Alvo olhou para a lâmina e depois para os olhos insensíveis de Baltazar. Ergueu o punho. Sem hesitar, o golpeou no rosto. Segurava o ferro firmemente, querendo machucá-lo tanto quanto fosse possível.
Rasgou sua bochecha e o canto do seu olho esquerdo até o nariz. O sangue escorria do rosto dele, derramando-se sobre seus dedos e sobre o cobertor de lã.
— O que você fez? — Baltazar se defendeu. Tentou ficar em pé, mas Alvo o chutou com força nas costelas. Pegou as chaves do cinto dele e correu para a porta, o coração batendo forte no peito.
Bateu a porta de metal atrás dele para travá-la. Então, correu para a cela de Rose. Alvo se atrapalhou com as chaves, tentando a primeira no aro. Não funcionou. Tentou a próxima, então a próxima, mas as chaves não serviam, nenhuma delas. Correu os dedos sobre as chaves restantes, sua garganta começou a secar. Havia cerca de quarenta ao todo.
— Guardas! — Baltazar gritou para o corredor. Seu rosto ensanguentado era visível além das grades.
Alvo examinou o interior da cela de Rose, horrorizado com o que viu. Encurvada sobre si mesma no fundo da cela estava uma mulher velha com o rosto enrugado pela idade. Cabelos crespos e grisalhos caíam por suas costas. Ela usava o mesmo vestido que Rose estava usando mais cedo e tinha os mesmos grandes olhos castanhos, mas estava irreconhecível.
— Vá! — a velha insistiu. Ela foi até a porta e agarrou a mão de Alvo. — Vá, meu príncipe, por favor. Se não, você nunca conseguirá fugir daqui.
Alvo apertou as mãos da mulher uma última vez e deu as chaves para ela. Então, foi em direção às escadas estreitas, que subiam em espiral até o castelo principal. Circulou por elas, subindo dois degraus de cada vez. Ele ouviu os gritos de Baltazar, mesmo estando nos últimos degraus, e quase desabou no chão.
O térreo do Castelo estava quieto. Reconheceu as alas imediatamente. Brincara por todo aquele lugar durante sua infância interrompida. Era onde a maioria dos funcionários do castelo trabalhavam durante os dias do reinado de seu pai. Reconheceu a porta de entrada para a cozinha, e correu na direção contrária. "Que sorte!" — pensou, ao encontrar os corredores vazios. As janelas estavam cobertas com pesadas cortinas cor de vinho e os poucos móveis de madeira daquela parte do castelo, estavam deteriorados e cobertos de poeira. Conhecia cada uma das salas tanto quanto o seu próprio quarto. Começou a avançar em direção à outra extremidade do castelo, mas, exatamente naquele momento, dois guardas desceram correndo as escadas. Suas armas estavam à mão. Podia ver em seus olhos que já sabiam que ele havia fugido.
— Pegue-o! — um deles gritou enquanto corriam em sua direção.
Correu para a escada mais próxima no sentido oposto, trancando a porta atrás dele. Não se preocupou em olhar para trás. Eles golpeavam a porta e a madeira rangia a cada golpe violento. Tinha de chegar ao pátio. Poderia levantar o portão e escapar, assim como o Duque Archibald fizera anos antes.
— Só preciso fazer isso — disse a si mesmo.
Quando chegou ao final da escada, passou pela porta e ganhou o ar livre. A luz era tão brilhante que queimava seus olhos. Protegeu seu rosto do sol. Havia tanto tempo desde que estivera do lado de fora que era bom demais para acreditar. Até o vento era estranho quando batia em sua pele.
Antes que pudesse entender tudo o que estava acontecendo, ouviu o som de passos atrás dele. Os guardas estavam saindo do salão do trono e entrando no pátio. Havia dez deles pelo menos. Todos usavam a mesma armadura negra. Olhou para a Ala Leste do Castelo, onde ficava o portão levadiço, mas dois homens a cavalo já estavam galopando em sua direção, vindos de seus postos normais no portão. Não havia para onde ir.
Alvo congelou no lugar, incerto sobre que atitude tomar. Quando apertou a mão sobre o peito, ouviu um pequeno assobio. A ave que tinha visto do lado de fora da sua cela estava no pátio, circulando a poucos metros acima dele. Esfregou os olhos, para ter certeza de que não o estava imaginando. Ele parecia tão vivo. A luz do Sol incidia sobre suas asas azuis, fazendo-as cintilar.
O pássaro disparou em direção ao lado oeste do pátio. Os arbustos de flores estavam murchos e marrons. "Assim como a grade" — sussurrou para si mesmo. Ele o seguiu, sabendo que havia algo que queria lhe mostrar.
Atrás dele, os guardas se aproximavam. Os dois a cavalo estavam quase o agarrando. Ele ouviu o barulho alto dos cascos na pedra.
— Pegue-o! Ele está encurralado! — alguém gritou da sala do trono para os soldados.
Alvo continuou seguindo a ave, ela estava se aproximando do muro de pedra maciça. Alvo olhou para baixo, percebendo finalmente o que ela queria lhe mostrar. Lá, debaixo dos arbustos murchos, estava a saída dos esgotos do Castelo. Era um buraco de cerca de 60 centímetros de diâmetro, largo o suficiente para ele escorregar.
Ao mesmo tempo em que a ave vôou para longe, deixou-se cair, deslizando seus quadris pelo chão de pedra. Então, entrou no sistema de esgoto. Pendurou-se por um momento, seus dedos seguravam a borda do dreno, antes de deixar-se ir. Quase não podia respirar enquanto mergulhava na escuridão abaixo.
Foi imediatamente arrastado pela corrente da água. Muito acima dele, um guarda se abaixou para o interior do dreno, tentando segui-lo, mas o dreno era muito pequeno. Seus quadris ficaram presos. Suas pernas pairavam no ar, chutando freneticamente.
— Abram os portões! O príncipe escapou! — um guarda gritou, sua voz ecoando pelo túnel enquanto ele flutuava para longe.
Enquanto deslizava no esgoto, Alvo colocou a mão na parede, que estava revestida de algas viscosas. As pedras eram muito lisas e o lodo espesso se alojou sob suas unhas, deixando-as verdes.
Depois de tantos anos trancado numa masmorra, suas pernas não tinham forças para mantê-lo boiando. Ele batia as pernas o mais forte que conseguia, lutando contra a corrente, e mantinha os braços em movimento. Porém, conforme o túnel do esgoto se estreitou, a água o puxou para baixo.
Ele desapareceu sob o lodo espumante e seu mundo ficou às escuras.
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A Caça ao Cervo Real [Romance Gay] - Livro I
FantasyUm rei viúvo caiu de amores por uma linda mulher sem saber de seus terríveis planos de conquista e acaba morrendo, deixando para ela todo o seu reino. Para piorar a situação, o filho dele foi jogado em uma masmorra e lá ficou até se tornar um belo r...