Capítulo XVIII

4.3K 527 46
                                    


Ouviu-se um grito. Alvo acordou, os olhos lentamente se ajustando à escuridão. Levou um tempo para lembrar onde estava. O fogo estava apagado. Sentiu algo em sua mão: era o medalhão de osso, o mesmo que Syran tinha lhe mostrado horas antes. Olhou ao redor do deque de madeira e no interior da cabana de palha, onde Anna e Lily dormiam. O caçador tinha ido embora.

Examinou a aldeia, o ar se enchia de fumaça. A casa levantada do outro lado brilhava com uma estranha luz. Duas das mulheres perscrutavam o exterior da pequena janela na lateral, uma delas cobrindo a boca em horror. Alvo circulou o deque, finalmente vendo o que elas viam. O céu estava cheio de flechas incendiárias. Arqueiros estavam posicionados na encosta acima da aldeia, delineados pelo céu estrelado.

Dentro de segundos, a primeira flecha chegou. O míssil de fogo acertou uma casa próxima à de Anna. O teto pegou fogo, as chamas se espalharam e consumiram a pequena estrutura. A mulher mais velha, que havia enfaixado a ferida se Syran, correu para fora da cabana. Seu vestido de linho fino pegava fogo nas costas. Ela tentou tirá-lo, mas era inútil. Enquanto corria, as chamas cresceram e seus cabelos pegaram fogo. Gritou quando pulou do deque de madeira e sumiu no pântano abaixo.

O exército de Baltazar estava se aproximando. Alvo podia ver seus rostos agora, brilhando à luz do fogo enquanto se aproximavam das margens do pântano. Alguns conduziam seus cavalos pelas águas rasas. Continuaram atirando flechas nas casas. Outros subiram nos barcos, desatracando-os nas águas paradas. Bem abaixo, um homem com uma faca pulou para uma escada de madeira e começou a subir até a cabana de palha. Uma mulher, com uma longa trança, jogou lenha sobre ele do deque acima, tentando retardar seu progresso. Em seguida, Alvo o avistou. Baltazar conduzia seu cavalo, que estava atrás das árvores. Ergueu seu arco, lançando uma flecha em uma cabana das proximidades.

— Encontrem-no! — gritou.

Alvo escorregou para trás da cabana, tomando cuidado para não ser visto. Moveu-se rapidamente.

— Eles estão aqui! — gritou, disparando para a sala. Correu em direção a Anna, sacudindo-a para que acordasse. — Os homens da rainha estão aqui.

Anna esfregou os olhos. Olhou para Alvo, incrédula. Quando se sentou, uma flecha atravessou o telhado e se alojou no colchão ao lado da cabeça de Lily. O colchão de lã pegou fogo. Alvo correu para a menina, que dormia, puxando-a da cama e colocando-a sobre o ombro. Estava prestes a correr quando Anna gritou. Alvo virou-se. Atrás dele, em pé no deque, estava um dos homens de Baltazar. Ele sorriu quando seus olhos se encontraram, revelando um dente da frente faltando. Era tão alto e largo que tomava a porta inteira, tornando impossível a passagem. Então, sem qualquer aviso, ele correu em direção a eles.

Sem pensar, Anna arrancou a flecha do colchão e cravou a ponta flamejante na coxa dele, parando de enfiá-la apenas quando encontrou o osso. Ele soltou um grito lancinante e desabou no chão, as chamas se espalhando para as panturrilhas e para a cintura, até que metade do corpo estava queimando. Ele se contorcia de dor.

Alvo o observava, horrorizado. Não conseguia parar de olhar para o rosto deformado. Lágrimas se espremiam pelo canto dos olhos dele. A cabana se encheu de um fedor de carne queimada. Ele se dobrou ao meio, a fumaça presa em seus pulmões. Por um momento, temeu estar condenado.

Anna o segurou pelo braço.

— Venha — gritou, apontando para a porta. Alvo se jogou no pântano com Lily em seu ombro. A menina começou a chorar quando avançaram pela água barrenta, que alcançava o peito de Alvo. Havia apenas caos ao redor deles. Muitas das palafitas estavam em chamas. Fumaça e cinzas enchiam o ar. Destroços em chamas caíam do alto, mergulhando nas águas rasas do pântano e se extinguindo com um assobio.

A Caça ao Cervo Real [Romance Gay] - Livro IWhere stories live. Discover now