55 - Adeus

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A noite continua devorando tudo e todos, tragando-nos para dentro de si. A minha pele sentia falta de ser tocada pela luz.

Olhei o monte que estávamos subindo. A encosta não era muito íngreme, mais algumas horas de caminhada e estaríamos no topo. A criatura se escondia lá. Estava quase na minha hora. E se eu não conseguisse? Não! Isso não ia acontecer. Olhei o outro guardião caminhando comigo.

— Nós vamos conseguir, não vamos? — perguntei.

Ele sorriu e me senti um pouco melhor. Ele estava ali para me ajudar, eu ia conseguir.

— Mas é claro que sim. Você não está sozinha, estou aqui com você.

Me senti muito grata por isso, era muito poder para controlar sozinha. Lembrei como senti os dedos da insanidade completa agarrando a minha mente da outra vez. Tenho muito medo de ficar louca. Olhei para trás. Gael. O último da fila, protegendo a retaguarda. Ele era a minha conexão com a realidade. Tinha medo de me perder sem ele. Eu pensava que o ponto fixo seria John, uma vez que é na magia dele que me espelho. O caçador levantou os olhos para mim. Era inevitável sorrir. Adoro o verde dourado daquele mundo perdido de segredos. Me alimento daquela luz. O dourado residente ali era o único raio de sol que existia ali embaixo.

Tropecei e quase caí, mas trombei em John. É sempre bom olhar na direção em que se caminha, não é mesmo, Alma Ferraz?! O terreno ficou instável demais. Um terremoto chacoalhou tudo.

Rochas soltaram-se da encosta, rolando com um peso esmagador. Uma mão saiu do chão à minha frente. Uma mão de pura rocha. Tentamos nos equilibrar e sem saber para onde seguir. Do chão estavam se formando criaturas de pedra viva.

— Por aqui! — senti Gael agarrando o meu braço.

Totalmente feitas de amontoados de pedras, as esculturas monstruosas impediam nosso progresso, avançando contra nós de punhos cerrados determinadas a nos esmagar.

Os tiros não estavam fazendo efeito contra as muralhas, mas as granadas foram bem-vindas. As explosões faziam os corpos rochosos se desintegrarem e o chão tremer.

— Elas estão se recompondo! — John gritou.

Aquelas coisas, depois de despedaçadas, se reagrupavam formando bestas ainda mais imensas. O urro era penetrante e perturbador. As cavidades dos olhos e boca começaram a se encheram de luz. As rachaduras ao longo do corpo assumiram um tom vermelho cor de lava. O calor foi instantâneo.

— Ai, merda. — Natan grunhiu. — São feitos de lava.

Continuamos correndo montanha acima. As esculturas em nosso encalço deixavam pegadas em rocha líquida incandescente. Jatos de fogo eram cuspidos sobre nós, enquanto o chão continuava instável, chacoalhando.

— Estão protegendo a noite no topo da montanha. — Ramon se enfiou atrás de uma pedra torta.

Nos esprememos junto com o aprendiz, tomando fôlego.

— Não vamos conseguir chegar lá em cima assim. — John acrescentou.

— Precisamos fazê-los descer. — Gael falou.

— Como? — perguntei.

— Com uma isca. — ele respondeu.

— Que isca? — Natan ficou desconfiado.

— Distração. Eu chamo atenção, eles me seguem para baixo. Vocês sobem para o topo.

— Não! — rebati na mesma hora, agarrando a camisa dele com vigor. — Você não vai fazer isso, é uma ideia idiota!

— Eu consigo.

— É muito arriscado. — Elisa gostava tão pouco dessa conversa quanto eu.

— Não estou pedindo a permissão de ninguém. — ele respondeu totalmente decidido.

— Então eu vou com você. — declarei.

— De jeito nenhum! — ele me afastou. — O seu trabalho é com outra criatura.

— Você não vai colocar monstros de lava atrás de você de propósito! — o desespero já estava assumindo o controle.

— Eu preciso colocá-los longe de você.

Você prometeu! — cuspi na cara dele. Ele tinha prometido não me deixar para trás.

— Desculpe.

Isso não está acontecendo!

— Eu vou descer com você. — Natan falou prontamente.

— Ninguém vai comigo. — Gael rebateu e eu senti mãos me segurando. — Vocês vão levar os dois guardiões em segurança ao topo sem mais nenhuma baixa.

— Ele sabe o que está fazendo. — a voz atrás de mim falou. John. — Precisamos prossegui, ou todos os sacrifícios feitos até aqui terão sido em vão.

Não! Isso não está certo! Quanto mais eu me debatia, mais John me apertava. Por que só eu estou surtando?! Por que só eu estou vendo o tamanho desse erro?!

— Leve-os para a água. — Ramon avisou. — O fogo se apaga e a lava perde fluidez.

— Certo. — ele já estava pronto. O verde que pousou em mim se fez silêncio. Gael não me disse nada e levantou os olhos para cima da minha cabeça. — Toma conta dela. — e saiu de trás da rocha.

Não. Não, não, não e não! Não pode acabar assim! Isso aqui não pode ser um adeus, não desse jeito.

O meu coração disparado tropeçou em si mesmo e caiu morto sobre mim. Toma conta dela. Ele não vai voltar. Gael... ele não vai voltar. Ele sabe que não vai mais voltar! Não! Não! Não! Ele desistiu de mim, pela primeira vez, Gael quebrou uma promessa que me fez.

Eu sabia que nunca mais seria capaz de respirar porque o meu espírito morreu ali.

Eu sabia que nunca mais seria capaz de respirar porque o meu espírito morreu ali

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Ai, vai sobrar pra mim kkkkk não me matem!

Reta final bombando! Se gostou deixa uma estrelinha.

Nos vemos semana que, bjos!

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