8 - Pequenas coisas

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A minha respiração descontrolada enchia o ambiente de sons quase insanos. O pânico me esmagava com tanta força que fazia o meu cérebro doer.

— Não consigo... estou ficando maluca? — os meus próprios sussurros escorriam juntamente com as lágrimas que molhavam as minhas bochechas.

Sentada sobre a tampa do vaso sanitário, eu me encolhia cada vez mais no banheiro feminino vazio da escola. Puxei as pernas para cima, abraçando os próprios joelhos.

— Estou ficando maluca. — queria tanto que a Isabel tivesse ido à aula aquele dia.

Eu apertava com tanta intensidade o pulso que já o estava começando a machucar. A fobia recém adquirida da loucura não me deixava respirar. Eu tinha adquirido um medo totalmente novo da morte depois do meu coma, mas o que me aterrorizava de verdade era pensar no esquecimento. Eu não queria ficar louca. Eu não queria esquecer de quem eu era. Os meus dedos se fecharam com ainda mais força contra o meu pulso, isso não aliviou a dor do coração.

E de repente, a porta à minha frente se abriu.

— Ei, linda. Vi você passando pela porta da minha sala. — o John me olhou com extrema preocupação. Alguma parte de mim voltou a respirar. — Por que está chorando?! O que está acontecendo?

— Estou esquecendo as coisas, John. — e as lágrimas salgadas voltaram a correr livremente pelo meu rosto. — Está acontecendo de novo! Estou esquecendo as coisas.

Deu para ver ele empalidecer com o medo causado pelo som das minhas palavras.

— Como assim? — ele limpou o sal das minhas bochechas com as duas mãos. Ele sempre teve mãos quentes.

— Eu não consegui me lembrar de onde tinha deixado o meu celular. — contei para ele o episódio que tinha acontecido durante a aula. — Eu sempre coloco no bolso, e não estava lá, então... simplesmente não consegui me lembrar. Aí o encontrei dentro do estojo com as canetas, mas... mas... eu lembro de o ter colocado lá, eu...

— Vem cá. — ele me abraçou e eu apoiei a testa no peito dele. — Está tudo bem.

— Estou esquecendo pequenas coisas. — me queixei apertando-o com mais força. Eu precisava me agarrar a algo. — Esqueço onde coloquei as coisas, não consigo me lembrar de alguns nomes, como se a minha mente ficasse em branco. Esqueci que tinha combinado encontrar a Isabel semana passada e deixei ela lá, plantada.

— Não se preocupe com isso, é normal. — a voz dele soprando alívio por entre os fios do alto da minha cabeça enquanto afagava as minhas costas. — Está tudo bem com você, Alma. Foi só um lapso normal, é comum esquecer coisas corriqueiras. Você apenas... não estava prestando atenção nelas, ou estava prestando atenção demais em outra coisa. É normal, acontece com todo mundo.

— Ou estou ficando doente de novo. Estou ficando louca, John. Estou perdendo o controle.

— Ei, olha para mim. — ele me afastou com delicadeza, inspecionando as minhas feições com um sorriso quase contagiante. — Você não está ficando louca, linda. Isso é normal. — voltou a afagar as minhas bochechas com carinho. — Esse tipo de esquecimento não tem nada de estranho. Quer saber onde encontrei as minhas chaves hoje de manhã?

— Onde?

— Dentro da geladeira. — uma risada escapou pela minha garganta. — E juro que não me lembro de tê-las colocado lá!

Isso era a cara do John! Ele sempre se esquecia das coisas. Ele sempre... se esquecia das coisas! Uma descarga de animação me percorreu. Talvez eu não estivesse ficando louca, afinal. Esse pensamento me deu esperança.

— Viu? Isso é normal. Eu não consigo me lembrar nem do que comi ontem, linda. Acredite em mim, você não está perdendo o controle de si mesma.

— Mas ninguém sabe o que me deixou doente. — protestei, podia acontecer de novo.

— Todo mundo esquece coisas pequenas, estamos distraídos e... sei lá, é assim mesmo. Não precisa se preocupara com essas coisas. Acontece o tempo todo.

Agora que eu não estava mais cega pelo pânico, consegui ver luz nas palavras dele. Ele tinha razão, mas... depois do coma, quando eu esquecia alguma coisa... praticamente surtava. Eu não estava sabendo lidar com aquela perda de controle.

— Não fica assustada com isso, é só mais uma coisa que nós dois temos em comum. Agora, por que está tentando estrangular esse pulso tão lindo? — o John desenroscou os meus dedos do meu pulso. Eu não tinha percebido que continuava a esfregá-lo.

— Eu... não sei de onde surgiu isso. — expliquei. — É um hábito.

— É, é sim. — ele concordou com desgosto. — Você não parava de rodar aquela coisa horrorosa que você chamava de pulseira. Fazia isso sempre que ficava irrequieta, ansiosa, ou nervosa. Quanto mais rápido você puxava, maior eu sabia que era o caos na sua cabecinha.

— Sério? — olhei o meu próprio pulso sem a joia que eu sequer conhecia. — E por que tirei?

— Eu não sei. — ele me puxou para fora da cabine sanitária. — Mas fico muito feliz que não esteja mais usando aquela coisa ensebada feita de carvão. — ele estava mesmo feliz, com um sorriso satisfeito de orelha a orelha.

A porta fez barulho, indicando a chegada de mais alguém. Elisa deu uma boa olhada em John antes de soltar:

— Olha só quem é a nova garota da escola. — enquanto o sorriso dele morreu, o dela ficou gigante. — Sério, eu nunca teria imaginado isso de você. — ela se aproximou e me afastou de mansinho, aumentando sutilmente a distância entre mim e John. — Quem diria!

— Eu estava só...

— Usando o banheiro feminino da escola. — a garota não deixou ele terminar. — Já percebi.

O rapaz olhou de mim para a loira que tinha se interposto entre nós.

— Ela está ótima! — Elisa me empurrou só mais um pouquinho para trás. — E você já pode ir. — dispensado sem nenhuma compaixão! Apertei os lábios para reprimir uma risada. — E caso não esteja saindo do armário, o banheiro masculino é aqui do lado.

— Me liga. — John me olhou por cima do ombro dela e não se deu ao trabalho de se despedir da Elisa.

— Bem. — a loira me analisou de cima a baixo. — O retardado do meu irmão disse que você precisava de mim, mas você não parece tão desesperada como ele.

— Ele ligou para você? — a minha pergunta fez as sobrancelhas dela se erguerem com um "É claro!" mudo.

— Você não pode sair correndo da sala de aula quase sem respirar e esperar que o Gael não surte junto. É claro que ele me mandou vir aqui tomar conta de você. — ela abriu a torneira e me mandou lavar o rosto. — Ele sempre vai tomar conta de você, Alma. Mesmo que precise ser à distância.

Tomar conta de mim. Isso me fez sentir... fraca. Então ele tinha me visto surtar por nada... como deve ter sido ridículo. Devo ter parecido uma idiota. Joguei fora o papel com que tinha enxugado o rosto e as mãos. Maluca, desorientada e agora, fraca. Não era assim que eu queria me sentir, mas era assim que ele estava me vendo. Gael. Senti o meu espírito se fechando e ficando mais pesado. No meio de toda a minha confusão... o nome dele sempre aparecia.

Elisa me representa nesse capítulo kkkkkkkk

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Elisa me representa nesse capítulo kkkkkkkk

Põe distância mesmo, Elisa! Separa que a gente não shippa nadinha!

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