13ª dose

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Enquanto esperava o pior, fui surpreendida pelo inesperado.

Assim que deu três horas da tarde, peguei o ônibus de volta para a casa de Ítalo. Passei pelo mercado próximo e comprei um saco de jujubas, meu doce preferido. Precisava de algo para manter minha boca ocupada e impedir que os xingamentos escapassem toda vez que o via. Ao entrar, encontrei Ítalo deitado no sofá, assistindo a um filme na televisão. Ele murmurou uma "boa tarde" enquanto eu seguia para a cozinha, procurando por Yara.

Já se passaram dois dias desde que despejei tudo o que sinto por ele. Passei a primeira noite na casa de Jessica e depois fui para a minha, para ficar perto dos meus pais. Eles pediram para eu voltar, mas há algo me prendendo aqui, como se, por algum passe de mágica, tudo fosse melhorar. Decidi conversar calmamente com Ítalo, se ele concordar. Não quero ter uma relação ruim com o pai do meu bebê.

Ítalo fala comigo algumas vezes enquanto arrumo o quarto, mas faço questão de evitar encará-lo e não me esforço para iniciar uma conversa. Gosto do silêncio da casa, aprecio quando Ítalo fica em silêncio e não me perturba. Minha coragem para conversar com ele parece ter desaparecido.

O dia passa rapidamente. Agradeço quando a noite chega e finalmente posso deitar e dormir.

Acordo cedo para tomar café e, logo em seguida, me encaminho para o banheiro do quarto de Ítalo. Começo a escovar meus dentes, tentando dar um jeito em meu cabelo.

— Bom dia! — ele diz com a voz rouca por ter acabado de acordar.

Enquanto observo minha barriga em frente ao espelho, depois de amarrar meu cabelo em um rabo-de-cavalo totalmente bagunçado devido à resistência dos meus cachos de colaborarem logo pela manhã, Ítalo tem a audácia de usar o banheiro ao meu lado.

Mantenho meus olhos fixos no espelho, evitando qualquer movimento, pois acabarei vendo mais do que quero. A presença de Ítalo naquele pequeno banheiro me causa uma sensação de constrangimento como se fosse a primeira vez que eu o visse sem aquela peça de roupa. Tento não olhar para o lado, mas falho quando vou reclamar.

— Você não tem vergonha? — questiono, virando o rosto rapidamente e deixando minha escova de cabelo na pia.

— Já viu tudo, ué.

Ele tem razão, mas mesmo assim é constrangedor. Mesmo eu querendo ver de novo, não imaginava que isso iria acontecer, tampouco que aconteceria assim, dessa forma tão intima. Tento imaginar o tamanho da falta de vergonha de Ítalo, mas me perco em meus pensamentos, me enrolando ao responder o que ele disse.

— Mas eu não lembro, então é como se eu não tivesse visto. Me respeita!

Logo que termino de dizer isso, sinto que falei a coisa errada. A pior coisa a se dizer quando Ítalo está com sua única peça de roupa abaixada. Ele ri da situação. Acho que ele gosta quando me sinto constrangida. Ele dá descarga e não faz nenhum movimento para puxar sua cueca para cima. Quando olho, ele está na minha frente com tudo à mostra.

— Agora você lembra?

O sorriso dele é incrível, mas eu o odeio. Tento ser discreta e falho ao olhar diretamente para o que ele segura. Parte de mim queria estar tocando o corpo dele, mas é Ítalo, e ele é o garoto que prometi nunca mais querer.

Eu me sentia presa em meus sentimentos conflitantes. Sabia que não deveria desejar Ítalo, mas, ao mesmo tempo, eu o queria. Para não correr o risco de deixar minha atração falar mais alto, saí correndo do banheiro e me comportei como uma criança, ao ir até a cozinha reclamar com Yara.

— Yara, briga com o seu neto, por favor!

— O que ele fez dessa vez? — ela diz, distraída enquanto faz café.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Where stories live. Discover now