24 - Cupido

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— Que ódio! — quase arremessei o celular contra a parede.

Gael tinha desaparecido depois do meu aniversário, e como doía demais ver os novos inquilinos entrando e saindo do apartamento dele, resolvi que eu precisava de novos ares também. Morar sozinha era divertido e desafiador, mas eu estava gostando.

Ele não atendia ligação, não respondia mensagem, não olhava e-mail. Só podia estar em outro mundo! E como isso era impossível, eu sabia que ele estava incomunicável para mim.

Por que me deu aquele beijo? Foi uma despedida? Será que eu tinha feito alguma coisa errada? Mais importante: tinha jeito de concertar?

O meu coração doía quando eu pensava nele. Ele nem sequer me deu adeus, apenas foi embora. Talvez tenha finalmente me esquecido. Eu sabia que o amor era complicado e sabia que iria me machucar.

Me joguei no sofá e apertei o rosto contra uma almofada, tentando sufocar o desespero crescente dentro de mim.

— Você pode, por favor, voltar e devolver o meu coração? Em troca dou a saudade que me esmaga para você levar embora seja lá para onde tenha ido.

A vibração no bolso da calça me fez dar um pulo. Atendi, o coração batendo na expectativa.

— Alô!

Onde você está? — Elisa! — John disse que você viria comigo, mas você me disse que viria com ele. O que aconteceu, onde você está?

Ah... é que... devo ter pegado uma virose. — menti. Estou aqui jogada na cama com febre. Divirtam-se por mim!

Isso aqui é uma pista de patinação, não uma pizzaria. — shiii! Acho que ela começou a entender!

Vocês podem comer alguma coisa depois. — sugeri.

Você não está doente nada, sua vaca!

O John não vai deixar você cair.

Vou te matar!

— Ele é legal, Elisa. Dá uma chance para ele. Vocês só precisam de uma oportunidade para se conhecerem melhor.

Você me paga!

Elisa cuspiu alguns insultos e promessas de vingança antes de desligar. Ela era temperamental, mas talvez um pouquinho de amor resolvesse isso.

Liguei a televisão e uma reportagem apareceu.

"... um avião russo caiu nesta manhã com 224 pessoas a bordo num voo transatlântico..."

— Mais um?! Já virou palhaçada isso.

Várias aeronaves vinham desaparecendo misteriosamente, ou caindo no mar sem razão aparente. De algumas nem os destroços eram encontrados. O estranho nevoeiro sobre o Triângulo das Bermudas só fazia aumentar o mistério.

"... motivo da queda ainda não foi identificado..."

Acabei passando um bom tempo ali. As teorias mirabolantes envolviam alienígenas, seres místicos e feitiçaria. Sempre me surpreendia como gente adulta conseguia acreditar em fantasia. Era só uma pane global... começando a sair do controle.

A campainha tocou.

— Não sei se te estripo ou te estrangulo! Qual prefere? — Elisa entrou pela minha porta com uma carranca imensa.

— Você se divertiu? — perguntei com esperança.

— Não com um estranho me agarrando! — ela se jogou no sofá e encarou a televisão que ainda mostrava as nuvens de tempestade no Triângulo das Bermudas. Elisa desligou depressa como se tivesse sentido medo daquilo.

— Você gostou de ser agarrada? — sentei ao lado dela.

— Não! — ela me bateu com uma almofada. — Armou um encontro para mim com o seu falso namorado?!

— É que o John ainda não tinha tido a oportunidade de reparar em como você é bonita.

— Não adianta puxar saco! — ela me bateu de novo. — Você é uma péssima cupido. Sério, péssima!

— Seria tão legal se vocês namorassem, eu...

— Esquece essa ideia!a loira quase me matou ali mesmo. — O John não é tão inocente quanto você diz. Eu teria caído se ele não me segurasse, mas ele não foi o maior dos cavalheiros. Agora, estou faminta. Alguém — um olhar de acusação — me convidou para comer em um ringue de patinação. De onde eu venho patins não são comestíveis!

Na minha casa não tinha nada, então fomos comer pastel na esquina. Aquele trio incompleto me fez lembrar de uma coisa.

— Vamos visitar Isabel! — joguei a permissão de habilitação com uma foto 3x4 horrorosa em cima da mesinha. — Chegou hoje!

— Se acha que vou entrar num carro com uma pessoa recém habilitada para pegar a estrada de Ipatinga à Belo Horizonte, você é doida.

— Onde está o voto de confiança?! — reclamei.

— Se acontece alguma coisa com você sob minha supervisão o Gael me mata!

Estremeci só de ouvir o nome dele. Não o via há mais de um mês. A saudade era tão forte que chegava a arder. Também estava morrendo de saudade da minha melhor amiga, Isabel, que estava trabalhando em uma companhia de dança na capital de Minas.

— Bom, de qualquer forma ele parece ter sido extraviado para outra dimensão e não vai ficar sabendo da novidade, já Isabel mora logo ali. Vamos lá mostrar a minha carteira.

— Não devíamos contar nada, ela não merece.

— Do que está falando? — dei um grande gole no meu suco de laranja.

— Ela beijou o Natan.

O suco voltou pelo nariz. Comecei a tossir de forma convulsiva. Elisa me deu tapinhas nas costas tentando me desengastar. As pessoas das mesas ao lado ficaram olhando o estardalhaço.

— Tem gente que se afoga no mar, na piscina, até na banheira, mas no copo, Alma, é a primeira vez!

— Não enche! — limpei a boca com um guardanapo, conseguindo controlar a respiração. — Que história é essa?!

— Bem, tecnicamente ele beijou ela, mas para mim dá no mesmo. E aquela vaca não me contou nada! Mas como eu sou a terapeuta do priminho ele soltou a língua.

— Não acredito!

— E agora ela não quer mais falar com ele.

— Por que não?!

— Eu não sei! Ela não me disse!

Bufei de frustração.

— Preciso de detalhes. — avisei.

— Acabei de ter uma ideia brilhante! — Elisa deu um tapa na mesa com determinação. — Vamos visitar Isabel! Eu dirijo!

 — Vamos visitar Isabel! Eu dirijo!

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Olá, olá!

Mais um capítulo e espero que ninguém tenha realmente engasgado por aí! =)

Se gostou não esquece da estrelinha, bjos!

Noite Sombria | 3Onde as histórias ganham vida. Descobre agora