Capítulo XI

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Alvo disparou pela floresta. Mantinha os olhos no chão, saltando sobre troncos caídos e serpenteando entre os cogumelos, tomando cuidado para não levantar o perigoso pólen. Arbustos espinhosos cortavam suas pernas. Um galho chicoteou seu braço e fez um vergão vermelho e dolorido. Mesmo com todo o pavor que sentia, ele continuava correndo sem olhar para trás. Começou a descer uma encosta que terminava em um longo riacho coberto pelo nevoeiro.

Mas eles o encontraram. Entraram na Floresta e arriscaram morrer só para capturá-lo. E haviam trazido aquele homem terrível, com suas roupas manchadas de suor e álcool. Nunca havia visto alguém tão sujo. Quem era ele? E por que havia aceitado entrar na Floresta das Sombras? Ele podia entender por que Baltazar o seguira. Ismalia o controlava, lhe dizendo o que fazer, o que dizer, como se comportar. Ele nunca teve escolha. Os guardas simplesmente faziam o que lhes era dito. Mas o caçador, era assim que eles o chamavam, não era? Por que veio até aqui, arriscando sua vida, se ele não precisava fazê-lo? Ele mencionou alguma coisa sobre sua família, e isso era tudo do que Alvo se lembrava.

O Príncipe continuou a descer a encosta escarpada. As trepadeiras finas, que se agarravam nas laterais do morro, enroscavam em seus tornozelos, prendendo-o à terra. Ele os arrancava e se aproximava do riacho. Quando quase o havia alcançado, uma mão pesada pousou em seu ombro. Outra cobriu sua boca, o impedindo de gritar. O caçador fedorento o puxou para si, um dedo sobre os lábios para pedir silêncio. Quando ele não viu mais sinal de resistência, o soltou.

Ele sentia repulsa do sujeito: ele havia tentado entregá-lo para Baltazar! Estava trabalhando para os soldados de Ismalia para que pudessem arrancar seu coração. Mas e agora? Alvo sabia que ele o havia deixado fugir. Que já poderia estar morto se ele assim desejasse. Por que ele mudou de ideia? E por que ainda o seguia? A incerteza aumentava sua ira.

Então, ele girou seu punho para trás e lhe acertou no peito o mais forte que conseguiu. Ele perdeu o equilíbrio, Alvo o empurrou com força e conseguiu tempo suficiente para correr na direção oposta.

— Pode correr — Ele ladrou quando Alvo seguiu em direção à margem lamacenta. — Você não conseguirá escapar, mas o aviso foi dado. Então minha consciência está tranquila — Ele deu de ombros.

Esse caçador era profundamente irritante, mas ele parou e ficou olhando o riacho mais de perto. Estava cheio de enguias. Seus corpos escuros se contorciam sob a água. Havia tantas delas que a água estava negra. Engoliu em seco sentindo que talvez, só talvez, ele estivesse certo. Temeu ir adiante. Ficaram quietos por um momento até que o Caçador perguntou.

— Por que a rainha o quer morto?

Ele virou e notou os seus olhos cinza pela primeira vez. Ele tinha braços musculosos e um tórax largo. Seus cabelos cor de palha desciam até os ombros. Percebeu que ele havia sido ferido na luta. O sangue tingia sua camisa e se espalhava pela roupa de couro.

— Você está machucado — sussurrou quando o viu pressionar a ferida. Ele acenou, ainda esperando que Alvo respondesse.

O Príncipe olhou para o chão. — Ela não precisa de muita motivação para matar — disse. — Ela quer toda a beleza, poder e juventude que conseguir. Eu vi o que acontece com quem cruza o caminho dela.

— Mas você escapou — disse o caçador. — Por quanto tempo ficou preso?

Alvo olhou para a floresta, assegurando-se de que não havia ninguém os espreitando no nevoeiro.

— Eu passei dez anos nas masmorras.

— Quem é você? — ele perguntou baixinho, aborrecido. Avaliou novamente as roupas rasgadas e o cabelo cheio de nós.

Alvo tirou o suor da testa, pensando em como devia estar sua aparência.

— Quem é você? — ele perguntou novamente, mais alto dessa vez.

Ele olhou ao redor. Estavam no meio da Floresta das Sombras. Não tinha ideia de qual trilha o levava de volta à aldeia ou se ele conseguiria encontrá-la. As árvores se moveram, seus ramos pendiam de uma forma não natural, como se estivessem tentando alcança-lo. Esse homem, esse caçador, era sua única chance.

— Eu sou o filho do rei Eric — disse finalmente.

O caçador balançou a cabeça. Não parecia convencido.

— O filho do rei está morto. Morreu na mesma noite em que o pai dele fora morto.

Ele o fitou, insolente, o desafiando a questioná-lo novamente.

— Não acredito... — resmungou. Foi olhar mais de perto seu cabelo negro e a pele branca como o leite, que não havia visto o sol desde criança. Alvo ficou reto e deixou que ele analisasse seus grandes olhos azuis.

Syran parou diante do príncipe com a cabeça virada de lado. Tomou sua mão e a levantou, girando seu braço para observar os arranhões e os hematomas que maculavam sua pele. Alvo segurou a respiração, com medo; não sabia como reagir. Ele deveria estar segurando a respiração também, porque expirou de repente. Então, ele segurou o braço dele firmemente e o arrastou daquele lugar, marchando ao lado do córrego lamacento.

— Para onde estamos indo? — ele gritou, consternado pela violência abrupta.

— Aqui não é mais seguro — disse. — Especialmente para o filho do rei. Eles não o deixarão fugir tão facilmente. São estúpidos o bastante para nos seguir pela floresta.

A Caça ao Cervo Real [Romance Gay] - Livro IOnde as histórias ganham vida. Descobre agora