10 - Intimidação

3.1K 178 9
                                    

#Kaike

 Eu estava na sala ouvindo música e feliz da minha vida. Alem de me defender, Miguel ainda veio puxar assunto comigo. Pena que fomos interrompidos, será que o amigo dele estava bem? Será que Miguel ainda estava na escola? Não sei, e de qualquer modo não iria procurar.

Continuei na sala ouvindo musica, alguns olhares se dirigiam pra mim, como o das meninas tagarelas do outro lado da sala. Provavelmente por causa da "Briga" entre Miguel e Gabriel, e o fato de eu ter sido mencionado no meio disso. Gabriel não estava na sala, nem seu grupinho. Estava esperando que ele viesse tirar satisfações ou coisa parecida, mas até agora nada. Ficamos na sala até o intervalo, na hora do intervalo desci e comprei um lanche na cantina. Havia uma única mesa vazia no refeitório, e foi nela mesma que me sentei. Tao preso nos meus pensamentos não percebi que havia mais alguém do meu lado agora.

-Oi, desculpe ser intrometida mas, não há lugares pra se sentar. Posso ficar aqui não posso? – A menina gesticulava com o dedo.

-Claro, pode sim!- dei um sorriso amarelo e voltei atenção para meu lanche.

-Meu nome e Ana, Anabele. E o seu ?- Ela estava literalmente muito animada, não sei se foi pelo fato de ter uma mesa para se sentar ou se foi por me conhecer. Acho que foi pela mesa.

-Kaike.- Sorri novamente.

- Aluno novo né? Deve estar sendo um saco pra se enturmar.

-Nem tanto, sou mais na minha. – E era mesmo, a única pessoa que tinha uma conversa da escola inteira era o Miguel, fora ele não tinha falado com ninguém durante todo esse tempo.

-Eu percebi, veio de onde?

-Niterói.

-Hum sou daqui mesmo, seus pais se mudaram a pouco tempo ?- meus pais. Lacunas abertas que eu nunca conseguira fechar. Quando as pessoas me perguntavam sobre eu fingia que estava tudo bem, mas na verdade não estava. Minha mãe havia sumido no mundo e meu pai era um bêbado que fazia questão de acabar comigo toda vez que podia.

-Sim, bem pouco tempo. – Mordisquei meu hambúrguer e logo o sinal para irmos pra sala tocou.

-Hey, vejo você depois. Sou da 3001. – Ela já estava de pé, com sua bolsa nas costas. – Ate mais. – Ela acenou e eu sorri pra ela. Achei estranho de inicio alguém vir falar comigo do nada, mas depois me acostumei, quem sabe não teria uma amiga aqui?

Subi pra sala e as aulas continuaram normais, todas sempre a presença do Miguel que saíra para ajudar seu amigo. E de Gabriel, oque me assustava. Ele podia estar fazendo algo contra mim naquele exato momento. Tirei esse pensamento da minha cabeça e continuei a prestar atenção na aula. Assim que a aula acabou, peguei minhas coisas e sai da sala, desci as escadas e logo cruzei o portão da escola. Não havia sinal de Gabriel naquele espaço, então continuei andando de cabeça baixa quando sinto meu corpo ser jogado na parede. Minha cabeça agora doía muito por conta da pancada, estava ajoelhado no chão. Chutes e bicos vinham de todos os lados e eu só podia me encolher para o dano não ser maior. No meio de tantas vozes conheci uma, a que eu estava temendo naquele exato momento.

-Eu disse novato, eu falei que era pra você não mexer com oque é meu!- ele estava na minha frente, seus braços cruzados e seu sorrido debochado cobrindo grande parte do seu rosto. Ele se aproximou de mim e abaixou como se quisesse falar no meu ouvido. – Você mexeu com a pessoa errada Kaike, eu vou me certificar pra que sua vida aqui nessa escola seja um verdadeiro inferno. – suas palavras eram ameaçadoras, mas ainda sim com um toque de doçura, ele estava disposto a fazer da minha vida um verdadeiro inferno.

Gabriel e seu grupo saíram dali e eu fiquei ali no chão por algum tempo. Chorava muito e meu corpo doía por conta dos chutes. Só queria que Miguel esteve aqui como da outra vez, pra me proteger e não deixar que o mal chegasse ate mim. Voltei a mim e ainda com dor, levantei-me e fui em direção a minha casa. Este seria um longo dia.

#Miguel

Depois de levar Caio em casa, e me certificar de que ele iria comer assim que acordasse, fui andando até a minha casa e pensando um pouco na vida. Porém toda vez que começava a pensar vinha a imagem do Kaike na minha cabeça. Eu realmente estava pensando demais nele, será que isso seria um bom sinal ? Acho que não !

Mas ele parecia ser tão frágil. Toda vez que o via, desde a vez que o achei na rua, tinha um desejo de cuidar dele. Seus olhos sempre tímidos passavam uma profundidade na qual eu nunca vira antes. Como se dentro dele existisse alguém que precisasse de ajuda. Ou talvez eu esteja vendo seriados demais.

Virei a esquina e la estava minha casa, voltei meu olhar pra calçada e o vi. Ele estava vindo rápido, de cabeça baixa. Não parecia estar nada bem.

-Ei Kaike, tud...- Ele não me respondeu, simplesmente acelerou seu passo ao passar por mim. No mesmo instante a raiva me tomou por completo, porque ele tem que ser tão bipolar ?

-Puta merda, você e sempre bipolar desse jeito ?- Agarrei seu braço e o fiz virar-se pra mim. Sua cabeça continuava abaixada.

-Me deixe sair.- Sua voz estava embolada. Eles estava chorando ?

-Hey, oque aconteceu ? – Pus minha mão em seu queixo e levantei devagar sua cabeça, seus olhos castanhos estavam vermelhos. Seu rosto estava molhado por conta das lágrimas que caiam, e havia uma mancha roxa perto da altura de sua orelha esquerda.

-Nada Miguel, eu só preciso descansar. Por Favor me deixe ir.- As lágrimas se tornaram mais fortes conforme as palavras eram pronunciadas.

-Oque aconteceu Kaike ? Você tem uma mancha roxa ! Foi o Gabriel não foi ? - Eu sabia que ele faria algo. Foi uma questão de sorte e daí o Gabriel se aproveitou desse momento para intimidar o Kaike. – Não minta pra mim, eu vou descobrir de qualquer maneira !

- Sim, foi ele. Ele disse que vai fazer da minha  vida um inferno. – As lágrimas se intensificaram e ele veio ate mim, abraçando-me. Procurando refugio no meio da confusão na qual ele se encontrava. A sensação que tinha quando o abraçava era totalmente surreal. A paz na qual seus braços, seu rosto colado em meu peito. Eu não havia percebido que isso me fazia tão bem ate agora.

-Ei, já disse pra você relaxar. Eu não vou deixar ele te machucar.

-E quando você não estiver lá ? Como eu faço ? Você não tem obrigações comigo Miguel, você não é meu namorado nem nada. – Mesmo com todo aquele problema, ele ainda corou ao falar "namorado" na minha frente.

-Não interessa porra ! Já disse e pronto !

-Arg, você é ridículo sabia ?- ele falou ainda com os braços me minha volta.

-Eu sou ridículo ? Você acabou de falar que não sou seu namorado e ainda esta agarrado em mim. Isso sim é ser ridículo. – Ele se soltou no mesmo instante, seu rosto completamente vermelho.

-Me desculpe.

-Não tem porque se desculpar. Vamos entrar, tenho que cuidar de você. – Me virei para entrar e só depois vi o modo como aquelas palavras saíram, meu coração acelerou, seria possível ver meus batimentos pela camisa que eu usava ? Não dei importância, não queria deixar transparecer que aquilo havia mexido comigo. Subi o pequeno lance de escadas e abri a porta quando o vi ainda no portão.

-Você não vai entrar ? – Perguntei me virando para trás, ele estava tão nervoso quanto eu havia ficado. Ele olhava o chão, suas mãos presas aos bolsos do casado, a timidez e a vergonha nitidez em seu comportamento.

-Sim, vou entrar. – Seus olhos ainda não encontraram os meus, me virei e continuei na andar para dentro de casa.

Forget ForeverWhere stories live. Discover now