20ª dose

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Todo caos já foi calmaria.

A semana foi bem calma. Nenhuma briga e Jessica veio me visitar. Ela me contou as novidades da escola e disse que algumas pessoas estão perguntando sobre mim e como está a minha gravidez. Outros dizem sentir saudades e um pequeno grupo de pessoas com quem eu costumava falar quer combinar de ir ao cinema. Confesso que gostei da ideia e me senti mais confortável em postar fotos na minha rede social. Não sei nem por que estava me sentindo estranha. Ítalo tirou uma foto da ultrassonografia no celular e postou no Facebook dele. Foi um tempo depois que eu fiz, quando descobrimos que vamos ter um menino. Para minha surpresa, ele me marcou. Não consegui acompanhar todos os comentários. Foram muitos.

Consegui um emprego nos fins de semana em uma casa de festas. Não é uma boate, bar ou algo do tipo, mas sim um local para festas de aniversário de todas as idades, alguns casamentos e outros eventos que contratarem. Minha função será supervisionar as crianças nos brinquedos ligando as máquinas dos carrinhos e qualquer outra atividade que surgir.

Não é algo ótimo, mas é bom para mim. O fato de me aceitarem mesmo grávida e ainda providenciarem uma cadeira próxima aos brinquedos caso minhas costas comecem a doer é um ponto positivo. Jessica tem um conhecido que trabalha lá há anos e tem bastante influência nas contratações, então foi simples conseguir o emprego para mim. Não há nenhum contrato formal, carteira assinada ou qualquer tipo de documentação, mas isso não me incomoda. Minhas opções são limitadas e eles pagam direitinho. Sei que ficarei lá por pouco tempo, mas é bom ter algo para me distrair. Ao final do dia, me sinto menos estressada.

Sempre algumas crianças vêm até mim, colocando as mãos na minha barriga e fazendo várias perguntas. Às vezes, o bebê parece responder à conversa delas, o que as leva a correr gritando para chamar os pais e contar o que aconteceu. Alguns pais são simpáticos e se aproximam para conversar comigo, enquanto outros parecem não se importar com o que seus filhos estão dizendo.

No primeiro fim de semana que trabalhei, conheci uma menina de dezesseis anos chamada Rita. Ela é loirinha e tem bochechas grandes, além de ser um poço de timidez. Estava tão alheia a tudo o que acontecia que preferiu passar a festa inteira ao meu lado conversando. Gostei dela. Trocamos contatos no WhatsApp e começamos uma amizade. Realmente estava precisando sair de casa.

Jessica ia ser contratada, mas resolveu não aceitar. Aos sábados, ela vai para o pré-vestibular e a escola tem corrido bastante com as matérias do último ano. Ela me deu umas quinze desculpas dizendo por que não iria aceitar, mas sei que a principal é que ela queria passar essa oportunidade para mim. Tenho reclamado um pouco da falta de dinheiro para comprar roupas para o bebê e passo mais tempo do que gostaria nos sites de vagas, mas ninguém me contrataria com esse barrigão, então ela me indicou. Hesitei um pouco em aceitar. Não achava justo, mas ela insistiu. A casa de festas é dos pais de uma nova amiga que ela conheceu em suas idas ao teatro. Jessica adora assistir peças mais do que tudo. Fui diversas vezes, mesmo odiando várias, mas sempre estava lá com ela. Pensar nisso só me faz lembrar que agora mal saio de casa. Minha vida mudou muito.

— Julia?

Estou sentada, observando as crianças brincarem em uma piscina de bolinhas quando ouço o meu nome. Reconheço imediatamente essa voz. Já sei quem me chama antes mesmo de olhar.

— Bernardo! — Me levanto e o abraço. — O que você faz aqui?

— Eu trabalho aqui. Sou meio que um faz-tudo: garçom, animador e, às vezes, até salvo a festa comprando velas que alguém esqueceu. Acredita que alguém esquece as velas?

— Uau, que surpresa!

Rimos e ficamos conversando por uns dois minutos até alguém chamar o nome dele. Ele está bonito. A camisa do uniforme ficou bem ajustada nele, ao contrário da minha, que mesmo com a barriga grande, ficou maior do que o meu corpo. É quase inacreditável uma coincidência dessas. Com tantas pessoas no mundo, Bernardo trabalha junto comigo.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Where stories live. Discover now