32 - Semelhantes

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— O palhaço é um guardião! — atirei os papéis em cima da mesinha de centro e me joguei no sofá

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— O palhaço é um guardião! — atirei os papéis em cima da mesinha de centro e me joguei no sofá.

Elisa me deu um tapa no pé do ouvido.  Filha da...

— Não entre na minha casa sem bater. É pra isso que existe porta. — ela se jogou na outra poltrona. — De quem você está falando? 

— Do mequetrefe miserável!

— John?! — ela arqueou as sobrancelhas com os papéis na mão. — Olha, Gael, você precisa parar de perseguir esse rapaz.

— Eu não estou perseguindo ele! — apontei onde estava escrito o que eu queria.

— E daí? — resmungou depois de ler.

— Como e daí?! Dois sacos gestacionais. Ele vem de uma gravidez de gêmeos.

— Mas um dos fetos veio a óbito no primeiro trimestre de gravidez. Você roubou o ultrassom do John?!

— Não enche! Vou devolver hoje à noite.

— Ok. — ela falou daquela forma irritante de sempre. — Você descobriu que o seu melhor amigo na verdade deveria ter tido um irmão gêmeo. E daí?

— A magia era destinada ao outro feto e ele absorveu parte dela. Eu não estou maluco! — me defendi antes de ser acusado.

— Eu nunca senti cheiro nenhum nele! E há quanto tempo já estamos aqui?  A magia dele vai ser latente a vida toda?

— Ele é diferente.

— Para de perseguir o pobre rapaz!

— Era só o que me faltava! Mais uma para defender o miserável! — bufei com raiva. — Já ficou perto dele sem a Alma por perto?

— Não.

— Eu achava que o cheiro nele vinha do contato com ela, eles dançam juntos o dia todo. Além disso... ele é fraco. Diferente de qualquer um que eu já tenha encontrado.

— Gael. — Elisa suspirou.

— As coisas dele têm o cheiro! Elisa... ele é um guardião.

A minha irmã me analisou por algum tempo, sempre voltando os olhos aos papéis que eu tinha roubado.

— É possível que ele tenha absorvido apenas parte da magia e não ela completa. Isso faz dele um caso à parte. Mas estou chocada! Quero só ver a cara da Alma quando ficar sabendo.

— Ela não vai saber. — fui até à cozinha.

— Não vai contar para ela? — Elisa veio atrás de mim.

— Contar o que? — abri a geladeira. Uh! Pudim! Adoro! — Eu não sei de nada. E você também não sabe!

— Você não muda mesmo. Sempre mentiroso. O que está fazendo com o meu pudim?! — ela fez uma careta olhando para a vasilha na mão.

— Comendo! O que mais seria?

— Tudo?! Devolve agora! Olha se eu tenho filho da sua idade?! — Elisa conseguiu tomar, arfando, o restinho que sobrou.

— E isso aqui? O que é? — enfiei um pedaço de torta na boca. — Frango e bacon! Delícia.

— Agora chega! — ela me desenfiou de dentro da geladeira. — Sai. Sai!

— Estou com fome! — reclamei.

— Toma. — ela me estendeu uma pera.

— O que eu vou fazer com isso?

— Passar na cara que não é!

— Isso nao tem gosto! Você é muito chata. — roubei mais um pedaço de torta. — Tão pequena para ser tão... — me desviei do tapa rindo.

— Que gracinha! Eu sou proporcional!

— Não, você é pequena! — e era mesmo.

— Não sei como a Alma te suporta!

— E você mudou de lado mesmo! Traidora, vira-casaca! Fica acobertando as coisas que ela faz.

— Está falando do namoro falso? — Elisa riu com satisfação. — Bem-feito! Você mereceu! — só faltava me mostrar a língua. — E por que estamos falando disso? Vocês já voltaram, é isso o que importa.

— Às vezes parece que... — suspirei. — ele foi feito para ela. Sob medida. Bailarino, trabalha na mesma companhia de dança... e é da mesma espécie. E eu sou só... eu.

Elisa fez uma cara feia. Não gostou do que ouviu.

— E isso é pouco? Ser só você?

— Mas é que eles são semelhantes. E se ele for perfeito para ela?

— Pois é, não é? Perfeição. Que tédio! Tudo certinho, cada coisinha em seu devido lugar. Tudo previsivelmente chato e tedioso! — ela riu da minha cara. — Seu idiota! É exatamente por você não ser perfeito que ela te ama. Agora, por que todo mundo acha que eu tenho cara de terapeuta?

Talvez Elisa estivesse certa, talvez eu não precisasse ser perfeito.

— Ainda assim, vou subornar a companhia de dança para demiti-lo. — expressei meus planos secretos.

— E depois vou te enterrar num caixão rosa, porque é claro, que a Alma vai te matar.

— Droga. — bufei. — Então vou bater nele.

— Não.

— Atropelá-lo? — perguntei com esperança. — Pisoteá-lo? Torturá-lo? Decaptá-lo? — poxa, Elisa tinha que gostar pelo menos de alguma ideia! — Vou colocá-lo num voo transatlântico, então. Com sorte ele desaparece junto com a aeronave. — elas continuavam sumindo, dia após dia.

— Aquela borda é eternamente escura desde que aquele espectro se tornou o nosso mundo. — Elisa observou. — Por que agora está engolindo barcos e aviões?

— Eu não sei. Mas espero que Alma não tenha ligação com isso.

Fosse qual fosse a ligação com um lugar feito de trevas o resultado seria negro. No entanto, eu sabia, bem no fundo do âmago, que o meu ser já estava se preparando para lutar.

A noite vem!

E vai engolir o dia! Sr

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E vai engolir o dia! Sr. M avisiu que não vai demorar muito  ;)

Por hoje é isso, espero que tenham gostado. Bjos e até a próxima!

Noite Sombria | 3Onde as histórias ganham vida. Descobre agora