21- Dia Seguinte

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Quando abri os olhos ainda tonto por causa do sono pude sentir o efeito da bebida que havia consumido ontem a noite. Minha cabeça doía demais, parecia que alguém estava martelando-a. Eu estava na cama de Miguel e não lembro de ter vindo parar aqui, a última coisa que lembro era de nós dois sentados no seu sofá olhando o sol nascer juntos, depois disso eu apaguei completamente.

Ele estava deitado do meu lado completamente largado, braço para um lado, perna pro outro... Era a típica cena de um bêbado que acabara de chegar de uma festa com sono. Me permiti ficar olhando ele dormir, era fofo o modo como ele tossia de vez em quando, ou o modo como de largado ele se encolhia todo, como se estivesse com frio, porém logo depois voltava a posição "largado" de novo. Só depois que me dei conta de que eu não tinha uma escova de dentes nem nada, parecia de fato que eu estava em casa e não me dei conta disso.

- Onde você pensa que vai? – Ele disse com a voz rouca e grossa, que particularmente eu nunca tinha ouvido porém era maravilhosa, e me deu um chute de leve.

- Eu tenho que ir pra casa Miguel, eu nem tenho uma escova de dentes.

- Segunda gaveta da esquerda. – Ele disse que depois rolou de volta como se fosse dormir de novo.

- Oi?

- Tem escova de dente na segunda gaveta da esquerda. No armário do banheiro.

- Miguel eu...

- Se você está inventando uma desculpa para ir embora, acho bom ser sincero e ir de uma vez. – Ele era assim, não fazia rodeios.

- Não é isso, eu só não tenho uma escova.

- Agora você tem, deixe de drama. - Então ele se levantou e foi para o banheiro e se trancou lá.

- Ei, quem ia no banheiro sou eu sabia?

- Demorou demais. – Ele gargalhou lá dentro e logo depois ouvi o som do chuveiro sendo ligado, enquanto isso fui fazer algo útil e comecei a arrumar a cama quando a porta se abriu.

- Hey, bom dia! – Caio disse sorridente.

- Bom dia.

- Então, cadê o menino avantajado? – Eu não fazia ideia do porque daquele apelido.

- Está tomando banho, ele roubou minha vez.

- Ele sempre faz isso, ele é um idiota! – Caio disse me ajudando a dobrar a roupa de cama.

- Nisso você tem razão. – Nós dois rimos e logo terminamos com a cama e o cobertor de Miguel no chão. Caio era uma pessoa que irradiava o lugar com sua presença, ele não forçava , era completamente natural, vinha dele. Seu jeito de falar já lhe confortava e deixava você melhor, mais alegre.

- E como foi a noite ontem? – Pela primeira vez em nossa conversa, seu tom de voz havia abaixado como quem toma cuidado na hora de usar as palavras.

- Foi boa, eu não posso dizer que foi ótima, mas eu já estou assimilando tudo isso. Sei que foi sério mas, eu não vou fazer disso algo maior do que já é. E vocês me ajudaram muito, acho que o que tinha de se sofrer já sofri. – E era verdade, mesmo sendo muito grave eu não iria fazer disso o fim do mundo, eu nunca mais olharia na cara do André e provavelmente eu teria problemas para me relacionar sexualmente com alguém no futuro, mas tudo estava relacionado ao futuro e eu quero viver o presente.

- Nossa, isso é uma coisa ótima de se ouvir. Isso demonstra que você tem cabeça!

- É óbvio que ele tem cabeça seu imbecil, você acha que os olhos dele estão grudados aonde? – Miguel saiu do banheiro de shorts e sem camisa com o cabelo molhado e toalha nas mãos.

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