59 - Espectro vazio

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Desci para a nuvem, sabia muito bem onde ele estava. Ele era o olho, o centro de tudo aquilo. Ele era a fonte da eletricidade e do magnetismo que estava orquestrando a desordem e o caos.

À medida que me aproximava os relâmpagos praguejavam com fúria ao meu redor. Eles rugiam cada vez com mais intensidade, a loucura cavalgava sem rédeas em mim. Quanto maior o caos, mais insana me sentia.

Eu ri. Eu dancei. Era o que eu queria fazer, então simplesmente fiz.

Dancei e ri com o ritmo perturbador da tempestade. À minha frente estava o casulo de pura luz de onde saiam os raios e trovões. Exatamente como uma lagarta dentro de sua cápsula, indefesa e imóvel até sua completa metamorfose, o meu oponente encontrava-se na mesma posição. Embrulhado em sua concha brilhante de poder era uma ironia chamá-lo de noite, uma vez que estava puramente feito de luz. Isso me fez rir até quase as lágrimas. Controlei-me. Tinha um trabalho a fazer.

— Veja bem. — falei para o objeto inanimado. — Olhe a bagunça que está fazendo. Não está sendo um bom menino. — cruzei os braços. — Acho que o Papei Noel não lhe trará um presente este ano. — me virei para trás e comecei a folhear o livro aberto. — Até mesmo porque o trenó dele não faz viagens tão longas!

Eu ia folheando e analisando as imagens que apareciam nas folhas, os esboços dos espectros que se exibiam dentro da minha mente. Ah! Fechei o livro com um estalo e ele desapareceu, deixando para trás um rastro de tons de verde e dourado. Que cores lindas! Voltei-me novamente para o casulo de energia.

— Espero que seja apreciador da escuridão, uma vez que está tentando invocá-la.

Fechei os olhos e abri os dois braços. Tinha cheiro de brisa e maresia ali. Queria o gosto do silêncio. A tempestade se tornou carícia e o mundo se acalmou. Tudo se calou. Abri os olhos. Negro.

— Estou em um espaço vazio. — declarei para ninguém.

Tudo ao meu redor era negro de ausência. Não tinha nada ali. Um vazio total, um nada absoluto. Simplesmente inexistência. O casulo agora não tinha mais luz. A noite estava envolta em um tecido desgastado e velho. Uma silhueta humana, envolvida por aqueles trapos sujos. A criatura se retorcia em pequenos espasmos.

— Espero que se divirta aqui na companhia de si mesmo. — dei as costas ao que eu jamais voltaria a ver. — Aproveite bem a inexistência de tudo e existência de nada.

O breu feito de escuro e negro se tornou cinza, o cinza esmaeceu e acolheu o branco. A alvura deu lugar ao azul do céu. Pisquei algumas vezes para me acostumar com a nova claridade. O mar já não estava revolto, o sol não se escondia mais, assustado e amedrontado. Ele agora ria lá do alto para mim. Retribui o seu sorriso. Somos amigos! Me banhei com a luz dourada gratuita como a própria vida.

A tempestade se foi. As poucas nuvens que restaram era tufos fofos e açucarados de algodão-doce. Vi elas formarem um desenho aqui e outro ali. Uma pintura branca sobre o fundo azul celeste. Uma baleia com seu filhote, uma ovelha de cinco pernas, uma girafa com uma corcunda e... um anjo de asas abertas.

Continuei olhando a última. Era uma imagem magnética. Duas grandes asas numa envergadura gloriosa. Eu não sabia que gostava tanto de aves. O brilho do sol na superfície do oceano quebrou o feitiço. O anjo foi desfeito pelas mãos do artista: o vento.

Inclinei o rosto para cima. Adoro o brilho do sol. É um brilho dourado. Ouro líquido. Senti falta de verde. Imaginei, dourado e verde misturados. Lindo! Queria que tivesse um pouco de verde ali, mas só tinha azul.

Queria ver o sol mais de perto. Queria tocar nele, senti-lo me queimar. Ele me convidava a me aproximar, então subi rumo ao meu novo melhor amigo. Ouvi um eco... olhei em volta. Não tina ninguém ali. O sol voltou a me chamar. Eu voltei a sorrir e a correr para ele.

Alma! — um chacoalhão no cérebro e eu quase perdi o equilíbrio. O coração disparou. Olhei o meu sol, buscando respostas. — Alma! — um soco na boca do estômago. Minha respiração ficou ofegante. — Carissimi, volta para mim.

O mundo assumiu um tom profundo de segredos perdido entre esmeraldas cravejadas de promessas feitas pela luz do sol. O meu corpo estava se solidificando, o ar ameaçou não suportar o meu peso.

— Por favor, carissimi! — a dor da súplica era tão grande que a senti em mim.

O meu coração já não sabia em qual compasso cantar. O riso louco da insanidade me puxando para cima, a densidade da saudade, para baixo. Perdi o equilíbrio e caí. As duas mãos lançadas à frente do corpo para amortecer a queda, mas o meu chão era feito de ar. Despenquei conduzida pela gravidade. O gelo do mar me atingiu e eu comecei a afundar, lentamente me afogando. 

Olá amores! 

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Olá amores! 

Preparados para a última semana? Já conhecem o meu estilo. Gosto de drama na reta final! 

Vamos lá? Últimos capítulos. Se gostou não esquece da estrelinha. 


Noite Sombria | 3Onde as histórias ganham vida. Descobre agora