo, com medo de que os musgos e as trepadeiras se enroscassem em seus tornozelos. Sua presa estava distante apenas seis metros. Moveu-se em meio à floresta densa, ziguezagueando entre as árvores, até que desapareceu na neblina. Syran reduziu a velocidade, procurando no terreno nebuloso. Avistou alguns arbustos grossos à frente, à sua direita. Os ramos estavam quebrados por onde ele havia passado.

Num movimento rápido, chegou até o arbusto e segurou uma das pernas dele com a mão. Não precisou de muita força para arrastá-lo, mas ele lutava assim mesmo, contorcendo-se sob seu controle. Era pequeno.

— Deixe-me ir! — ele gritou. Olhou para seu capturador com seus grandes olhos azuis.

Syran recuou por um momento, incerto sobre o que fazer. Ele era muito mais jovem do que ele imaginava, não tinha mais de 17 anos. Suas pernas estavam cobertas de arranhões e hematomas. Tinha a pele mais branca que já havia visto, com lábios muito vermelhos e cabelos pretos que caíam pelas costas. Quando ouviu a respeito de um prisioneiro, imaginou um feiticeiro manejando facas ou algo do tipo. Definitivamente, ele não esperava por esse garoto, de aparência tão frágil e indefesa.

Ele o ajudou, mantendo seu braço ao redor do braço dele. Ele lutava e acabava afundando os calcanhares na lama. Quando o agarrou, ele mordeu sua mão e lhe tirou sangue.

— Basta! — Ele o puxou de volta para a clareira, tentando trazê-lo para onde Baltazar e seus homens o esperavam.

Mas o garoto lutou, dando um duro golpe em seu pescoço.

— Ela vai me matar! — gritou e seus olhos lacrimejaram. — Eu fui seu prisioneiro por dez anos e agora ela vai me matar por razão nenhuma. Eu não fiz nada de errado.

Observando seu cabelo cheio de nós e sua roupa esfarrapada. Syran viu que ele estava dizendo a verdade. Mas dez anos... "Por que a rainha precisaria trancafiar um garoto por tanto tempo?": Syran balançou a cabeça, tentando não ceder aos pedidos desesperados do garoto.

— Não é da minha conta o que você fez. Mas você não é o primeiro prisioneiro a se clamar inocente.

As pernas do garoto falharam. Ele caiu no chão.

A Caça ao Cervo Real [Romance Gay] - Livro IWhere stories live. Discover now