12ª dose

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Não sentir uma festa eletrônica no estômago é realmente ótimo.

Me levanto antes de Ítalo acordar e vou ao banheiro. Ainda estou me acostumando a ter um banheiro no quarto. Parece outra realidade. Enquanto escovo os meus dentes, viajando em meus pensamentos, olho para a minha pequena barriga, que parece mais um inchaço oval. Ninguém diria que estou grávida, mas saber que estou me deixa um pouco nervosa. Estou tentando me acostumar com a ideia. Cansei de ficar me sentindo mal. A realidade é essa e não há como mudar.

Estou quase conseguindo levar minha mão a minha barriga quando Ítalo chega perto de mim. Ele sorri ao ver minha blusa levantada, exibindo apenas parte da minha barriga, e comenta:

- Está crescendo! - diz ele, sorrindo.

Rapidamente, abaixo a blusa e toda a minha vontade de tocar em minha barriga some. Lembro a situação que estou e respiro fundo. Sei que Ítalo está tentando ser amigável, mas não é assim que as coisas funcionam. Não sei rir e olhar para ele dizendo algo sobre a minha barriga ou o bebê. Não consigo fingir que está tudo bem.

Fico em silêncio, terminando de escovar os dentes. Ítalo não insiste em puxar mais assunto, e sou grata por isso. Vou até o quarto, pego a escova de cabelo na minha mala, que permanece intocada. Apesar de ele me deixar a vontade para achar um lugar em seu armário, eu ainda não consegui arrumar minhas coisas. Sempre acho que vou voltar para casa, mas eu nunca consigo. Sinto falta do meu quarto sem banheiro, da minha bagunça, da minha mãe, do meu pai rabugento. Sinto falta até de coisas das quais achei que ficaria muito melhor sem, como a minha vizinha fofoqueira. Às vezes, até sinto falta das histórias absurdas que ela inventava para contar à minha mãe. Era bom rir das coisas sem sentido que ela falava. Minha mãe nunca acreditava em nada, nem mesmo quando ela mencionou Gabriel.

Estou sentada na cama, penteando o meu cabelo, enquanto Ítalo está no banheiro fazendo a barba. Ele fica melhor sem ela, mas não comento nada. Não quero que ele interprete errado meus sentimentos.

- Você está melhor?

Ele para e me olha. O barbeador ainda está ligado, mas ele não o está usando. Seus olhos estão fixos em mim, esperando por uma resposta. Eu o encaro e solto uma risada debochada. Não sei lidar muito bem com isso. Não é como se ele se importasse de verdade.

- Ai, ai, Ítalo - suspiro.

- Contei uma piada? - ele pergunta.

- Uhum, e é tão ridícula que chega a ser engraçada. Sua falsa preocupação não me comove! - respondo.

Ele balança a cabeça ao sair do banheiro.

- Não quero brigar.

Sinto a raiva percorrer todo o meu corpo. Ele me olha como se eu estivesse errada. Consigo ver nos olhos dele o julgamento. Mas eu não fiz nada.

- Eu também não quero, Ítalo - Respiro fundo para tentar manter a calma. - Eu não quero brigar, mas às vezes é necessário.

- Julia, é sério, eu não...

- Então apenas cale a boca e me escute. - Respiro fundo outra vez. - Não me olhe como se eu estivesse errada. Foi você quem me deixou aqui.

- Julia...

- Cala a boca! - o interrompo. - É a segunda vez que você me deixa sozinha em um momento em que deveria estar presente. É a segunda vez que você me larga por causa de futebol. Não! Não! Calma lá. - Faço uma pausa, levando dois dedos até a minha testa, pensando. - É a segunda vez que você larga... - Faço outra pausa, tentando reunir coragem para falar. - ...o nosso bebê por causa de futebol.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Where stories live. Discover now